A semana do Flamengo começou com protestos, manifestados em pichações nos muros do CT Ninho do Urubu e da sede da Gávea, após a derrota por 2 a 1 para o Atlético-MG. Os principais alvos da ira rubro-negra foram o vice-presidente de relações externas, Luiz Eduardo Batista (o BAP), e o técnico Abel Braga. A última motivação para o descontentamento em relação à temporada foi o resultado de sábado (18) contra o Galo, pela quinta rodada do Brasileirão, em jogo fora de casa no qual os cariocas atuaram 45 minutos com um jogador a mais no gramado do estádio Independência.
Segundo apuração da repórter Raisa Simplício para a Goal Brasil, os dirigentes que comandam o Rubro-Negro acreditam que as pichações tiveram cunho político. De qualquer forma, não tem como negar que o trabalho de Abel Braga tem sido muito contestado desde que o técnico assumiu a equipe nesta temporada 2019. Mesmo levando em consideração não apenas o título carioca, conquistado sem muita dificuldade, mas também a classificação para as oitavas de final da Libertadores e o fato de ter o terceiro melhor aproveitamento (66.7%) na temporada – inferior apenas aos de Palmeiras, Cruzeiro e Goiás.
Abel Braga não vive uma situação nova, afinal de contas, a cultura que impera no futebol brasileiro não costuma ser paciente com os treinadores. E no clube com a maior torcida do país, a pressão é proporcional ao tamanho da massa que segue o Rubro-Negro Brasil afora. O próprio Abel sentiu isso em 2004, em sua primeira passagem pela Gávea. Levando em consideração cinco fatores listados nesta matéria, importantes para dar segurança ao trabalho de um técnico, o carioca nascido em 1952 cumpre apenas com um. Curiosamente, o mais importante de todos. Mas a ausência nos demais explica um pouco sobre como a situação de Abelão no Fla é assunto constante entre torcedores, nas redes sociais e canais de TV.
Resultados, o trunfo de Abel
Flamengo comemora título da Taça Rio 2019 após superar o VascoJogadores homenageiam Abel durante a conquista estadual (Foto: Marcelo Cortes/Flamengo)
Apesar de ter uma equipe que constantemente sofre gols, o Flamengo de Abel entra em campo ciente do poderio de seu ataque: foram 53 tentos em 29 duelos, média de 1.83 por jogo. Soma 17 vitórias, se colocando no Top 3 das equipes que mais venceram nesta temporada.
| Clubes | Aproveitamento em 2019 | Jogos | Vitórias |
|---|---|---|---|
| Palmeiras | 72.8% | 27 | 17 |
| Cruzeiro | 71.4% | 28 | 18 |
| Goiás | 70.7% | 25 | 17 |
| Flamengo | 66.7% | 29 | 17 |
| Inter | 66.7% | 28 | 17 |
O principal trunfo do trabalho feito até aqui está no resultado bruto: o Flamengo cumpriu com a obrigação de conquistar o estadual e, apesar dos sustos, garantiu classificação para as oitavas de final da Libertadores da América. Os dois primeiros objetivos da temporada foram atingidos. E não há argumento mais forte para se manter um trabalho no Brasil do que o fator resultado.
Desempenho, onde as críticas fazem sentido
CR Flamengo(Foto: Alexandre Vidal/CR Flamengo)
Só que o Flamengo não joga um futebol agradável com a constância que se espera de um dos elencos mais ricos e com boas opções. A impressão é que os resultados chegaram muito mais pelo brilho individual, um lampejo ou uma jogada, do que pela estrutura da equipe em si.
Expectativas na altura dos investimentos
CR FlamengoGabigol e Arrascaeta, dois dos principais reforços para 2019 (Foto:Alexandre Vidal/CR Flamengo)
Esta avaliação é validada por todo o investimento feito em contratações para 2019: o Flamengo contratou nomes de destaque no cenário nacional, como Bruno Henrique, Gabigol (por empréstimo) e Giorgian De Arrascaeta, que deixou o Cruzeiro para chegar ao Rio de Janeiro com o carimbo de maior contratação na história do Rubro-Negro. Tendo à sua disposição alguns dos maiores atletas do futebol jogador por aqui, esperava-se uma equipe que não encontrasse tanta dificuldade para vencer e, acima de tudo, jogasse o futebol ofensivo entranhado no DNA do clube. O Flamengo de Abel é pragmático.
Identificação baixa com a torcida
Fluminense/Divulgação(Foto: Lucas Merçon/Fluminense/Divulgação)
Além disso, falta identificação entre técnico e torcida. Até mesmo por causa da passagem anterior do comandante pela Gávea, em 2004, marcada pelo vice na Copa do Brasil com derrota histórica na decisão realizada contra o Santo André. Declarações feitas por Abel Braga, dizendo que o estádio Beira-Rio, por exemplo, é mais bonito do que o Maracanã não lhe ajudaram (o técnico também tem história vitoriosa no Internacional), assim como dizer que algumas derrotas são "resultado normal".
Redes sociais
Um dos outros pontos, presentes quase a cada vez em que o Flamengo entrou em campo nesta temporada, são as manifestações de torcedores na internet. A hashtag “#ForaAbel” quase se tornou um clássico em dias de jogos do Rubro-Negro, e a insatisfação dos internautas chegou a um ponto de pedirem a demissão de Renato Gaúcho no Grêmio só para o verem no Fla. A questão é que os pedidos são mais presentes na grande rede do que dentro dos estádios, onde geralmente o torcedor tem ido para apoiar quase que irrestritamente a equipe – sem ecoar tanto a campanha que surgiu nas redes sociais.
Os antecessores de Abelão
(Foto: Flamengo/Divulgação)
Evidente que ser treinador do Flamengo não deve ser tarefa fácil. Raramente o comandante teve muita tranquilidade para fazer o seu trabalho. E em diferentes momentos poucos deles dominaram os cinco pontos aqui listados. Zé Ricardo e Barbieri, por exemplo, foram alçados em meio a baixas expectativas iniciais. Caíram quando elas aumentaram e os resultados positivos diminuíram. Dorival Júnior, em sua última passagem, também chegou com baixa expectativa e fez um trabalho bom o bastante para que muitos quisessem a sua permanência. Em determinado momento, todos eles tiveram um período de calmaria em que contavam com admiração dos torcedores. Isso ainda não aconteceu com o atual treinador.
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Talvez os últimos dois comandantes que contaram com uma boa vontade maior do torcedor tenham sido Muricy Ramalho e Reinaldo Rueda, que chegaram com o respaldo do currículo mas não completaram, por razões diferentes, o projeto que havia sido desenhado (o primeiro teve que se aposentar por razões de saúde e mal contabilizou jogos, o segundo optou por deixar o clube após o final da temporada 2017). Abel também tem currículo. E hoje tem os resultados, mas o desempenho do time em 2019 não garante que eles serão tão constantes quanto o investimento e a expectativa.
