Victor Osimhen é um dos camisas 9 mais desejados do mundo - então por que vai permanecer na Turquia?

A persistência de Giuntoli acabou sendo espetacularmente recompensada. A taxa de €80 milhões paga por Osimhen causou um verdadeiro impacto no futebol italiano — afinal, o atacante tinha apenas 21 anos e vinha de uma única temporada de destaque na Ligue 1.

Apesar de um início discreto na Serie A, Osimhen deslanchou. Na temporada 2022/23, balançou as redes 26 vezes em 32 jogos e foi peça-chave na conquista do primeiro Scudetto do Napoli desde os tempos de Diego Maradona. A aposta de Giuntoli, enfim, se mostrou totalmente acertada. Osimhen provava estar, senão no mesmo patamar de Haaland, muito próximo disso.

Faltava apenas uma vitrine maior para consolidar seu nome entre os melhores — e, naquele momento, parecia só uma questão de tempo até que algum gigante europeu fizesse sua investida. Em janeiro de 2024, o próprio Osimhen chegou a revelar que já havia decidido seu próximo passo, enquanto o presidente do Napoli, Aurelio De Laurentiis, dizia com confiança que o jogador “iria para o Real Madrid, PSG ou algum clube da Premier League”.

Essa última possibilidade alimentou o cenário empolgante de uma rivalidade direta entre Osimhen e Haaland pela Chuteira de Ouro da Premier League. No entanto, pouco mais de seis meses depois que o Manchester City renovou o contrato de Haaland por nove anos e meio, com um salário semanal impressionante de £500 mil, Osimhen se viu em uma situação surpreendente: acabou se transferindo em definitivo para o Galatasaray, após uma inesperada falta de propostas concretas de outros grandes clubes europeus.

Visto de fora, o caso de Victor Osimhen é, no mínimo, curioso — especialmente quando se observa que jogadores menos talentosos vêm sendo negociados por valores ainda mais altos. Mesmo com a escassez de artilheiros confiáveis no futebol europeu, nenhuma das principais equipes das ‘Cinco Grandes Ligas’ se dispôs a pagar a cláusula de rescisão de €75 milhões estipulada em seu contrato com o Napoli.

O Liverpool, por exemplo, não hesitou em fechar um acordo de £79 milhões por Hugo Ekitike. Já o Arsenal, que demonstrou forte interesse em Viktor Gyokeres por uma quantia semelhante, sequer cogitou direcionar sua atenção a Osimhen — que, além de mais jovem que o sueco, acumula mais experiência em alto nível.

É claro que tanto o Napoli quanto o próprio Osimhen parecem ter superestimado o valor de mercado do jogador. O presidente Aurelio De Laurentiis chegou a ridicularizar uma proposta do Al Hilal, avaliada em €200 milhões, dizendo: “Essa oferta compra apenas um dos pés de Osimhen. No ano que vem, talvez com €500 milhões a gente considere — talvez.”

Embora suas declarações soem como pura encenação — algo típico do excêntrico dirigente e produtor de cinema —, não restava dúvida de que De Laurentiis acreditava firmemente que algum clube acionaria a cláusula anterior de €120 milhões no verão europeu de 2023.

Contudo, o mercado de transferências, apesar de muitas vezes inflacionado, também tem seus momentos de retração — e foi exatamente isso que aconteceu no ano passado, frustrando as expectativas do Napoli e de seu principal atacante.

Para começar, os clubes da Liga Saudita reduziram drasticamente seus gastos após a gastança em 2023, o que diminuiu significativamente o fluxo de dinheiro no mercado de transferências. Ainda mais impactante foi o fato de vários clubes ingleses, assustados com a aplicação repentina das Regras de Lucro & Sustentabilidade (PSR) pela Premier League, passarem a evitar o pagamento de taxas elevadas — e, sobretudo, de salários astronômicos.

Como explicou o especialista em transferências Ben Jacobs: “O Chelsea foi um dos clubes interessados em contratar Osimhen no último ano, mas precisava que ele se encaixasse em sua estrutura salarial baseada em incentivos. Ou seja, não era apenas sobre o valor da transferência, mas também sobre Osimhen aceitar uma redução salarial caso, por exemplo, o clube não se classificasse para a Champions League. Ele não estava disposto a fazer esse tipo de concessão, então as finanças claramente impediram a ida dele para a Premier League.”

