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Danilo encara desigualdades para afastar alienação: “O mundo não se resume a futebol”

Danilo, da Juventus e da seleção brasileira, se posicionou de forma contundente depois da Copa América deste ano, no Brasil, para pedir reflexão. O lateral tocou em pontos sensíveis como a relação entre torcedores, jogadores e imprensa em uma autocrítica geral, disse ser contrário à realização do torneio no país em meio à pandemia de Covid-19, falou em assumir responsabilidades sociais e estar mais próximo ao povo (relembre na íntegra abaixo no Instagram do jogador).

Em entrevista exclusiva para a Goal, Danilo contou os bastidores daquele posicionamento, escrito antes da final vencida pela Argentina contra o Brasil por 1 a 0, no Maracanã, e descartou ser um "alienado do futebol". "A partir do momento em que as pessoas enxerguem que têm atletas sérios, que enxergam tudo numa globalidade, que não pensam só no próprio umbigo, pode atentar para as pessoas serem mais empáticas e melhorar para todo mundo".

O lateral deve ser titular do duelo contra a Argentina nesta terça.

Veja abaixo a íntegra da resposta de Danilo para Goal:

"Esse é um assunto bem sério, bem delicado de ser tratado porque toca em muitos pontos. No que diz respeito à saúde pública, integração dos seres humanos, empatia, entender passado, presente e futuro. Assunto muito complexo. Esse texto tenho muita serenidade e tranquilidade bacana de falar porque escrevi antes da final. O texto foi feito antes da final. Por que? Porque o resultado daquela Copa América não mudaria minha opinião enquanto pessoa e ser humano sobre a competição. Não mudaria a minha opinião sobre o que deveria ser feito em relação à atleta-imprensa-torcedor, e não mudaria o que tinha sido nosso trabalho enquanto seleção brasileira. Essas três coisas independentemente do resultado da final não mudariam e não mudaram. Meu pensamento era o mesmo.

Depois da final falei numa entrevista: uma coisa era o jogo, a final, e esse tem de ser analisado de forma singular, porque analisamos cada jogo de forma singular: perdeu, ganhou ou empatou. É assim que funciona, porque essa é a forma de crescimento de cada equipe. Agora todo o trajeto o jogo singular não pode apagar o trajeto e não apaga. É assim que funciona. Qualquer um pode falar o que quiser, mas não apaga.

Escrevi tudo antes da final. O resultado da final não mudaria minha opinião e a vontade de me expressar daquela maneira. Tento não me fechar no mundo do futebol, apesar de ser muito apaixonado, ter quadro tático, dá bobeira eu tô desenhando esquema tático do nosso time. Acho muito bacana. Mas sou um cara que tento não me fechar no mundo do futebol. Esse por exemplo (exibe o livro Nu, de Botas, de Antônio Prata) o Charlinho, nosso fisioterapeuta, me trouxe de presente. Meu tempo de concentração estou lendo, escutando podcast, vendo coisa maneira. Não o tempo todo. Eu também vejo série na Netflix, também fico no Instagram, falo com amigos, mas tento não passar o tempo todo só com isso. Tento me informar, saber um pouco de tudo, de outras coisas, porque acho importante e sempre achei bacana. Sempre foi meu objetivo ser reconhecido não só por ser jogador de futebol, ainda que seja algo que me orgulhe muito. Uma coisa que me entristece é que muitas vezes vocês (imprensa) falam que o Danilo é exceção. Então a exceção só confirma a regra.

Eu procuro ser espelho e exemplo para novas gerações de jogadores, de atletas que estão se formando, de pensar de uma maneira mais generalizada. Dar valor ao que realmente importa. Seja no futebol: teoria, estruturação do jogo, sistemas. Seja na vida: tudo o que tem a ver com a realidade de cada pessoa, ser humano, as desigualdades. Temas que estão aí e são muito debatidos hoje: racismo, feminismo, masculinidade, saúde mental. São coisas que procuro aprender, mergulhar mesmo para não ser um alienado que só pensa em futebol, porque o mundo não se resume a isso.

Então nesse texto consegui expor tudo o que pensava e já tinha dentro de mim de falar há algum tempo. Esperei passar a Copa América, porque queria me pronunciar não como um jogador da seleção brasileira que estava na seleção, mas queria me pronunciar eu, Danilo, atleta, que também joga na seleção brasileira, mas que tem o direito de me expressar como achar necessário.

Acho que falta um pouco nesse momento que vivemos entrar no debate não pra vencer, mas pra aprender. Certamente se eu for debater com você qualquer assunto você vai saber algumas coisas mais do que eu, eu vou saber mais outras do que você. Não tem que ser você ou eu ganhar. Tem de ser algo que no final os dois saiam ganhando, porque vai agregar opinião e conhecimento.

Temos de seguir por esse caminho: tentar ser uma sociedade futebolística mais empática, unida em todas essas linhas atleta, torcedor e imprensa. Todos que fazem parte do futebol, tentar ser um pouco mais unido. Ter, sim, debates, os debates são importantes. As opiniões divergentes são importantes, mas que seja por crescimento. Não para entrar em debates e impor a minha opinião e fazer o outro engolir goela abaixo, e pronto e acabou. Não é assim que funciona, não é assim na sociedade, em qualquer área e no futebol não tem de ser assim.

Resumindo, falei um pouco demais. Quando acabei o texto... tenho um irmão, o Douglas, de 21 anos, estuda na faculdade do Porto. Ele é mais rebelde do que eu com desigualdades, com coisas que não estamos muito de acordo. Pensamos igual, mas ele é mais rebelde e eu mais comedido. Mandei para ele e falei: 'Mano, isso tá no meu coração, é o que tenho pensado'. Porque aí ele me puxa mais pra ser rebelde, e eu puxo ele pra ser mais tranquilo, pra ter esse balanço. Pedi opinião dele. Sou muito próximo dos meus irmãos. Ele falou: 'Mano, você sabe muito bem, está no meio e entende muito bem, tem de expressar o que você pensa...

É difícil falar só sem ter atos, é uma coisa que... você precisa falar e ter atos, mas a partir do momento que as pessoas enxerguem que aqui dentro (seleção brasileira) têm atletas sérios, que enxergam tudo numa globalidade, que não pensam só no próprio umbigo, acho que também pode atentar para as pessoas serem mais empáticas e a partir daí melhorar para todo mundo".

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