Trent Alexander-Arnold está certo: novo título de Premier League para o Liverpool ofuscaria a era Guardiola no Manchester City

Rúben Dias e Erling Haaland não pouparam saliva nas respostas a Alexander-Arnold, apontando que o lateral-direito não tem ideia de como é a sensação ganhar uma tríplice coroa, por exemplo. A questão é que, no entanto, há um elemento de verdade no que Arnold disse. Mas não sobre o que os títulos significam para os torcedores, é claro.

Os torcedores do City que se lembram do pesadelo do rebaixamento para a terceira divisão agora estão se deleitando em um lindo sonho. Cada troféu parece coisa de outro mundo e, portanto, é muito precioso. No entanto, não há como negar que algumas vitórias são mais valiosas do que outras. Sempre foi assim no futebol.

Francesco Totti sempre insistiu que nunca sentiu o mínimo ciúme do sucesso da Juventus durante sua carreira como jogador, e ainda não tem arrependimentos por permanecer na Roma durante toda a sua carreira profissional - porque um Scudetto com o clube da sua cidade natal valia "dez vezes mais do que em qualquer outro lugar".

Kylian Mbappé, por outro lado, está prestes a conquistar o sexto título da Ligue 1 em Paris, onde nasceu - no entanto, o campeonato que ele conquistou com o Monaco será sempre uma conquista mais significativa, dada o domínio do PSG no futebol francês por mais de uma década.

E com certeza até os torcedores do Liverpool admitiriam que o primeiro título da primeira divisão inglesa em 30 anos não foi mais especial do que a aguardada vitória da Serie A pelo Napoli na última temporada.

Ou você acha que algum desses feitos se compara ao milagre do Leicester City de 2016?

O ponto é que, quando se trata de avaliar sucesso, o contexto é sempre fundamental, e é por isso que o último encontro entre Liverpool e Manchester City no domingo é tão importante. Legados estão em jogo em Anfield.

Claro que não se trata de uma decisão de título. Está muito apertado no topo da tabela para fazer uma afirmação tão firme quanto a quem vai levantar o troféu nesta fase da temporada, especialmente considerando ainda restam mais de dez rodadas e há um terceiro time em jogo - o Arsenal, que assumiu o topo da tabela com o empate em 1 a 1 em Merseyside.

Liverpool conquistou o primeiro grande troféu da temporada, a Carabao Cup, em circunstâncias extraordinárias - assolados por lesões, mas derrotando o 'bilionário fracassado' Chelsea com uma equipe de garotos.

No entanto, se o retorno dos "monstros mentais" é uma perspectiva aterrorizante para os rivais do Liverpool, então também é o retorno da "máquina" vencedora de Pep Guardiola na reta final da temporada.

A atual série invicta de 21 jogos do City se estende desde dezembro, tornando ridícula a afirmação de Guardiola de que seu elenco estelar tem praticamente zero chances de conquistar um segundo triplo consecutivo. Não só é possível; é realmente provável.

O City está apenas um ponto atrás do Liverpool na tabela da Premier League (com uma lista de jogos mais favorável), são os favoritos claros para vencer a Liga dos Campeões e enfrentam o Newcastle nas quartas de final da Copa da Inglaterra. A história está lá para ser feita.

Claro, o Liverpool também está tentando algo único: um quádruplo. Na verdade, ainda parece um sonho distante, dado o estado de seu elenco (Alexander-Arnold, Diogo Jota e Alisson estão entre vários titulares ainda ausentes devido a lesão). Mas a Premier League é claramente um objetivo realista - e um objetivo muito importante.

Se a vitória significaria mais para os torcedores do Liverpool ou do City é altamente discutível. O Liverpool pode ter vencido apenas um título da Premier League, mas comentários anteriores de Pep e seus jogadores ressaltaram que o City, sem dúvida, tiraria tanto prazer em tirar outro título ao seu maior rival quanto em vencer um quarto consecutivo sem precedentes.

O que também está claro é que a conquista de Klopp de uma segunda Premier League o veria se despedir de Anfield tendo indiscutivelmente superado as conquistas de Guardiola no Etihad. Isso pode parecer estranho, considerando que Klopp deixará o Liverpool tendo ganhado menos troféus que Guardiola - mesmo que ele conquiste os quatro em disputa até o final da temporada.

