Philippe Coutinho não é uma pessoa de personalidade polêmica. Muito pelo contrário. Mas poucos nomes do futebol mundial, especialmente entre os atletas brasileiros, levantaram tantas críticas nos últimos anos. A principal delas vinha sendo focada tanto no desempenho abaixo do esperado com as camisas de Barcelona, Bayern e seleção brasileira, quanto na ausência de um caráter decisivo para resolver jogos naqueles momentos em que sua equipe enfrenta grandes dificuldades. Nesta metade final de 2020, contudo, Coutinho começa a ensaiar uma melhora.
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Na estreia da seleção brasileira nas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2022, por exemplo, o camisa 11 de Tite foi um dos vários destaques no 5 a 0 sobre uma Bolívia extremamente frágil: teve boa movimentação e entendimento, especialmente com seus companheiros de ataque, participou das jogadas de construção, arriscou bons passes na busca pelo gol e, além de ter participado diretamente no lance do 4 a 0 – cruzando a bola que Rodrygo cabeceou no lance de um gol contra dos bolivianos –, aproveitou assistência de Neymar para estufar as redes e decretar o placar final.
A boa exibição com o Brasil, ainda que contra um adversário muito frágil, vem na esteira de atuações interessantes neste seu retorno ao Barcelona. Coutinho, vale lembrar, era carta fora do baralho no Camp Nou (apesar de ser a contratação mais cara da história do clube). Foi emprestado ao Bayern na última temporada, mas não teve o impacto, o protagonismo, esperado para fazer os alemães o contratarem em definitivo: foi uma opção muito boa para os campeões europeus e só. Voltou a um Barça que vive a sua maior crise institucional neste século e, como não conseguiu ser vendido, ficou no Camp Nou para provar seu valor agora sob o comando do holandês Ronald Koeman.
Reprodução/TwitterCoutinho, ao lado de Ansu Fati e Messi no Barcelona 20-21 (Foto: Reprodução/Twitter)
Nos três jogos oficiais que disputou até aqui nesta sua segunda passagem pelo Barcelona, Coutinho fez um gol e deu duas assistências. Mais importante: tem jogado bem. A receita para viver esta nova boa fase, segundo o próprio jogador, está em uma vontade “triplicada” para provar que ainda pode ser um dos principais jogadores do futebol mundial.
“Realmente é um momento muito bacana que estou vivendo, um ano que almejo muitas coisas pessoais e, mais importante, no coletivo. Posso dizer que voltei para a Espanha com muita vontade, vontade triplicada de trabalhar e fazer com que as coisas aconteçam a meu favor. É o que eu tento fazer aqui também na Seleção, levar a minha intensidade no limite para conseguir grandes coisas dentro dos jogos e da seleção”, disse em entrevista coletiva um dia após os 5 a 0 sobre a Bolívia.
Este novo bom momento de Coutinho pode ser explicado por três óticas diferentes: a tática, a anímica e a da expectativa. No Barcelona de Koeman, ao invés de ser um ponta-esquerda, o brasileiro circula do centro para o corredor esquerdo do campo, entre Ansu Fati (o ponta pela canhota) e Messi (que vem jogando como homem mais avançado, embora também recue para a criação). Exatamente na faixa de campo onde viveu, no Liverpool, seus melhores momentos. Isso vai devolvendo a Coutinho a confiança em um cenário em que as expectativas sobre suas costas diminuíram consideravelmente após os últimos anos de irregularidade.
Em uma seleção novamente com Neymar no centro dos holofotes, e com um Roberto Firmino com status cada vez maior pelo que vem fazendo no Liverpool, Coutinho também fica mais longe do protagonismo: livre para decidir sem sentir tanta pressão, exatamente como ele mais bem respondeu ao longo de sua carreira.
Reprodução/Twitter/Lucas Figueiredo/CBF(Foto: Lucas Figueiredo/CBF)
“Vestir a camisa da Seleção para mim é sempre um orgulho. Sobre ser protagonista, eu não penso assim, penso no coletivo, penso em desempenhar um grande papel e ajudar meus companheiros, ajudar a seleção a sair vitoriosa. Sobre protagonismo eu não penso, mais no coletivo”, completou Philippe.
A nova boa fase é um respiro muito bem-vindo após um considerável período em baixa, mas traz consigo desafios: manter a regularidade das boas atuações é o principal deles, assim como saber responder quando a expectativa sobre o seu futebol voltar a crescer desta forma regular. Coutinho pode não ser, e nem querer ser, um protagonista sempre, mas haverá algumas ocasiões em que isso será novamente exigido.

