Não é normal que o Real Madrid revele todos os jogadores que adquirem para sua academia, mas em janeiro de 2015, Martin Odegaard não era um jovem comum. Com apenas 15 anos e tendo passado meses viajando pelos maiores e melhores clubes da Europa, o adolescente norueguês desembarcou na capital espanhola com enorme comemoração, com os Blancos desbancando o Liverpool, Arsenal, Bayern de Munique e os clubes de Manchester ao adquirir sua assinatura.
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Teria o Real Madrid adquirido o novo Cristiano Ronaldo, ou até mesmo o novo Lionel Messi? A euforia sobre Odegaards superou seus feitos em campo pelo Stromsgodset, clube de sua terra natal, embora fosse difícil de ignorar a quantidade de elogios vindo da Noruega e do resto da Europa.
E é por isso que suas apresentações iniciais em Madri foram tão decepcionantes. Em dois anos com o time B de Castilla, o norueguês fez 62 aparições, marcando apenas cinco gols e dando oito assistências. Todo o barulho em torno de sua chegada não coincidia com suas performances em campo, e os fãs começaram a perder a fé.
Seus treinadores - incluindo um certo Zinedine Zidane - continuaram a valorizar seu compromisso, mas considerando o quanto ele havia conquistado após a sua chegada, duas aparições abaixo do esperado na primeira equipe e uma série de exibições decepcionantes na Segunda B - a terceira divisão espanhola - não se previa algo bom.
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Havia, naturalmente, ressalvas que deveriam ser consideradas ao se analisar os primeiros anos de Martin Odegaard em Madri. Mudar para um novo país e tentar integrar-se em uma nova cultura é difícil para alguém de tão pouca idade, especialmente quando não se consegue falar o idioma. Enquanto isso, o time de Castilla, no qual estava jogando, era formado predominantemente por jogadores que não tinham o mesmo talento natural que seu novo companheiro de equipe.
"Tudo foi rápido. Na Noruega não houve um grande astro por muito tempo, então a mídia engrandeceu tudo. Eu tinha 15 anos e era um hospício todos os dias!", explicou Odegaard sobre sua mudança em uma entrevista com Algemeen Dagblad.
“Eu sou uma pessoa sóbria, o protótipo de um escandinavo. Eu não gosto de atenção ou expectativas exageradas em tudo. Aos 16 anos fui para Madri com meu pai, que era meu motorista. Minha mãe ficou com minhas duas irmãs na Noruega. Nossa família está separada há vários anos e isso é um sacrifício. É claro que esperava jogar mais alguns minutos, mas eu estava com os astros mais importantes como Sergio Ramos e Cristiano Ronaldo. Foi um passo gigantesco para mim ”.
Uma coisa era clara - Odegaard precisava deixar a Espanha ou arriscar-se a ser pego como outro adolescente prodígio em quem era depositado muita expectativa. Seu destino: Eredivisie e Heerenveen.
Mudar-se para a Holanda significava que estava tanto longe o suficiente da Espanha para evitar olhares indiscretos, quanto perto o suficiente da Noruega para se sentir mais confortável. Alguns questionaram se essa queda no padrão pode ser contraproducente, mas depois de encontrar seus pés na temporada 2017-18, Odegaard voltou à liga novamente, desta vez com o Vitesse.
Os números brutos não mentem quando se trata de suas performances. Para o Heerenveen, o meia marcou três gols e deu cinco assistências em 43 apresentações. Já nesta temporada com o Vitesse, os números subiram para nove gols e 10 assistências antes do último jogo da temporada, marcado para esta quarta-feira (15), contra o VVV-Venlo. As suas exibições mostraram uma maturidade nunca vista, fazendo sua estrela no campeonato subir a cada semana, ainda mais com o Vitesse se aproximando da qualificação para a Champions League.
