Antes do jogo da Itália das Eliminatórias para a Copa do Mundo contra a Noruega, em novembro, Gennaro Gattuso manifestou sua frustração com o formato europeu do classificatório, no qual apenas os vencedores dos grupos vão diretamente ao torneio, enquanto os segundos colocados precisam disputar a repescagem. “Temos 18 pontos, vencemos seis jogos e, ainda assim, precisamos jogar mais duas partidas para nos classificarmos”, disse o técnico da Azzurra. “Isso não parece justo.”
No entanto, embora existam falhas evidentes na distribuição das vagas para a Copa do Mundo, talvez Gattuso tivesse sido mais prudente ao se manter em silêncio, pois, como deixou claro uma segunda goleada consecutiva sofrida diante da Noruega, a Itália tem sorte de ainda estar viva na briga por uma vaga no torneio do próximo ano, na América do Norte.
Vale lembrar que Luciano Spalletti foi demitido após a derrota por 3 a 0 em Oslo — embora, de forma curiosa, tenha sido autorizado a permanecer no comando no jogo contra a Moldávia três dias depois. E, apesar de os resultados terem melhorado sob o comando de Gattuso, a Azzurra sofreu uma capitulação ainda mais constrangedora no segundo tempo do jogo de volta, no San Siro, em novembro.
Pode-se argumentar que o sorteio da repescagem foi relativamente benevolente com a Itália, já que a equipe deverá superar a Irlanda do Norte na semifinal, em Bérgamo, no dia 26 de março. No entanto, caso avance, terá pela frente o País de Gales, em Cardiff, ou a Bósnia e Herzegovina, em Zenica — um desafio considerável para uma nação aterrorizada pela possibilidade de ficar fora de uma terceira Copa do Mundo consecutiva.
Como observou Daniele De Rossi, campeão mundial em 2006: “A diferença entre as grandes seleções da Europa e as demais diminuiu. Anos atrás, você reconhecia o camisa 10 da seleção como Totti, Del Piero, Baggio. Hoje, você enfrenta a Noruega e está jogando contra o atacante mais forte do mundo ou dois dos melhores pontas do planeta. Precisamos aceitar que hoje existem seleções mais fortes que a Itália — seleções que não eram assim há 20 anos.”
A questão, no entanto, é o porquê disso. O presidente da Federação Italiana, Gabriele Gravina, admite que toda a abordagem da entidade em relação à formação de jovens precisa mudar, mas também chama atenção para o fato de que há apenas 97 jogadores atuando na Serie A que são elegíveis para a seleção.
Questionado em entrevista ao Corriere dello Sport se os clubes de elite da Itália haviam, na prática, se tornado “inimigos” da Azzurra, Gravina respondeu: “Objetivamente, eles são — ainda que de forma involuntária. Cada clube cuida dos próprios interesses.” E, se isso não mudar, os resultados da Itália também não mudarão. Neste momento, parece que toda a estrutura do futebol italiano precisa ser desmontada e reconstruída — mesmo que a seleção consiga chegar à Copa do Mundo pela porta dos fundos.