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Barcelona embarrassment GFXGOAL

Demissão de Xavi expõe Barcelona como clube mais bagunçado da Europa

Quando o primeiro tempo da partida entre Barcelona e Rayo Vallecano, pela La Liga, no último domingo (19), terminou, os cânticos já começaram: "Xavi sim, Laporta não". Tudo estava muito claro: os culés não estão muito convencidos com o homem no comando.

E eles têm razão. Foi uma semana caótica na Catalunha, com rumores de que Laporta quer demitir o técnico Xavi, apenas semanas depois de praticamente implorar para que o técnico descontente permanecesse, após um anúncio inicial de que deixaria o comando do clube ao final desta temporada.

Essa notícia reabriu algumas feridas antigas que aparentemente tinham cicatrizado. O presidente teve um momento de glória ao convecer Xavi a ficar, mas reacender a conversa sobre seu futuro certamente não fez bem a Laporta ou ao clube, que segue sendo lembrado principalmente por sua má gestão.

E os rumores da demissão acabaram se concretizando nesta sexta-feira (24), com o técnico espanhol tendo sua saída anunciada pelos Blaugranas.

Não que ainda não estivesse claro, mas a demissão de Xavi nos relembra: a situação no Barça é um absoluto caos. E pode piorar.

  • Xavi laportaGetty images

    Falta de rumo

    Xavi anunciou sua intenção de deixar o clube em janeiro, após uma derrota para o Villarreal, e tenha sido uma decisão inesperada, ela até que fazia sentido. O Barça havia estagnado, e, seja por questões táticas, seja por azar - ou ambos -, aquele bom o nível que levou os catalães a vencerem a La Liga na temporada passada simplesmente não foi alcançado.

    Xavi era talvez grande demais e importante demais para ser demitido. Ele sabia que, se fosse embora, teria que ser por sua própria iniciativa. Deixar um clube de futebol – especialmente no estado atual – dificilmente é um ato de bravura, mas o ex-meio-campista sabia que era necessário um novo rosto no comando para levantar o clube.

    Nas semanas seguintes, ele criticou repetidamente a imprensa e sugeriu que o ambiente tóxico ao redor do clube estava tendo um impacto negativo em sua saúde mental. Talvez o mais preocupante de tudo, quando perguntado se daria algum conselho ao próximo técnico da equipe, ele praticamente aconselhou o atual técnico do Barça Atletic, Rafa Márquez, a não aceitar o cargo.

    No entanto, as pessoas mudam de ideia. E no final de abril, Laporta convocou Xavi e a diretoria do Barça para um jantar - sushi. Durante as conversas, as partes concordaram que o treinador deveria continuar após uma série encorajadora de resultados tanto domesticamente quanto na Champions League - isso mesmo que a temporada terminasse sem nenhum troféu. O par, junto com o diretor esportivo Deco, realizou uma coletiva de imprensa e posou para fotos como uma demonstração da solidariedade que percorria o clube.

    No entanto, na quarta-feira, 15 de maio, as coisas mudaram. Quando pedido para mandar uma mensagem de apoio à torcida, Xavi optou por falar sobre as finanças do clube. "Os torcedores do Barcelona precisam entender que estamos em uma situação difícil, especialmente do lado econômico", afirmou. "Nossa situação financeira não é a mesma de 20 anos atrás, quando o gerente do clube podia dizer 'quero contratar este jogador, este jogador e este jogador' e conseguíamos todos eles. Os torcedores precisam perceber que precisamos nos ajustar. Eu estou fazendo e faremos juntos isso como um clube. [Mas] isso não significa que não competiremos. Faremos o nosso melhor".

    Em resposta, Laporta não viajou com o time para o jogo contra o Almería na noite seguinte - e logo surgiram rumores de que ele estava considerando repensar sua decisão.

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  • Xavi FC Barcelona 2024Getty Images

    Fim do 'Barça good vibes'

    Independentemente do status de Xavi como lenda do clube, o fato de que ele podia ser demitido causou grande frustração porque este time do Barcelona finalmente estava começando a evoluir novamente. Eles podem ter passado as últimas semanas lutando pelo segundo lugar na La Liga, mas havia sinais de que a boa forma mostrada no início de 2024 poderia ser retomada.

    Aquele meio-campo em quadrado pouco impressionante era passado. O time voltou àquele antigo 4-3-3. Lamine Yamal desgastava os defensores adversários pelo lado direito e Raphinha parecia um jogador renascido, na direita. Robert Lewandowski começou a marcar gols novamente, e sem a pressão de jogar com Pedri e Ronald Araújo, Xavi ofereceu mais minutos a Pau Cubarsí e Fermín López, ambos crias da base. Os resultados não foram perfeitos, é verdade, mas certamente houve sinais de progresso.

    Enquanto isso, Xavi parecia em paz. Não mais acorrentado pela incerteza sobre seu futuro, ele parou de explodir contra a arbitragem e estava visivelmente mais equilibrado nas coletivas de imprensa. Os problemas do Barça não haviam desaparecido, mas de repente havia motivo para ter otimismo.

  • Joan-Laporta(C)GettyImages

    Barça e caos: inseparáveis

    Mas com Laporta no comando - e Deco ao seu lado - qualquer coisa é possível. O presidente pode ter sido o maior apoiador de Xavi em alguns momentos, mas dificilmente foi o líder que o clube poderia precisar. Ele constantemente nas decisões do treinador durante seu mandato, minando Xavi tanto publicamente quanto a portas fechadas.

