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GFX Chelsea treinadores

Felipão, Conte... Chelsea tem vestiário ‘tóxico’ para treinadores?

Neste século, nenhum dos clubes inseridos no chamado Top 6 da Inglaterra* trocou mais de técnicos do que o Chelsea. Os Blues já tiveram 13 comandantes, e a pressão para que venha um 14º é cada vez maior dentro do Stamford Bridge. Isso porque o italiano Maurizio Sarri, contratado para o lugar do muito desgastado Antonio Conte, está na corda bamba por causa dos péssimos resultados e faz aumentar a fama de máquina de moer treinadores dos azuis de Londres.

Embora a troca de técnicos seja algo mais raro na Europa do que é no Brasil, o Chelsea não está sozinho na ala das potências esportivas com pouca paciência em relação aos seus comandantes. Tomemos como exemplo o Real Madrid, atual tricampeão europeu, que soma 16 trocas desde o início do Século XXI. Mas a fama dos Blues foi construída de uma forma que chamou os holofotes mais fortes para si, muitas vezes por causa de um vestiário, um determinado grupo de jogadores, considerados ‘tóxicos’ para alguns treinadores dependendo da situação.

Os dois casos mais famosos envolveram profissionais cujo idioma nativo é a língua portuguesa. Luiz Felipe Scolari chegou ao Stamford Bridge em 2008 com a fama de ser um dos maiores técnicos do mundo naquele momento. Os ingleses ainda tinham a lembrança fresca do título mundial de 2002, pelo Brasil, e as excelentes campanhas pela seleção portuguesa na Euro 2004 e na Copa do Mundo realizada dois anos depois. No Chelsea, foi uma decepção e teve entreveros com algumas das estrelas do time. Caso semelhante ao de André Villas-Boas, que em 2011 foi anunciado como se fosse um José Mourinho mais evoluído. O português também fracassou em resultados e na administração do grupo.

Vestiário Chelsea 22 02 2019Vestiário "tóxico"? (Foto: Getty Images)
TreinadorChegadaSaída
Claudio Ranieriset/00jun/04
José Mourinhojul/04set/07
Avram Grantset/07mai/08
Scolarijul/08fev/09
Guus Hidiinkfev/09jun/09
Ancelottijul/07jun/11
Villas-Boasjul/11mar/12
Di Matteomar/12nov/12
Beníteznov/12jun/13
José Mourinhojul/13dez/15
Guus Hidiinkdez/15jun/16
Contejul/16jul/18
Sarrijul/18 
Treinadores do Chelsea no Século XXI

Zagueiro contratado em 2007, no final da primeira passagem de Mourinho pelo time, Alex viveu de perto todos esses momentos. Em entrevista para a Goal Brasil, o ex-zagueiro reconheceu que o Chelsea fez por merecer este rótulo de ‘vestiário tóxico’ para treinadores, embora acredite que seja algo comum no futebol de modo geral.

“Na minha época era sim. Vi muitas confusões deste tipo, principalmente quando o treinador não era querido”, disse. “Muita gente torcia para que não desse certo e ele acabava saindo. Acho que isso acontece em vários outros clubes, acho muito normal no futebol. E o Chelsea ficou muito famoso principalmente com aquele episódio com o Scolari, pessoas dizendo que o Drogba tinha se reunido com o Abramovich. Acho que acontece em todos os clubes, pra mim não vejo muita diferença nisso. O jogador torce mesmo para que algum treinador caia”.


SCOLARI: IDIOMA E TREINOS


Drogba Scolari Chelsea 22 02 2019Getty ImagesDrogba, o 'senador' que não abraçou Felipão (Foto: Getty Images)

A passagem de Felipão por Londres ficou, de fato, marcada por desavenças especialmente com o atacante Didier Drogba, um dos maiores ídolos na história do clube. O brasileiro foi anunciado e trouxe consigo dois reforços conhecidos, o meia luso-brasileiro Deco e o volante Mineiro. O elenco também tinha em Belletti e Alex outros brasucas de importância. Mas ainda que não conseguisse passar todo o seu conhecimento através do inglês, não foi somente o idioma que atrapalhou o rápido período de Scolari no clube.

Os resultados foram animadores apenas contra as equipes mais frágeis. Bastava enfrentar um rival à altura, que a coisa desandava. Aquele Chelsea somou duas derrotas para o Liverpool, além de revezes contra Arsenal e Manchester United. O ambiente, que não era dos melhores pela insatisfação especialmente com os treinos dados pelo brasileiro, acabou por ficar insustentável: “Ele não falava bem o inglês, tinha também o Murtosa que não falava bem o inglês. Essa foi uma das questões”, lembra Alex. “Uma outra questão foram os treinamentos. Os jogadores reclamavam muito, dentro dos vestiário, nos treinamentos e nos próprios jogos que queriam mais contato com a bola. Isso aí eu via uma certa insatisfação dos jogadores com ele. E chegou uma época em que os resultados não vinham, e aí começam a falar dos defeitos”.

