Trent Alexander-Arnold deixa Liverpool com legado ameaçado por sonho de Bola de Ouro no Real Madrid que jamais vai acontecer

Durante uma entrevista à Sky Sports em outubro passado, Alexander-Arnold foi questionado sobre suas metas de carreira e se ele preferiria conquistar outra Champions League, tornar-se capitão do Liverpool, levantar um troféu com a Inglaterra ou ganhar a Bola de Ouro. Após uma breve reflexão, ele escolheu a última opção.

"[Quero ser] uma lenda do futebol, alguém que mudou o jogo," explicou. "Um ditado que eu carrego é: 'Não jogue o jogo, mude o jogo.' Quero deixar esse legado, ser provavelmente o melhor lateral-direito da história do futebol, para ser honesto."

"É só na manhã seguinte à sua aposentadoria que você pode se olhar no espelho e dizer que deu tudo de si. Não importa quantos troféus você ganha ou quantas medalhas tem. O que importa é o que você deu ao jogo e se conseguiu alcançar todo o seu potencial. Ouvi falar de potencial sendo associado ao meu nome desde os seis anos de idade. Se você atingir esse potencial e se tornar o jogador que acredita ser, um dos melhores de todos os tempos, então estará feliz. Acho que, no fim, não importa quantos troféus você ganha."

Foi nesse momento que ficou claro: Alexander-Arnold estava se preparando para o Santiago Bernabéu. Seu foco, que antes parecia voltado para se tornar uma lenda do Liverpool, agora estava centrado em garantir seu status de superastro no Real Madrid.

Real Madrid certamente oferecerá a Alexander-Arnold uma chance muito mais real de conquistar a Bola de Ouro do que o Liverpool. Os merengues são o maior e melhor clube do mundo, com mais que o dobro de Champions League em relação a qualquer outro. Talvez o mais importante de tudo: eles levam a Bola de Ouro extremamente a sério. Talvez até demais.

A indignação do Real Madrid com Rodri, que venceu Vinícius Jr. por uma margem apertada na votação do ano passado, foi tamanha que o clube tomou a decisão embaraçosamente mesquinha de boicotar a cerimônia — um gesto que não apenas demonstrou o senso de direito incomparável do lado espanhol, mas também evidenciou a enorme importância que atribuem a um prêmio individual dentro de um esporte coletivo.

Ainda assim, é difícil ver Alexander-Arnold tendo uma chance real de ser eleito o melhor jogador do mundo — mesmo com o apoio do incrivelmente poderoso Florentino Pérez. Provar-se o melhor jogador no Real Madrid será um desafio por si só, já que ele terá que superar nomes como Jude Bellingham, Kylian Mbappé e Vinícius Jr. ao longo de um ano inteiro — e tudo isso jogando como lateral-direito.

Há quase duas décadas um defensor não vence o prêmio (o último foi Fabio Cannavaro, em 2006). Mesmo considerando a maior importância dos laterais no jogo moderno, seria necessária uma temporada extraordinária para colocar Alexander-Arnold na disputa. Lembre-se de que Dani Carvajal, com seu desempenho consistentemente maravilhoso, venceu tanto a Liga dos Campeões quanto o Campeonato Europeu no ano passado — e mesmo esse duplo triunfo não foi suficiente para garantir ao espanhol um lugar no pódio.

Nesse contexto, Didi Hamann tem razão quando diz: "Se ganhar a Bola de Ouro é a razão pela qual ele quer se juntar ao Real Madrid, ele deve esquecer isso e ficar no Liverpool!"

Para ser justo com Alexander-Arnold, ele está plenamente ciente de que muitos o consideram "iludido" por acreditar que pode ganhar a Bola de Ouro, mas isso também acaba por perder o ponto principal. Em sua visão, não se trata apenas de levantar o troféu ou não, mas de se colocar na melhor posição possível para isso — e ele acredita que a mudança para Madri é fundamental nesse aspecto.

Certamente, a transferência não prejudicará suas chances, mas, por outro lado, manchará seu legado no Liverpool. Não há como fugir desse fato.

Embora já tenham sido feitas tentativas online de minimizar ou até apagar o papel de Alexander-Arnold no sucesso do Liverpool sob Klopp, sua contribuição essencial jamais será esquecida. Ele fará parte para sempre da lenda de Anfield, especialmente por aquele escanteio cobrado rapidamente.

Klopp considera até mesmo o produto da academia como a adição mais significativa feita ao seu elenco durante seus nove anos à frente do time — o que é um grande elogio, considerando que Mohamed Salah, Virgil van Dijk, Sadio Mané, Fabinho e tantos outros grandes jogadores foram contratados sob a supervisão do técnico alemão.

Claro, a participação proeminente de Alexander-Arnold em uma das eras mais emocionantes da história do clube torna sua iminente partida ainda mais difícil de digerir. Alguns torcedores já o acusaram de trair seu clube de infância, algo que incomodou o ex-jogador do Liverpool, Stephen Warnock.