    O episódio mais claro, talvez, ocorreu em dezembro de 2023. O Barça já havia se classificado para o mata-mata da Champions, e então Xavi montou um time alternativo para a partida fora de casa contra o Antwerp. Araújo, Lewandowski, Frenkie de Jong e Ilkay Gundogan sequer viajariam com o elenco. Mas, no último momento, Laporta contrariou o espanhol, e todos, menos De Jong, acabaram viajando, por ordem de cima - mesmo assim, o Barça perdeu por 3 a 2.

    Deco também teve seu papel na novela. No meio do ano passado, Xavi estava desesperado por um meia central para substituir Sergio Busquets. Ele cobiçava Martin Zubimendi, da Real Sociedad, mas aceitava alternativas. Em vez disso, Deco voltou seus olhos para a América do Sul, investindo muito em Vitor Roque, esgotando o orçamento de transferências dos Blaugrana em um jogador do qual eles realmente não precisavam - Xavi, então, teve que se contentar com Oriol Romeu para ocupar o lugar de Busquets. O ex-jogador do Southampton claramente não estava no nível exigido e mal foi titular em 2024; Roque, por sua vez, tem tido poucos minutos no gramado desde sua chegada.

  • Barcelona fan Xavi 2023-24Getty

    Torcida descontente

    Isso tudo ainda complicou mais a relação do clube com a torcida. Grande parte dos culés queria mesmo a saída de Xavi, chegando a vaiá-lo em algumas oportunidades no final de 2023. Mas eles mudaram de ideia no início de 2024, pedindo por sua permanência.

    Desde então, o fervor só aumentou. Xavi parece ter o apoio inabalável dos torcedores, o que criou uma certa rusga entre o treinador e Laporta - e o treinador tentou apagar esse incêndio. No domingo (19), no pós-jogo, condenou os cânticos anti-Laporta e insistiu que o clube precisa de união neste momento.

    "Eu sinto apreço dos torcedores, mas não gostei dos cânticos contra o presidente", disse ele. "Nós temos que estar unidos. Três semanas atrás, falamos sobre estar unidos e levar esse projeto adiante e isso ainda é verdade".

    O atual momento marca um momento difícil para o presidente, que, em sua campanha para assumir o atual cargo, afirmou ser um 'culé' de toda a vida. De repente, ele não é mais certeza para ninguém.

  • Joao LaportaGetty Images

    Mantendo o legado de Bartomeu

    Ainda assim, é difícil culpar apenas Laporta pelo estado em que o Barça se encontra. Ele é justamente criticado por sua atitude arrogante e por sua máquina de propaganda pró-Barça excessivamente zelosa e muitas vezes clara, mas, inegavelmente, ele assumiu o clube em uma das piores situações da história do futebol de elite, após a saída de Josep Bartomeu, que quase faliu a instituição.

    Bartomeu foi posteriormente preso por supostamente pagar por uma campanha difamatória ilegal online que promoveu postagens em redes sociais que glorificavam sua imagem enquanto lançava ataques contra Lionel Messi, Gerard Piqué e Xavi. O ex-presidente foi inocentado das acusações, mas os danos ao clube permanecem.

    Laporta, quando assumiu no final de 2020, encontrou um clube quebrado. Enquanto o sucesso em campo começava a se mostrar elusivo, a terrível má administração financeira fez com que o primeiro ato de Laporta como presidente fosse se despedir de Messi, contra a vontade de todos.

    Para seu crédito, Laporta estabilizou o clube de algumas maneiras. Ele se livrou de alguns jogadores superpagos, trouxe alguns bons e ganhou um título da liga. Mas a maneira como ele conduziu as coisas tem o potencial de prejudicar ainda mais o clube no futuro.

    E até a estabilidade financeira continuou elusiva, já que as táticas de Laporta de 2022, de alavancagem e liberdade financeira, não conseguiram tirar o Barça do fundo do poço. Seu relacionamento com a imprensa, problemática devido a suas explosões erráticas de raiva, não ajudaram muito no que se refere à forma como o clube era visto de fora.

    Se a reputação do Barça já estava prejudicada, Laporta fez pouco para revivê-la.

  • Xavi Barcelona 2023-24Getty

    Fim do casamento

    Então, o Barça se encontra novamente nas manchetes, mas pelos motivos errados. Xavi, que parecia estar sendo implorado para ficar, há menos de um mês, agora acabou forçado a sair. Seus comentários sobre as finanças do clube podem ter sido mal pensados, mas Laporta certamente tem capacidade de entender o ponto do técnico. E, mesmo que não entenda, ele certamente sabia que a imagem de demitir um treinador ao qual pouco tempo atrás você pedia para permanecer não é lá muito boa.

    Isso sem mencionar onde o Barça fica nessa situação. Além de arcar com a saída de Xavi, o clube precisará honrar a contratação ou salário de um treinador de elite - se é que algum disponível estaria disposto a assumir o cargo. O próprio Márquez, que seria um substituto da casa, foi aconselhado por Xavi a negar um eventual convite.

    Laporta teria sido sábio, então, se optasse por manter Xavi. Infelizmente para os torcedores, porém, esta não é uma característica muito reconhecida no presidente.

    O clube de Johan Cruyff, Pep Guardiola e Messi agora é irreconhecível; um constrangimento, mais 'més que una comedia' do que 'més que un club'. E, com Xavi demitido, esse caos catalão parece que continuará por mais algum tempo...

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