Philippe Coutinho foi, para muitos, o melhor jogador brasileiro na Copa do Mundo de 2018. Foram dois gols, ambos na fase de grupos, e duas assistências – a última delas na eliminação para a Bélgica nas quartas de final. Mas seria um exagero dizer que o jogador revelado pelo Vasco da Gama tenha feito um grande Mundial. Longe disso. Desde então, o seu desempenho caiu vertiginosamente e uma das variadas razões pode ser o seu posicionamento em campo. A exibição mediana nos 2 a 0 sobre o Qatar, em amistoso realizado nesta quarta-feira (06), voltou a evidenciar isso.
Coutinho iniciou a partida pelo lado esquerdo da linha de meio-campistas, dentro do 4-3-3 escalado por Tite. Embora o jogador tenha atuado desta forma na Copa do Mundo, não é onde rendeu o seu melhor ao longo dos últimos anos. Principalmente desde a sua chegada ao Barcelona, na metade de 2018, quando insistiu para deixar o Liverpool e realizar o sonho de jogar no Camp Nou. Lá, a expectativa era a de substituir Iniesta na função exercida em campo. Um relato publicado no El País, diz que quando o técnico dos Reds, Jurgen Klopp, soube disso, teria começado a rir.
Philippe Coutinho, na opinião relatada do alemão, não ficaria confortável em um 4-3-3 jogando como meio-campista. E muito menos fazendo o papel de Iniesta no 4-4-2 que o técnico Ernesto Valverde utiliza na fase defensiva, onde as maiores corridas devem ser feitas pelos extremos. Iniesta [que já veterano deixou o Barça para atuar no Japão] é um corredor de longa distância, Coutinho não. A risada de Klopp teria vindo quando soube que o Barça havia contratado Dembélé para o lugar de Neymar e pensava no brasileiro para a posição de Iniesta, estando disposto a gastar € 145 milhões – a maior contratação na história dos catalães.
Mas como Philippe Coutinho teria vaga na Seleção se a ponta-esquerda é de Neymar, a não ser quando o camisa 10 está lesionado ou suspenso? Atuando mais avançado, com menos responsabilidade de recompor defensivamente e revezando um papel centralizado dentro de um 4-2-3-1 poderia ser uma resposta. Isso chegou a acontecer algumas vezes, embora não tenha entrado de vez no sistema.
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Outra alternativa seria ver Neymar assumindo de vez a posição de meia armador dentro do mesmo esquema tático, posição em que teve boas atuações pelo PSG treinado por Thomas Tuchel antes de sofrer uma segunda lesão no pé direito. A faixa esquerda, mais avançada, ficaria para Coutinho chegar por lá e centralizar na beira da área – aumentando as chances de aparecer com seu forte chute de longe. Contra o Qatar, Philippe deixou o gramado do Mané Garrincha como recordista de finalizações (4). Mas nenhuma delas foi a gol. Não deram trabalho ao goleiro qatari. Ele também criou bastante, mas quando se faz isso contra uma equipe bem mais frágil e não termina em gols é difícil exaltar somente a entrega.
Até porque todos nós conhecemos a habilidade e capacidade de Coutinho para decidir partidas, criar oportunidades letais e finalizar com maestria. Peguemos, por exemplo, as suas melhores atuações pelo Barcelona nesta última temporada 2018-19: quando foi decisivo – inclusive balançando as redes - na goleada por 5 a 1 sobre o Real Madrid, jogo em que os catalães não contaram com Messi, o brasileiro jogou aberto e avançado pela esquerda. O desempenho caiu quando foi recuado, vendo Dembélé mais à sua frente, e com isso a confiança também despencou. A sua última boa exibição mais marcante, já dentro de um cenário em que passou a ser alvo de críticas por parte de torcida e imprensa, foi nos 3 a 0 sobre o Manchester United, onde agradou barcelonista com um golaço e os desagradou com a comemoração: adivinha como ele jogou em campo? Avançado pela extremidade esquerda.
GettyContra o Real Madrid, em outubro de 2018, o camisa 7 teve a sua melhor atuação no Barça (Foto: Getty Images)
Os melhores momentos de Philippe Coutinho no futebol profissional foram por ali, saindo da extremidade esquerda para o centro, enquanto viveu alguns períodos de maior baixa jogando mais recuado. Pelo talento que possui, sempre poderá decidir com um gol ali ou uma assistência acolá. Mas a regularidade é o que dita a sua análise, e hoje ele não é um dos futebolistas mais admirados do mundo. Desde que deixou o Liverpool, jamais voltou a igualar o mínimo de 12 gols que teve sob o comando de Klopp.
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Mesmo após Neymar ter sido substituído contra o Qatar, mais uma vez por causa de lesão, a ponta-esquerda não foi tão explorada por Philippe Coutinho. Everton Cebolinha, do Grêmio, foi o escolhido para a função. Diante de um adversário mais frágil, como o de quarta-feira (05), as tentativas do barcelonista ficaram apenas nisso: tentativas. Quando o desenho contra o Qatar assemelhou-se a um 4-2-3-1, Coutinho teve seus melhores momentos. No Barcelona é uma posição impossível por causa da presença de Lionel Messi, mas no Brasil pode ser um dos caminhos. Um caminho melhor do que vê-lo mais recuado em um 4-3-3.
Se você tivesse que escolher ter na Seleção Brasileira o Coutinho do Barcelona ou o do Liverpool, qual escolheria? Talvez o seu posicionamento ajude a explicar por que não voltou a ser aquele jogador que todos nós sabemos que ele é.
