Sinônimo de Botafogo, Nilton Santos teve no Alvinegro o único clube profissional de toda a sua espetacular carreira. É um símbolo botafoguense tão poderoso que passou a batizar o estádio onde o Glorioso manda seus jogos. Mas não é preciso ser ou ter sido um grande craque, como foi Nilton, ou ter usado exclusivamente a camisa com a Estrela Solitária, para conseguir entrar na história do clube e no coração de seus torcedores. Loco Abreu exemplifica muito bem isso.
O uruguaio teve o seu nome incluído no Guinness Book, o livro dos recordes, como jogador profissional a ter defendido o maior número de clubes em todos os tempos. A sua coleção de camisas é aparentemente infindável, mas Abreu não esconde quais são os seus dois grandes amores: o Nacional, do seu país natal, e o Botafogo, clube que agora volta a encontrar, desta vez como técnico do Universidad César Vallejo, do Peru, em duelo válido pela fase de grupos da Copa Sul-Americana de 2023.
Loco Abreu mostra que amor e idolatria são conceitos que extrapolam qualquer obviedade futebolística. A sua passagem pelo Botafogo durou duas temporada e meia e o único título relevante conquistado pelo camisa 13 foi um Campeonato Carioca, o de 2010 sobre o Flamengo (aquele com o histórico gol de cavadinha). Mas Abreu se identificou, enfileirou gols e momentos marcantes, virou ídolo e seguiu presente no clube mesmo quando não estava mais com a Estrela Solitária ao peito.
Divulgação Botafogo FREm 2012, por exemplo, o atacante uruguaio estava no Figueirense e enfrentava o Flamengo quando resolveu levantar a camisa do clube catarinense para, em tom de desafio e provocação, mostrar o escudo botafoguense aos rubro-negros. Desde seu último jogo como atleta do Botafogo, também em 2012, até aqui, foram inúmeros encontros e desencontros. Como adversário, Abreu enfrentou o clube que ama em 2017, pelo Bangu no Campeonato Carioca, e no ano seguinte, desta vez com a camisa do Audax Italiano, do Chile, pela primeira fase da Copa Sul-Americana.
Fora de campo os encontros são mais frequentes. Em 2015, o artilheiro uruguaio foi homenageado pela torcida e autografou o seu retrato, inserido em um mítico mural dos ídolos na frente da sede de General Severiano. Mas o encontro de agora, em 2023, não deixa de ser especial e único. Abreu volta, pela primeira vez profissionalmente, ao Estádio Nilton Santos, onde ainda é recordista de gols marcados. Desta vez não mais calçando chuteiras, e sim como treinador e vendo um clube cada vez mais estruturado. E ele não esconde a emoção por isso.
“Enfrentar o Botafogo pela primeira vez no Nilton Santos vai ser fantástico. Já imagino chegar lá para jogar a partida de Sul-Americana e receber um carinho e um amor que são mútuos. Vão ser 90 minutos em que vou querer fazer o melhor para o meu time vencer, mas vai continuar a paixão que não preciso ir ao estádio para sentir. É muita coisa legal”, disse El Loco em entrevista para o GE.
A certeza para este reencontro de 2023 é o das homenagens e da troca mútua de carinhos, de botafoguenses a Loco Abreu e de Abreu aos botafoguenses. As redes sociais do clube já estão mostrando isso, com registros das visitas de Abreu ao clube desde a chegada da delegação do Universidad César Vallejo ao Rio de Janeiro.
Quando a bola rolar, tudo muda durante 90 minutos. Mas engana-se quem pensa que a história do uruguaio com o clube da Estrela Solitária acaba por aqui. O seu filho, Diego Abreu, chegou recentemente para as categorias de base do Alvinegro e impressiona pela perícia em marcar gols – nas categorias inferiores do Defensor, no Uruguai, foram 150 tentos. Loco Abreu já está eternizado como ídolo alvinegro, e também espera ter deixado bons frutos para mais encontros do que desencontros no futuro. Com Diego vestindo a camisa 13, El Loco tem ainda mais um motivo para torcer para o seu Botafogo.
“Eu não acreditava. Sabia o mesmo que ele, de sondagem do México, o empresário me falou do Botafogo. Fiquei muito feliz e motivado. Depois, quando deu tudo certo, estava indo para o aeroporto e liguei para ele, para poder ver a felicidade da família. Foi um momento muito lindo. Ele me fala para desfrutar do processo. Quero fazer minha própria história, sei do peso pelo meu nome e pelo número que peguei, espero poder devolver as alegrias para a torcida alvinegra”, afirmou o filho do ídolo para os canais oficiais do clube.