GFX Alex Scolari

Quando foi demitido, em fevereiro de 2009, oito meses após o seu anúncio, o time de Felipão ocupava a quarta posição na Premier League e havia se classificado a duras penas para as oitavas de final da Champions League. Após a sua saída, o holandês Guus Hiddink ocupou o cargo temporariamente antes da chegada de Carlo Ancelotti. Foram dois casos raros de tranquilidade em meio a um dos grupos mais estrelados do futebol naquela época.


VILLAS-BOAS E A TEMPORADA BIPOLAR


Lampard  Vilas-Boas Chelsea 22 02 2019Villas-Boas colocou Lampard no banco... e perdeu o grupo de vez (Foto: Getty Images)

O português André Villas-Boas chegou ao Chelsea, na temporada 2011-12, e era impossível não o comparar a José Mourinho. Não apenas pela nacionalidade, mas pelo sucesso que teve anteriormente no comando do FC Porto. Poucos meses antes, o time treinado por Villas-Boas conquistou o Campeonato Português e também a Europa League. O clima de ‘reboot’ era recheado de otimismo, até mesmo por causa do grande conhecimento que o jovem de 34 anos tinha na época.

“Particularmente eu gostava muito dos treinamentos dele, ele conseguia mexer com o jogador”, diz Alex, que meses mais tarde, pouco antes de Villas-Boas ser demitido, foi afastado do clube e transferiu-se para o Paris Saint-Germain na janela de transferências de janeiro. “Nós perdemos um jogo e ele não gostou, nos chamou (Alex e Anelka) no dia seguinte e sem dar nenhuma explicação falou que a partir daquele dia a gente passaria a treinar com o time sub-20 do Chelsea. A gente não criou confusão, e ele nem deixou a gente entrar no vestiário para pegarmos as nossas coisas”.

GFX Alex Villas-Boas

“Acho que a inexperiência e a juventude ainda do Villas Boas atrapalharam ele muito no Chelsea. Só que, em algumas ocasiões, na minha opinião ele foi muito arrogante e acabou errando, principalmente quando tira grandes jogadores, coloca no banco e não conversa. Ele fez isso com o Lampard. O que reclamavam dele era isso, ele não falava muito com os jogadores e você colocar um jogador como o Lampard no banco... não é que você tem que dar satisfação, mas aprendi com o Ancelotti e com o Gus Hiddink que você vai lá, senta, procura entender um pouco o lado do jogador. E ele não fez isso”, explicou o brasileiro.

Di Matteo Chelsea Champions League 19052012Getty ImagesDe assistente a interino... e a técnico campeão da Champions. Di Matteo foi 'abraçado' pelo elenco  (Foto: Getty Images)

A grande curiosidade é que após a demissão do português, o elenco do Chelsea se uniu. John Terry, Drogba e Lampard, os chamados “senadores” do grupo, deram todo tipo de apoio para Roberto Di Matteo, ex-jogador do clube e que assumiu o cargo depois de ter sido auxiliar de Villas-Boas. No final das contas, conquistaram a tão sonhada Champions League naquela temporada pra lá de turbulenta.


JOSÉ MOURINHO, MENOS ESPECIAL


Apesar de ter conquistado a Champions League com Di Matteo e, no ano seguinte, a Europa League sob o comando do espanhol Rafael Benítez, apenas um homem em 2013 parecia ser capaz de ganhar todos os jogadores: José Mourinho, o ‘Special One’ que havia feito história anos antes.  O português retornou ao Stamford Bridge para lamber as feridas de sua estadia conturbada no Real Madrid, e em um elenco com uma configuração bem diferente – sem Drogba e com Lampard nos últimos momentos de azul – conseguiu permanecer no cargo mesmo sem levantar títulos no primeiro ano.

Em sua segunda temporada, conquistou a Premier League de forma inquestionável e tudo parecia estar perfeito. No entanto, o ano seguinte foi de brigas e péssimos resultados. O relacionamento de Mourinho com o vestiário, que tinha apenas John Terry dos antigos “senadores” deteriorou-se até que o luso foi demitido com o campeão vigente ocupando a 16ª posição – a um ponto da zona de rebaixamento.

“Eu cheguei em 2007 e aquele grupo eu posso falar que aceitavam muito bem (o Mourinho). E o que parece é que hoje os jogadores não aceitam. Nos últimos trabalhos ele sempre saiu brigado com alguém, principalmente com as grandes estrelas”, lembrou Alex, que é só elogios ao português.