"Martin deu um grande passo à frente em seu caminho para se estabelecer em uma das melhores ligas da Europa como um jogador maduro", disse o jornalista norueguês Joachim Baardsen. "Ele está pronto agora. Não há praticamente nenhuma dúvida sobre sua evolução nesta temporada. Acho que, mesmo por mais duas ou três temporadas, não veremos seu potencial máximo. Mas quando esse momento chegar, ele poderá ser excepcional."
A questão agora é: Odegaard está pronto para deixar sua marca no time principal do Real Madrid? Os merengues certamente ainda acreditam em sua habilidade, e suas esperanças aumentaram ao vê-lo prosperar no futebol sênior pela primeira vez em sua jovem carreira. Sendo assim, talvez não exista mais o desejo de permitir que ele saia de forma permanente, apesar do interesse do Ajax.
Os semifinalistas da Champions League já eram fãs do jovem de 20 anos antes mesmo de ele marcar o gol decisivo contra o PSV para tornar a disputa do título neerlandês a favor do Ajax, e agora surge o rumor de uma proposta de 20 milhões de euros (cerca de R$ 89,6 milhões) por ele. O clube busca um substituto para Hakim Ziyech, e a experiência da Odegaard na Eredivisie e o potencial para brilhar no cenário europeu significa que ele pode ser uma contratação ideal.
"Vou falar com o Real Madrid e vamos ver o que acontece. O Ajax é um grande clube. Acho que 20 milhões de euros é muito dinheiro para mim!", disse o meia recentemente, ao ser questionado sobre seu futuro, embora essas conversas com a equipe de Madri só terminem em um único sentido. Uma venda permanente está fora de questão, mas não significa que ele deixará de cogitar uma transferência ao Johan Cruyff Arena em 2019-20.
O portal De Telegraaf reportou que os dois gigantes do futebol europeu têm negociado um acordo de empréstimo por Odegaard, embora seja improvável que qualquer decisão seja definida até que se saiba se o meia poderá, de fato, fazer parte da equipe principal do clube a que pertence.
O retorno de Zidane ao clube espanhol foi uma boa notícia para o norueguês; fato que o próprio jogador reconheceu. Os obstáculos à sua frente são consideráveis, no entanto. Os jovens jogadores Vinicius Jr. e Brahim Diaz já começaram a se estabelecer em La Liga, enquanto Rodrygo logo chegará do Brasil, já que sua transferência do Santos foi finalizada no ano passado.
Os atacantes mais estabelecidos, Marco Asensio e Lucas Vazques, são um fator de competição, assim como os lugares nas laterais são mais rígidos no Real do que na maioria dos grandes clubes do continente, mesmo desconsiderando Isco e Dani Ceballos – que parecem estar de saída nesta janela de transferências.
Desta forma, Odegaard provavelmente terá que esperar até o final da janela para saber ao certo onde passará os próximos 12 meses. Não há dúvidas de que ele precisa de mais de 20 minutos em campo para aprimorar seu desenvolvimento, e Zidane terá a palavra final sobre todas as decisões de transferências. Caso 2019 não seja o ano de se graduar pelo Real Madrid, então será em 2020 ou 2021. O clube investiu muito no jovem para apenas desistir e permitir que outro se aproveite de todos os benefícios de seus talentos.
Odegaard foi o porta-bandeira da nova política de Madrid sobre encontrar os melhores talentos do mundo antes de qualquer outro time e, apesar das decepções na temporada, poucos duvidam que tenha sido o caminho correto.
"Odegaard me lembra o [Christian] Eriksen, mas ele é ainda mais rápido", disse Baardsen em entrevista à Goal. Ironicamente, o dinamarquês é um dos que estão na lista de Madrid para este verão europeu, e também alcançou recordes de dar inveja quando jogava na Escandinávia, antes de aperfeiçoar o seu talento na Eredivisie e mudar-se para a Premier League com 21 anos.
Com Odegaard, o Real Madrid acredita que o astro escandinavo já faz parte do clube, e está pronto para finalmente deixar sua marca no time 13 vezes campeão europeu. O momento certo para o meia mostrar todo o seu potencial chegou.