"Não consigo acreditar na negatividade direcionada a Trent Alexander-Arnold... Comentários como 'Ele deveria ter vergonha' e 'Ele não é leal' são delirantes. Ele tem o direito de fazer suas próprias escolhas e se desafiar em uma liga e país diferentes," escreveu Warnock no Twitter. "Ele conquistou tudo com o Liverpool, foi um servo incrível do clube e merece uma grande despedida dos fãs."

No entanto, isso parece improvável, dado o tom emocional da saída de Alexander-Arnold. Ele não está apenas deixando o Liverpool; ele está saindo de graça.

Jamie Carragher tentou minimizar o impacto financeiro da perda de Alexander-Arnold ao lembrar que o lateral-direito não custou nada ao clube, mas essa perspectiva só agrava a situação do ponto de vista financeiro, especialmente considerando a crescente importância de lucrar com jogadores formados na base no cenário econômico atual.

O dinheiro que poderia ter sido arrecadado com uma venda no verão passado poderia ter sido usado para contratar um substituto (o que, obviamente, será caro) ou fortalecer o elenco em outras áreas, caso o clube acredite que Conor Bradley esteja pronto para preencher a lacuna na lateral direita.

Alexander-Arnold dificilmente é o culpado pela perda de receita do Liverpool. Mesmo que ele tenha optado por deixar seu contrato chegar ao fim para se tornar mais atraente para o Real Madrid e maximizar seu potencial de ganhos no Bernabéu, ele poderia — e, na verdade, deveria — ter sido impedido de fazer isso.

Ao contrário de Salah e Van Dijk, que também estavam prestes a ficar sem contrato antes de comprometerem seus futuros com os Reds, Alexander-Arnold nunca deu qualquer indicação de que queria ficar em Anfield além do final da temporada. Dos três, ele sempre foi o mais provável de sair, o que significa que sua situação deveria ter sido resolvida, de alguma forma, no verão passado.

Novamente, Carragher insistiu que a culpa não deveria ser atribuída ao Fenway Sports Group (FSG) pela recente agitação nos bastidores de Anfield, com vários diretores esportivos indo e vindo. Mas quem, então, é responsável por isso? A responsabilidade sempre recai sobre os chefes, e não importa o que estava acontecendo no nível do conselho. Alexander-Arnold deveria ter sido amarrado a um novo contrato ou vendido para o maior comprador. As pessoas podem tentar complicar as coisas, mas a questão é realmente simples.

As emoções provocadas pela sua partida são, sem dúvida, muito mais complexas e conflitantes. Há gratidão por tudo o que Alexander-Arnold deu ao Liverpool. Os Reds não teriam sido a força implacável e irreprimível que foram sob Klopp sem seu lateral-direito desbravador, com cruzamentos mortais e uma gama de passes simplesmente impressionante.

No entanto, também há raiva. Ele está saindo justamente quando está prestes a entrar em seus melhores anos — e em um momento em que o Liverpool está ressurgindo como uma força importante na Inglaterra e na Europa. Alexander-Arnold deveria ajudar o Liverpool a vencer o Real Madrid, não se juntar a eles.

Acima de tudo, há uma sensação de tristeza por uma história de amor tão bonita com o Liverpool ter um final tão infeliz. Jogadores que passam toda a carreira em um só clube são raros hoje em dia, mas Alexander-Arnold parecia ser um deles, o modelo dos Reds, que traçou um caminho desde a academia até Anfield.

Ele uma vez afirmou que os troféus conquistados sob o comando de Klopp tinham mais valor do que aqueles conquistados pelo Manchester City durante o mesmo período, porque "Estamos enfrentando uma máquina construída para vencer". E agora ele está se juntando ao Madrid, um clube apoiado pelo estado, o mais rico e bem-sucedido da Champions League.

A mudança não faz sentido nesse aspecto. Mas, como o próprio Alexander-Arnold disse, ele não é mais movido apenas por vencer troféus com um time específico. Agora, tudo se resume a alcançar objetivos pessoais. Não há nada de estranho ou incomum nisso, é claro; a maioria dos jogadores de futebol modernos pensa da mesma forma.

Os torcedores ainda vão ficar chateados, no entanto. O melhor que Alexander-Arnold pode esperar agora é uma despedida respeitosa nas semanas finais da temporada, já que ele esteve negociando sua transferência para o Madrid enquanto o Liverpool lutava pelo título, criando uma distração totalmente desnecessária.

O ressentimento profundo dos Reds também é compreensível. Trent era um dos seus, o garoto local vivendo o sonho, um sonho compartilhado. Alexander-Arnold realizou o dele, mas agora ele tem um novo.

Em sua visão, buscar a Bola de Ouro no Real Madrid significa mais do que usar a braçadeira de capitão no Liverpool. Infelizmente, ele nunca terá nenhum dos dois em suas mãos — e só Alexander-Arnold saberá, ao olhar no espelho após a aposentadoria, se foi um sacrifício que valeu a pena.