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Lewandowski Lucas Hernández Bayern Barcelona Champions League 13 09 2022Getty Images

Barcelona de Lewandowski e Bayern 'solto' desafiam ideia de "identidade de futebol"

Muito do que acompanhamos no futebol jogado em mais de uma década esteve sob a influência do que Pep Guardiola fez, entre 2008 e 2012, como técnico do Barcelona e na maneira como as versões daquele time foram jogando e levantando taças. É o que costuma acontecer com esquadrões históricos, que mudam os rumos do jogo. Como aquele Barcelona conseguiu fazer história? Uma das várias explicações dadas, de forma bem resumida, era o conceito frio e pretensioso de que aquele clube, aquela instituição, possuía uma identidade de jogo incrustada em seu DNA desde as categorias de base e que tornaria as coisas menos difíceis.

De lá pra cá você já ouviu muitas expressões que, mesmo sendo ditas sem citar o nome do clube catalão, foram popularizadas após aquele time. Escutar um novo treinador ou dirigente de clube, no Brasil e no mundo, falando em coisas como “respeitar/construir o DNA do clube” passaram a ser corriqueiras. Tenham sido ditas por inocência ou pretensão, pouco importa agora: a noção de que cada clube teria uma essência de jogo, uma identidade ou DNA na forma de tocar na bola, é falha porque o jogo muda. Ainda mais do que isso: porque se um clube quer seguir sendo vitorioso, será preciso mudar e fazer adaptações, de época a época, para o que está acontecendo no futebol – seja como vanguarda ou para não perder espaço. Ou seja: nada é pra sempre ou obra divina.

Adversários nesta fase de grupos da Champions League, Barcelona e Bayern de Munique mostram justamente o quão falho é este conceito de “identidade de jogo” eterna (no sentido de ser um DNA) de um clube.

Os catalães, em meio aos anos de seus maiores títulos, deram eco à pretensão de seu DNA especial: a instituição que não compra estrelas e sim as cria desde a base, com jogo marcado pelo futebol focado na posse de bola e tendo não um grande centroavante para marcar os gols, e sim um “Falso Nove” – o atacante móvel que cria o espaço para depois preenchê-lo, algo longe de ser novidade mas cujo conceito Guardiola reaproveitou e viu em Messi o intérprete perfeito. Os alemães do Bayern? Um dos clubes mais conhecidos em parte também pelos seus centroavantes históricos: de Gerd Müller até Robert Lewandowski.

20220908 Robert LewandowskiGetty Images

Pois a atual temporada 2022/23 mostra um Barcelona feliz em depender dos gols de Robert Lewandowski, contratado junto ao Bayern por cerca de 45 milhões de euros. Um valor bastante alto para um atleta de 34 anos, sendo ele mais uma de várias estrelas do futebol que os catalães trouxeram a peso de ouro nas últimas temporadas. Da área técnica, Xavi segue simbolizando uma espécie de herança às tradições de jogo que marcaram os melhores momentos do clube, mas também garantiu que não é completamente preso a ela.

Sadio Mane Leroy Sane FC Bayern 27082022Getty

Já o Bayern de Munique sem Lewandowski teve que apostar em um ataque de maior mobilidade. Com Leroy Sané atacando os espaços em extrema velocidade, das pontas para dentro, vendo Thomas Müller recuar e Sadio Mané preencher os espaços vazios entrando na área. Em um passado nem tão recente assim Müller esteve sob o comando de Guardiola no Bayern. Mais recentemente, Sané trabalhou com o catalão no Manchester City. Ambos conhecem muito bem o conceito do ataque móvel. Mané também, apesar das características mais frenéticas do ataque do Liverpool de Klopp nas temporadas passadas.

O próprio Guardiola acaba desafiando este conceito de identidade imutável no estilo de jogo. O treinador chegou ao Bayern com a carta branca para aplicar a sua forma de ver o futebol, mas precisou se adaptar na Alemanha após alguns choques culturais. Se adaptou: mudou e deixou ser mudado. Esta transformação (muito bem documentada nos livros escritos por Martí Perarnau) foi ainda mais acentuada no Manchester City, onde chegou para criar um novo DNA para a instituição azul e foi conseguindo fazer isso com um time de posse de bola, com ataque móvel sem um centroavante fixo. Mas quem é a principal aposta dos Citizens nesta temporada? Erling Haaland, uma espécie de centroavante clássico reconstruído para triunfar sob as demandas do jogo moderno.

Um time pode ter uma identidade de jogo, mas ela muda com o tempo. Não é eterna. Não é um DNA. Com um camisa 9 verdadeiro ou falso, trocando passes triangulados ou arriscando lançamentos, o futebol vai mudando e os clubes e demais personagens envolvidos no esporte vão se adaptando. Ver Lewandowski vestindo a camisa 9 do Barcelona contra um Bayern de Munique sem grandes centroavantes deixa isso bastante em evidência.

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