Semifinal contra a Argentina. Messi. Obrigação de vencer a Copa América. Pressão. Mineirão.
... 7 a 1.
Embora Tite não fosse o treinador do Brasil no Mundial de 2014, que entrou para a história por causa do maior vexame de sempre para uma grande seleção, era impossível que aquela derrota na semifinal contra a Alemanha não fosse lembrada antes da partida desta terça-feira (02) contra a Argentina. Afinal de contas, cinco anos depois o destino pôs o Mineirão como palco de mais uma semifinal brasileira.
Perguntado mais de uma vez sobre o assunto, na entrevista coletiva realizada na véspera do tenso e aguardado duelo contra os argentinos, o treinador relembrou a sua vitória por 3 a 0 sobre a Albiceleste, em 2016, no próprio Mineirão, e buscou dissolver o tema do 7 a 1: “Pegamos a história e escolhemos que capítulo queremos. O que temos é o momento”, disse. Ansioso, Tite perde o sono pensando em como melhorar o seu time e só quer saber do amanhã. Por dever profissional, ele tem todo o direito de fazer isso.
Mas, como diz o bordão já famoso, o 7 a 1 é eterno. Uma cicatriz que os atletas que estavam lá presentes sempre irão carregar como um vexame, mas que boa parte dos torcedores brasileiros presentes ao Mineirão leva com o orgulho de uma espécie de “marca de guerra”.
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Não é tão fácil encontrar torcedores de Belo Horizonte que estiveram dentro do Gigante da Pampulha naquele 8 de julho de 2014. Ao menos não tão fácil quanto a expectativa sugere. Entretanto, a partir do momento em que conseguimos falar com pessoas que estiveram presentes naquela semifinal entre Brasil e Alemanha, pelo Mundial, as reações começam quase sempre com um silencioso aceno com a cabeça que passa um orgulho solene. O bater no peito para dizer: “eu estava lá!”
"Humilhação... só que eu passei a pensar de uma outra forma. Eu passei a pensar de estar fazendo parte de um dos momentos históricos do futebol mundial, que poucas pessoas fariam parte", explica o torcedor Gabriel Alen para a Goal Brasil.
Palavras como “incredulidade” aparecem quase tanto quanto os gols da Alemanha, que foram tão rápidos que alguns torcedores até não conseguiram acompanhar o ritmo: “O terceiro gol eu não vi. Eu estava virado, conversando com o meu pai... Só lembro do meu pai gritando, apontando, eu já assustado virei e já vi eles comemorando. E não vi como foi o gol. E no que veio o quarto gol, ele falou: aí o replay pra você”, relembrao advogado Pedro Couri, uma das testemunhas daquela tarde histórica.
Cientes de que estavam participando de um momento único, a tristeza pela goleada em construção foi substituída pelo senso de testemunha ocular de um acontecimento esportivo gigante. Eterno. Por isso esta espécie de orgulho, materializado em alguns objetos guardados até hoje.
Tauan Ambrosio/Goal BrasilPedro trocou de camisa com um alemão, ainda na saída do jogo, e ainda guarda os copos daquele 8 de julho: “Guardei os dois copos do trágico dia. O copo daquela semifinal fatídica, porque acho que a cerveja foi o que manteve a gente vivo naquele dia. Se não fosse ela, a gente ia sentir mais”.
Lucas Silva e Gabriel Alen têm o ingresso até hoje: “Esse aqui vai ficar guardado para sempre. Esse aqui fez história”, explica Gabriel, que assim como o médico André Lamounier estará dentro do Mineirão novamente neste 2 de julho. Desta vez para uma semifinal contra a Argentina.
“Pra mim não tem nada a ver. É outro jogo, outro clima. É Brasil x Argentina. A chave totalmente virada. O que me motivou foi simplesmente ver um jogo de Brasil x Argentina de semifinal”, respondeu Gabriel ao explicar as suas motivações para voltar ao Mineirão para acompanhar a seleção.
“Eu sou um grande fã de futebol, e Brasil e Argentina... não é todo dia que a gente consegue ver Messi, principalmente, Coutinho, craques internacionais. É isso: Brasil x Argentina, semifinal, acho que vale a pena ir em qualquer ocasião”, diz André, que aposta em vitória por 2 a 1 do Brasil.
O amor pelo futebol apaga, para o torcedor que gosta do bom espetáculo e de fazer parte de eventos históricos, eventuais traumas causados pelo 7 a 1. Mas isso não quer dizer que aquela tarde um dia possa deixar de ser lembrada, e o testemunho dado por Lucas evidencia isso de forma simples e direta.
“Eu morei um ano na Holanda, e lá, sempre que eu conhecia alguém e queria explicar de onde que eu era, qual cidade do Brasil que eu era, a referência que eu dava era 'a cidade onde aconteceu o 7 a 1'. E aí todo mundo sabia".
Assim como as conquistas mundiais que vieram em 1958 ,62, 70, 94 e 2002 não apagaram o Maracanazo de 1950 para o Uruguai, o 7 a 1 é eterno, uma cicatriz sempre presente na seleção brasileira independentemente do que vier a acontecer. Por isso o torcedor sente um orgulho agridoce por ter estado lá: eles também fizeram parte da história.
