Fábio treina pelo Cruzeiro 2021Bruno Haddad/Cruzeiro

Fábio no Cruzeiro e mais: como os ídolos se despediram de seus clubes no Brasil?

O divórcio entre Cruzeiro e Fábio traz o roteiro que é visto na maior parte das rupturas de grandes casos de amor: os protagonistas de cada lado não se entendem e dão justificativas distintas para justificarem a separação, enquanto os filhos (que neste exemplo futebolístico são os torcedores) se revoltam em meio às suas muitas dúvidas tendo em mente uma única certeza: a de que seguirão, no final das contas, amando os dois.

Acontece na vida, acontece também na relação que o futebol constrói. Ver um grande ídolo colocar um ponto final na sua história com seu clube, ou ver o clube fazer isso com o seu ídolo, sempre é visto como algo chocante. Um tremor naquela normalidade que parecia imutável mas não é. No mundo da bola, são raríssimos os casos de um desfecho deste tipo em que atleta e instituição entraram em um acordo tranquilo para colocarem, juntos, o ponto final.

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No chamado futebol moderno, uma rápida reflexão nos leva a três grandes exemplos recentes: as saídas de Cristiano Ronaldo do Real Madrid, de Gianluigi Buffon da Juventus e de Messi do Barcelona. Cada uma delas teve seu contexto e suas diferenças, mas apenas a de Buffon não gerou grandes traumas: o italiano, afinal de contas, já estava com 43 anos e não era mais titular absoluto de seu time. A despedida, jogando a final da Coppa Italia conquistada 2021, soou como desfecho dos sonhos para honrar a parceria.

Aqui no Brasil o histórico também mostra a dificuldade que é para encaminhar uma ruptura tão grande, dessas que envolvem ídolos e seus clubes.

Jadson e Ralf foram notificados, no início de 2020, que não seguiriam no Corinthians e a notícia também movimentou fortes emoções na torcida corintiana e nos ídolos: "Acho que eu e Ralf não merecíamos ter saído dessa maneira, mas a vida segue. Foram cinco anos maravilhosos que eu passei no Corinthians, tenho a gratidão e carinho dos torcedores até hoje. O que passou passou e não tem como voltar atrás", relembrou Jadson ao programa Os Donos da Bola, na Band.

Em 2021 o Grêmio optou por rescindir o contrato do volante Maicon, após sete anos e títulos históricos – como a Copa do Brasil de 2016 e a Libertadores de 2017. A forma como o negócio foi conduzido pelo Tricolor Gaúcho até hoje não foi digerido pelo meio-campista: “foi pesado”, afirmou ao podcast Célula de Sucesso.

No lado vermelho do Rio Grande do Sul, D’Alessandro já voltou e saiu do Internacional e, agora aos 40 anos, uma terceira passagem pelo Colorado segue sendo ventilada. E vale destacar: quando deixou o Beira-Rio pela primeira vez, em 2016, saiu brigado com a diretoria do clube gaúcho. A segunda despedida teve tom mais ameno, com juras de amor e cordialidades e a tendência é que uma eventual terceira também o seja, mas fato é que esta história ainda não terminou. A situação do argentino guarda similaridades com a de Fred e Fluminense, que se reuniram em 2020 após um divórcio traumático temporadas antes.

Tempos atrás ainda tivemos outras despedidas marcantes e, muitas vezes traumáticas. Jogador com mais partidas de Brasileirão pelo Flamengo, Léo Moura deixou o Rubro-Negro em 2015 mas anos depois não escondeu a mágoa pela forma que aconteceu todo o processo. Em 2008 Edmundo e Vasco se uniram em lágrimas quando o último jogo da carreira do atacante acabou sendo também o que decretou o primeiro rebaixamento do Cruzmaltino à Série B.

Fábio e Cruzeiro são exceção quando o assunto é goleiro

Repare nos exemplos acima e você verá algo em comum: estamos falando de laterais, meio-campistas, meias e atacantes. Quando o assunto é goleiro, a curiosidade é que os últimos anos aqui no Brasil mostram um fim de ciclo marcado por acertos mútuos e homenagens.

Em 2015 Rogério Ceni se aposentou do futebol profissional, após mais de mil jogos pelo São Paulo, em um jogo festivo perante seus torcedores em uma das maiores apoteoses feitas ao último ato de um ídolo por seu clube. Anos antes, em 2012, Marcos também pendurou as luvas em harmonia com o Palmeiras.

Terceiro jogador com mais partidas pelo Botafogo, ficando atrás apenas de Nilton Santos e Garrincha, Jefferson também finalizou sua carreira em harmonia com o clube que amou. Em 2018, fez a torcida alvinegra comparecer em peso ao Estádio Nilton Santos em plena segunda-feira em um jogo contra o Paraná, pela penúltima rodada de um Brasileirão que não reservava mais grandes objetivos ao clube. Usou uma camisa especial e deu uma volta olímpica no estádio, abraçado pelos torcedores.

Maior goleiro da história do Atlético-MG, Victor pendurou as luvas no início de 2021. Chegou a sofrer com lesões nos últimos anos de sua carreira e, assim como Jefferson no Botafogo, já não era mais titular no clube que definiu sua carreira. Ainda assim, ficou no Atlético-MG até o final e segue lá até hoje, agora ocupando um cargo na direção de futebol do Galo.

A ruptura entre Fábio e Cruzeiro é uma exceção sob estes termos, já que os goleiros-ídolos mais recentes conseguiram se aposentar de maneira harmoniosa em seus clubes. Mas está longe de ser um caso único de levantar desentendimentos no futebol. O pior para o cruzeirense não é a penas se despedir do ídolo, mas sim o acúmulo de notícias pesadas nos últimos anos.

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