Para piorar, uma negociação com o Al Ahli também fracassou de forma frustrante para Osimhen, quando De Laurentiis supostamente elevou o valor da pedida na última hora — o que levou os sauditas a abandonarem a mesa. Naquele ponto, a relação entre Osimhen e o Napoli já havia se desgastado completamente, inviabilizando qualquer possibilidade de retorno a uma cidade que, até pouco tempo antes, o tratava como um verdadeiro ídolo.

Foi um desfecho melancólico. No fim das contas, restou a ambas as partes aceitar a oferta do Galatasaray para um empréstimo de uma temporada. A janela já havia fechado nas principais ligas da Europa — mas ainda estava aberta na Turquia.

A temporada de Victor Osimhen na Liga Turca não poderia ter sido muito melhor. O atacante terminou como artilheiro do campeonato e foi peça fundamental na conquista do terceiro título consecutivo do Galatasaray. Se havia alguma ressalva, no entanto, era justamente o fato de que ele foi bom demais.

Sua campanha impressionante — 37 gols em apenas 41 jogos, somando todas as competições — reforçou seu status como um dos principais atacantes do futebol mundial. Por consequência, manter Osimhen no elenco, algo que o Galatasaray desejava desesperadamente, parecia ter se tornado ainda mais difícil.

Mesmo com a cláusula de rescisão reduzida para €75 milhões, a pedido do próprio Napoli, o atacante seguiu em um impasse. O Al Hilal tentou contratá-lo a tempo do Mundial de Clubes, mas Osimhen recusou mais uma vez uma transferência para o Oriente Médio. Estava claro que seu objetivo ainda era jogar por um clube competitivo na Champions League. Como já havia declarado seu agente: “Ainda há muito a ser feito na Europa por Victor.”

O problema é que suas opções não haviam se ampliado. O Galatasaray seguia como o único clube europeu disposto a pagar a cláusula — e era difícil entender exatamente o porquê.

Em alguns círculos, tem sido insinuado que Victor Osimhen teria problemas de atitude. William Gallas chegou a sugerir que o ex-clube do atacante, o Arsenal, o teria deixado passar porque “talvez Mikel Arteta não tenha a personalidade necessária para gerenciar jogadores como Osimhen ou lidar com atletas de personalidade forte”.

No entanto, há poucos relatos que corroborem essa visão negativa. Pelo contrário, diversos ex-companheiros e treinadores descrevem Osimhen como um profissional exemplar, motivado, humilde e dedicado nos treinos e no vestiário.

“Ele é um profissional realmente excelente,” afirmou certa vez o ex-técnico do Napoli, Luciano Spalletti. “É um garoto muito doce que respeita todos ao seu redor.”

Ainda assim, segundo o especialista em mercado de transferências Ben Jacobs, havia — com razão ou não — uma percepção na Premier League de que Osimhen poderia desestabilizar o ambiente do vestiário. “Ninguém diz que Osimhen é um mau elemento, mas os grandes clubes da Inglaterra buscavam jogadores que se encaixassem perfeitamente em grupos repletos de talentos e estrelas. No fim das contas, a sensação era de que ele talvez não tivesse o perfil ideal para esse contexto.”

No entanto, também havia a suspeita de que o histórico de lesões de Osimhen poderia ter sido um fator mais relevante para a aparente falta de interesse dos grandes clubes. Sua tendência a um jogo físico e a disposição para se expor a riscos resultaram em várias lesões ao longo dos anos, sendo a mais grave a fratura no crânio e na órbita ocular sofrida no San Siro, em novembro de 2021.

“Ele também já teve o rosto cortado duas ou três vezes porque nunca recua,” comentou certa vez Luciano Spalletti.

A “coragem” de Osimhen nunca foi realmente um problema. A preocupação maior recai sobre sua vulnerabilidade ao estresse e tensão muscular, já que ele ficou afastado nove vezes nos últimos três anos devido a diferentes lesões na coxa e no tendão.

