Trono de Marta ameaçado? Como uma nova Bola de Ouro fez Aitana Bonmatí entrar de vez na discussão de maior jogadora da história

Quando Bonmatí começou a se destacar mundialmente, na temporada 2020/21, tinha apenas 23 anos. Não estava no nível atual, mas já mostrava seu talento enquanto o Barcelona conquistava sua primeira Champions League feminina.

Eleita a melhor em campo naquela final, em que o Barça atropelou o Chelsea por 4 a 1, a espanhola deu início a uma rotina de grandes atuações em jogos decisivos.

Para quem acompanhou aquela campanha brilhante, foi um choque vê-la fora da lista de indicadas à Bola de Ouro. Não apenas Bonmatí merecia estar na disputa, como também sua companheira Caroline Graham Hansen.

Ambas poderiam ter ficado no pódio, enquanto Alexia Putellas, com justiça, levou seu primeiro prêmio. Hoje, no entanto, esse tipo de esquecimento não se aplica mais a Bonmatí, e isso porque sua genialidade ficou escancarada para todos nos últimos quatro anos.

Na Eurocopa 2022, foi a melhor jogadora da Espanha e entrou na seleção do torneio, mesmo com La Roja caindo nas quartas de final. Foi a única atleta do time ideal a não ter chegado às semifinais.

Essa capacidade de crescer sob pressão alcançou outro patamar em 2022/23, quando levou o Barcelona à segunda Champions League e a Espanha à inédita conquista da Copa do Mundo.

Bonmatí foi eleita a melhor jogadora da Champions, a melhor em campo na final do Mundial e a melhor da competição. Até seu prêmio de MVP na final da Supercopa da Espanha pareceu pequeno diante da sequência impressionante de conquistas.

Depois, ainda emendou três temporadas seguidas como melhor da Champions, mais uma premiação de melhor em campo em final de Champions, o prêmio de Melhor Jogadora da Euro 2025, três Bolas de Ouro consecutivas, dois títulos seguidos no prêmio The Best da FIFA e muito mais.

Trata-se de uma jogadora que nunca se esconde. E isso é fruto do trabalho que ela mesma se impôs.

Nos últimos anos, a baixinha do meio-campo refinou e ampliou seu jogo até se tornar uma jogadora completa, capaz de influenciar qualquer partida em qualquer circunstância.

Quando surgiu, chamava atenção pela inteligência de movimentação e pela técnica refinada. Com o tempo, adicionou regularidade nos números ofensivos, passando a marcar com frequência.

Após os nove gols anotados em 2019/20, Bonmatí superou os dois dígitos em todas as cinco temporadas seguintes. Estatísticas não contam tudo, mas ela sempre garante que está contribuindo.

Também fez questão de evoluir no aspecto defensivo, para que seu impacto não se limitasse ao ataque.

“Sou pequena”, disse rindo em entrevista à GOAL na temporada 2022/23. “Mas tento ajudar o time também nas tarefas defensivas, em todas as partes do campo. Três ou quatro anos atrás, decidi que, se queria ser uma jogadora completa, tinha que fazer isso também. Não apenas marcar e dar assistências, mas também defender para ajudar a equipe.”

Depois de cumprir essa etapa, Bonmatí passou a ser ainda mais influente na posse de bola em zonas mais recuadas, e não apenas próximo da área adversária. Parte dessa transformação veio das exigências de Jonatan Giráldez, então técnico do Barcelona, sobretudo na temporada 2021/22.

Mesmo com mudanças de função, tanto no clube quanto na seleção, a naturalidade com que recua, recebe a bola e dita o ritmo do jogo segue evidente. Bonmatí realmente pode fazer de tudo.

É essa evolução que a torna a melhor jogadora do mundo. Independentemente do adversário, do contexto da partida ou da situação em que o time se encontra, Bonmatí consegue adaptar seu jogo da forma mais adequada. Isso porque é talentosa, inteligente e preparada. Por isso, é praticamente impossível anulá-la: sempre deixa sua marca em campo.

Houve inúmeros exemplos disso no último ano, que culminaram na conquista da Bola de Ouro feminina de 2025. A atuação na semifinal da Champions League, no jogo de volta contra o Chelsea, foi um espetáculo de classe, coroado com um belo gol. Antes disso, o desempenho na vitória sobre o Wolfsburg, no jogo de ida das quartas de final, foi talvez ainda melhor. Pela Espanha, a exibição decisiva na semifinal contra a Alemanha também se destacou. Todos, momentos gigantes.

O mesmo aconteceu em 2023/24, quando levou a Bola de Ouro de 2024, e em 2022/23, quando conquistou a de 2023.

Voltando a 2022, ela já havia terminado em quinto lugar na votação, depois de ser inexplicavelmente ignorada em 2021. Trata-se de uma consistência impressionante no mais alto nível, com evolução contínua em todas as facetas do jogo.

O mais impressionante é que Bonmatí ainda nem chegou ao auge da carreira. Se encerrasse hoje sua trajetória, já seria considerada uma das maiores de todos os tempos.

São três Bolas de Ouro consecutivas, melhor em campo na final da Copa do Mundo que ajudou a Espanha a conquistar, melhor jogadora de uma Eurocopa, três títulos da Champions League, sendo eleita melhor em campo em duas finais, e 22 troféus nacionais pelo Barcelona. Quando esse período do futebol feminino for revisitado, Bonmatí será protagonista.

E ainda está longe do fim. Ela está entrando no que se considera a fase de maturidade de um jogador, especialmente no meio-campo. O que a impediria de conquistar a quarta Bola de Ouro? Ou a quinta? Ou a sexta?

Com Bonmatí, talvez estejamos testemunhando aquela que pode se tornar a maior da história. Uma jogadora simplesmente especial e impossível de ignorar no ranking das grandes lendas do futebol feminino.