"Não há nada de positivo a tirar da nossa exibição", foram as palavras de Marcelo Bielsa, repetindo os pensamentos de milhares de torcedores do Leeds United após a derrota por 7 a 0 para o Manchester City na terça-feira (14).
“Não consigo encontrar nada que possa ser valorizado. Quando não há nada que seja bem feito, não são os indivíduos que falham, mas a organização. Não há justificativa que eu possa oferecer", disse o treinador. "Nunca tivemos um desempenho como o de hoje."
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Geralmente, não há vergonha em perder para o Manchester City fora de casa, mas a forma como foi a derrota do Leeds é um grande motivo de preocupação, principalmente depois de uma primeira metade da temporada em que venceu apenas três partidas em 17.
Uma campanha que começou com a esperança de uma vaga em competição europeia, mas que acabou se tornando uma luta contra o rebaixamento. E, embora haja fatores atenuantes a serem considerados, não há dúvida de que Bielsa deve assumir sua parte da culpa no desastre do Leeds.
O treinador de 66 anos fez milagres durante suas três primeiras temporadas na equipe, levando um time que ficava no meio da tabela da Championship ao nono lugar na Premier League. E isso como um estilo de futebol dos mais emocionantes. Então, o que deu errado?
A narrativa chave da situação da temporada do Leeds até agora são as lesões. Bielsa não conseguiu ter o elenco totalmente completo em nenhum momento.
Parecia que ele estava se aproximando dessa possibilidade em 5 de dezembro, quando Luke Ayling e Patrick Bamford voltaram depois de um longo período afastados. No entanto, apenas alguns dias depois, novas lesões vieram para assombrar o treinador.
Qualquer time que perdesse seu melhor jogador (Kalvin Phillips), seu artilheiro (Bamford), seu capitão (Liam Cooper) e contratação recorde (Rodrigo Moreno) ao mesmo tempo teria dificuldades, e, certamente, o Leeds parecia sem qualidade e liderança enquanto o city atacava o gol na terça-feira.
Mas o fato de não haver reservas adequados para jogadores em posições-chave volta à insistência de Bielsa em manter um time pequeno, o que por sua vez levou a uma janela confusa quando se tratava de transferência de estratégia.
O site do Leeds lista o elenco principal com apenas 19 jogadores - de longe o menor na primeira divisão inglesa. Embora o clube tenha um grupo talentoso no sub-23, que pode ajudar a preencher as lacunas, estava claro para os torcedores na última temporada que qualquer ausência prolongada de jogadores como Phillips e Bamford poderia ter efeitos desastrosos, a menos que reservas decentes fossem contratados. O que não aconteceu.
Getty/GOALEm vez de reviver um time que estava superando as expectativas por três anos, o Leeds parou. Eles substituíram o lateral-esquerdo Gjanni Alioski por Junior Firpo, antes de esperar até o último dia da janela de transferência para contratar Dan James, do Manchester United. Nenhum atacante reserva foi procurado - se confiou em Rodrigo e Tyler Roberts para darem suporte a Bamford. Além disso, para mais frustração ainda ninguém chegou para o meio-campo, apesar de ser a posição em que o Leeds não tinha o mesmo talento de seus rivais da primeira divisão, especialmente quando Phillips não estava em campo em 2020-21.
Com Phillips na escalação na última temporada, o Leeds perdeu apenas oito de seus 28 jogos no campeonato. Sem ele, eles perderam sete em dez.
Embora o Leeds tenha uma equipe nos bastidores liderada pelo diretor esportivo Victor Orta, que vem trabalhando em alvos de transferência o tempo todo, a decisão final recai sobre Bielsa, e muitas vezes ele relutou em agitar as coisas, confiando demais em seu pequeno grupo de jogadores.
Essa lealdade, é claro, aumenta a moral do time. No entanto, também leva a uma situação em que sua equipe enfrente os campeões da Premier League, os problemas podem ser grandes.
É de se admirar que as coisas parecessem tão desconexas contra City?
"Acho que o clube colocou recursos humanos suficientes à minha disposição para que os resultados fossem diferentes", disse Bielsa em novembro, refutando a afirmação de que precisa de um time maior. "Não posso atribuir a posição na tabela, nem as lesões, a uma quantidade insuficiente de jogadores."
Getty/GOALQuer ele admita ou não, o número de jogadores no elenco é pequeno, mas existem outras questões em jogo no que diz respeito à forma como ele monta sua equipe.
A lealdade de Bielsa não só o impede de contratar jogadores para desafiar o status quo, mas também de dar a alguns dos jovens talentosos do clube a chance de se mostrarem quando as vagas são abertas para eles preencherem.
Embora Joe Gelhardt e Charlie Cresswell tenham feito sua estreia na Premier League nesta temporada, os dois jovens de 19 anos começaram apenas um jogo cada, apesar de haver lacunas na equipe que poderiam ter ajudado a preencher.
O atacante Gelhardt - que marcou seu primeiro gol no Leeds contra o Chelsea no sábado - e está muito mais acostumado a liderar nas ausências de Bamford e Rodrigo do que um jogador como James. Enquanto isso, o zagueiro Cresswell tem maturidade e atributos físicos para lidar com a Premier League.
Em vez disso, Bielsa parece ter um sistema hierárquico dentro de seu time, e só se voltará para seus pupilos mais jovens se todas as outras combinações possíveis de jogadores forem tentadas primeiro.
Colocá-los contra o Manchester City pode não ter sido sensato, mas está claro que a estratégia atual não está funcionando, e uma injeção de jovens pode ser o que esta equipe precisa no curto prazo.
Estilisticamente, entretanto, Bielsa continua a usar um sistema de marcação que pode colocar seu time em apuros contra times que possuem dribladores confiantes como o City.
É justo ressaltar, no entanto, que embora possa ter sido a opção mais segura fechar a casinha contra o City e jogar por um ponto, a diferença de qualidade entre as duas equipes pode muito bem ter levado a um resultado semelhante de qualquer maneira.
Resta ver se ele está disposto a mudar a forma como posiciona seu time contra times menores, mas seria uma pessoa corajosa quem apostaria contra Bielsa. Em circunstâncias normais, tais questões apontariam para um treinador teimoso que precisa ser dispensado de suas funções antes que seja tarde demais para corrigir a situação. Mas não são muitos os torcedores do Leeds que desejam a demissão de Bielsa.
Getty/GOALEmbora os problemas atuais do Leeds sejam em grande parte responsabilidade do próprio treinador, não há outro nome que o clube possa contratar e que tenha a capacidade de fazer com que este grupo de jogadores aponte na direção certa mais uma vez. Os métodos de Bielsa têm demonstrado funcionar tanto na Championship quanto na Premier League, e se a maldição das lesões que paira sobre o clube ceder nos próximos meses, pode ser que as coisas melhorem.
Uma ou duas contratações estratégicas em janeiro também ajudariam, mesmo que fosse apenas para permitir que os jogadores voltassem às suas posições preferidas, enquanto outros voltam à plena forma.
As coisas, porém, podem piorar antes de melhorar. O Arsenal visita o Leeds no sábado, antes de Bielsa se preparar para levar o time a Anfield para enfrentar o Liverpool, encerrando uma série de quatro partidas consecutivas contra times do "Big Six". No entanto, depois existe uma chance de volta por cima contra dois dos últimos colcoados da Premier League.
A responsabilidade recai sobre Bielsa para liderar sua equipe na situação atual e, embora possa haver questionamento sobre as decisões que ele tomou para trazê-los até aqui, não há ninguém que eles preferissem estar no banco de reservas para levá-los adiante.