Considerando que ele também deve se ausentar no meio da próxima temporada para a disputa da Copa Africana de Nações, fica mais fácil entender por que um clube inglês, por exemplo, hesitaria em investir uma quantia significativa em seu passe.

Ainda assim, o fato é que Osimhen não jogou menos de 30 partidas em nenhuma temporada desde os tempos de Wolfsburg, quando ainda era adolescente — um indicativo de que a disponibilidade não seria um problema para um atleta de 26 anos que, teoricamente, está se aproximando do auge físico e técnico.

De fato, Osimhen agora entra em seu melhor momento, enquanto se prepara para possivelmente passar mais três temporadas em Istambul — uma reviravolta e tanto para um talentoso camisa 9 que já foi um dos mais cobiçados da Europa.

Desde que Victor Osimhen declarou, há 18 meses, estar pronto para dar o próximo “passo” na carreira, muita coisa mudou. O Real Madrid contratou Kylian Mbappé para atuar no ataque; o Paris Saint-Germain mostrou que não é necessário ter um centroavante tradicional para conquistar a Champions League; e as principais equipes da Inglaterra passaram a buscar soluções alternativas para seus desafios ofensivos — especialmente diante das exigências salariais exorbitantes de Osimhen.

À primeira vista, pode-se argumentar que Osimhen alcançou seus objetivos duplos: permaneceu na Europa e, ao mesmo tempo, garantiu um aumento salarial significativo. O Galatasaray teria concordado com seu pedido de salário líquido anual de €15 milhões.

Há ainda quem defenda que o Galatasaray pode causar impacto real na próxima edição da Champions. Embora nenhum clube turco tenha conquistado o torneio até hoje, a equipe comandada por Okan Buruk conta com um elenco de qualidade. Jogadores como Davinson Sánchez e Lucas Torreira são nomes conhecidos para os amantes da Premier League, enquanto o trio turco Yunus Akgün, Barış Yılmaz e Abdülkerim Bardakçı foram fundamentais para a conquista do título nacional na temporada passada. Além disso, Osimhen não é a única contratação de peso do Galatasaray neste verão europeu — Leroy Sané chegou em transferência gratuita vinda do Bayern de Munique.

E o mercado segue aberto: mais reforços de alto nível são esperados para Rams Park antes do fim da janela. Okan Buruk já manifestou interesse em um novo goleiro, tendo Ederson, do Manchester City, como principal alvo.

“Temos um orçamento significativo,” afirmou o treinador. “Estamos muito claros sobre a necessidade de um goleiro e vamos buscar um jogador para essa posição. Também avaliamos outras áreas que precisam ser reforçadas.”

Este é, sem dúvida, um momento empolgante para um dos clubes com maior torcida no futebol mundial — e Osimhen parece bastante satisfeito em ser a cara de um projeto tão ambicioso.

“A perspectiva de Osimhen mudou durante seu período de empréstimo no Galatasaray”, afirma Ben Jacobs. “Ele não queria passar novamente pelo que aconteceu no último verão, quando esperou e esperou que algo acontecesse, mas, por uma série de circunstâncias infelizes, nada se concretizou.”

“Hoje, suas prioridades são outras. Ele buscava estabilidade para manter sua forma e estava feliz em continuar no Galatasaray. Além disso, o futebol turco está claramente em ascensão, com vários clubes demonstrando ambição séria. Veja o Fenerbahçe trazendo Jhon Durán, e treinadores renomados como José Mourinho e Ole Gunnar Solskjaer trabalhando na liga.”

“Sempre houve uma cultura futebolística incrível na Turquia, então não é surpresa ver a Liga Turca decolar e atrair grandes nomes. O nível de jogo é alto e os salários competitivos. Mas, acima de tudo, houve uma conexão imediata entre Osimhen e a torcida do Galatasaray. Ele se apaixonou pelo clube. Acredito que esse período de empréstimo foi o fator decisivo para o desfecho dessa história.”

Do ponto de vista neutro, ainda é uma pena que Osimhen atue alguns níveis abaixo de Haaland na próxima temporada — mas, para o nigeriano, talvez isso já não seja o mais importante.