Mourinho Alex Chelsea 22 02 2019Getty ImagesAlex não poupa elogios a Mourinho... em sua primeira passagem (Foto: Getty Images)

“Com o Mourinho eu me surpreendi. Eu tinha esse pensamento, que a gente via pelas imagens um cara super arrogante, com o ego lá em cima, e o que eu vi foi outra coisa. Trabalhei com ele por apenas três meses no Chelsea e o Mourinho, todos os dias, sentava comigo e com meu pai na hora do almoço e conversava bastante com a gente. Uma pessoa e um treinador que eu gostei muito. Claro que ele tem o jeito dele de buscar tirar o melhor do jogador, e muitas vezes algumas pessoas não concordam. É machucando, pegando pesado com alguns jogadores... eu vi o Shevchenko sofrer um pouco com isso no Chelsea. Ele colocava muita pressão no Shevchenko e tem alguns jogadores que não conseguem trabalhar muito com isso, mas para mim é uma pessoa e treinador fantástico”.


ANTONIO CONTE, ENTRE ALTOS E BAIXOS


Antonio Conte-Diego Costa collageGetty-GoalDiego Costa deixou o Chelsea por causa de Conte (Fotos: Getty Images)

O roteiro escrito por Mourinho em sua última passagem foi bem parecido ao de seu sucessor, o italiano Antonio Conte. A sua primeira temporada foi às mil maravilhas, terminando com título da Premier League. O problema foi o ano seguinte, marcado por brigas com praticamente todo o elenco. As rusgas levaram o atacante Diego Costa a pedir para deixar o clube e quase que o mesmo aconteceu com Willian. David Luiz, atual queridinho de Sarri, sequer entrava em campo e a situação estava insustentável até a demissão de Conte.


SARRI, ABSOLUTAMENTE UMA NOVA REALIDADE


Maurizio Sarri Chelsea 2018-19Getty ImagesMudança total e torcida insatisfeita (Foto: Getty Images)

Quando mandou Conte embora, o Chelsea quis uma revolução. Sem conseguir a classificação para a Champions League pela segunda vez desde a era Roman Abramovich, e vendo um Manchester City espetacular sendo campeão sob o comando de Pep Guardiola, a solução foi buscar na Itália um treinador para mudar o DNA moderno dos Blues, marcado pelo pragmatismo no modelo de jogo.

Maurizio Sarri deixou o Napoli para fazer do Chelsea um time com domínio da posse de bola, envolvente e efetivo. Trouxe consigo o ítalo-brasileiro Jorginho para ser o maestro na distribuição dos passes a partir do campo defensivo e conseguiu excelentes resultados logo de cara. Venceu, inclusive, o Manchester City por 2 a 0. Mas depois as coisas desandaram: erros defensivos, cobrança em relação aos jogadores e derrotas históricas. Especialmente os 4 a 0 contra o Bournemouth e os 6 a 0 sofridos justamente contra o City, no revés mais elástico sofrido pelos Blues desde 1991.

Entretanto, ao contrário do que houve na maioria dos casos citados acima, o elenco parece ter uma relação boa com o italiano. O problema maior, além dos resultados, tem sido a pressão da torcida. Desde a rápida passagem de Rafa Benítez, visto como rival por causa do seu período no Liverpool, um treinador não é tão odiado pelos torcedores. Nos minutos finais da derrota por 2 a 0 para o Manchester United, que eliminou os Blues da FA Cup, a torcida chegou a gritar algo parecido com “que se f*da o Sarri-ball”, fazendo referência ao estilo da equipe jogar.

Sarri, por outro lado, também tem a sua dose de culpa: a teimosia absoluta para não adaptar-se um pouco mais ao seu grupo de jogadores, a insistência ao manter N’Golo Kanté fora de onde o francês melhor rendeu nos últimos anos e até mesmo declarações fortes, questionando o ânimo e entendimento de seus jogadores. E aí está a maior curiosidade: mesmo assim o atual elenco do Chelsea não parece querer ‘fritar’ o treinador. Talvez algo esteja mudando no vestiário do Stamford Bridge... mas se os resultados não chegarem, de nada pode servir para evitar que mais um treinador seja despedido dos Blues.

“Eu acreditava muito no Sarri, porque eu peguei o Napoli que ele montou (quando estava no Milan), joguei algumas vezes contra e realmente era muito difícil. Pelo que o que acontece no Chelsea, ele tem que se recuperar o mais rápido possível. Senão eu acho que se perder.... ali é difícil, o Abramovich não tem muita paciência e vem depois dessa goleada. As coisas ficaram muito ruins para o treinador. Eu acho muito difícil. Ele vai ter que conseguir se recuperar rápido e conseguir resultados bons”, finalizou o agora torcedor Alex.


* Manchester United, Liverpool, Arsenal, Chelsea, Manchester City, Tottenham.
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