Mas é verdade - dada a disparidade de recursos e o contraste muito marcante nos pontos de partida.

Klopp chegou a um clube em crise que nunca havia conquistado a Premier League e herdou um elenco muito fraco de Brendan Rodgers, contendo nomes como Christian Benteké, Joe Allen e Steven Caulker. Através de um bom projeto no mercado de transferências, ótimo gerenciamento de equipe e pura força de personalidade, ele transformou o Liverpool em campeão de tudo.

Guardiola, em completo contraste, assumiu uma equipe que havia conquistado o título dois anos antes e foi recebido no Etihad por Kevin De Bruyne, Sergio Agüero e David Silva, além de uma série de rostos conhecidos de seu tempo no Barcelona.

Graças a um poço sem fundo de dinheiro de Abu Dhabi, os ex-colegas de Guardiola haviam construído um clube à imagem do catalão. Isso não era apenas futebol de fantasia, era gestão feita sob medida. O sucesso era inevitável, era apenas uma questão de quando ele chegaria - e a única surpresa em torno do tempo de Guardiola no Etihad é que demorou tanto para o City conquistar a Europa - mas conquistou.

O dinheiro nunca foi um problema, afinal. Enquanto a ascensão do Liverpool ao topo foi muito auxiliada por um quase impecável histórico no mercado, o City podia se dar ao luxo de cometer erros. Contratados por cerca £100 milhões, Jack Grealish e Josko Gvardiol podem simplesmente ficar no banco até estarem prontos para contribuir. Sempre haverá alguém para oferecer opção.

O Liverpool fez algumas contratações milionárias sob o comando de Klopp - mas geralmente financiadas por vendas inteligentemente cronometradas, enquanto nunca houve dúvida sobre a origem do dinheiro.

O Fenway Sports Group não é unanimidade em Anfield - mas ele nunca permitiu que o Liverpool desrespeitasse as regulamentações do Fair Play Financeiro da UEFA ou as Regras de Lucro e Sustentabilidade da Premier League.

Alguns torcedores rivais tentaram argumentar que a conquista do título pelo Liverpool em 2020 não deveria contar porque as etapas finais da temporada foram disputadas sem torcida, mas não há dúvida de que eles mereciam vencer uma liga que estavam dominando totalmente antes da suspensão forçada do jogo devido à pandemia.

De fato, são os títulos do City que agora carregam um grande asterisco - e que não desaparecerá a menos que o clube vença as 115 acusações apresentadas pela Premier League.

Não há dúvidas sobre as conquistas de Klopp. Ele e os Reds podem não ser universalmente apreciados, mas são, pelo menos, respeitados. E se ganharem outro título nesta era de sucesso contínuo do City, não apenas representaria a despedida perfeita para Klopp, mas também se classificaria como sua maior conquista de todos os tempos.

Lembre-se, ele já disse que a vitória na Carabao Cup foi o "troféu mais especial" de sua carreira por causa das circunstâncias em torno do jogo. Derrubar o City, atual vencedor da tríplice coroa, como campeão da Inglaterra seria em um nível totalmente diferente - especialmente porque esta temporada deveria ser de transição em Anfield.

As pessoas ainda apontarão para o número de troféus, é claro - mas Guardiola já venceu a Bundesliga mais vezes que Klopp e ainda assim ninguém em sã consciência argumentaria que o tricampeonato de Pep no Bayern de Munique foi tão significativo quanto os títulos consecutivos do Borussia Dortmund.

É uma história semelhante na Inglaterra - e Guardiola também sabe disso, tendo repetidamente destacado no passado que os triunfos do City não são recebidos com nada parecido com o mesmo alarde dos do Liverpool. Por quê? Porque são esperados.

O City merece grande crédito pela maneira como construiu uma máquina vencedora; eles são o modelo que todos os outros clubes deveriam seguir. Afinal, como o Paris Saint-Germain provou, ter quantias absurdas de dinheiro é uma coisa, gastá-las com sabedoria é outra completamente diferente.

Mas a tríplice coroa do City não foi um conto de fadas, foi uma formalidade - a conclusão lógica de um investimento histórico feito por um estado rico do Golfo em uma empresa local. Em contraste, Klopp conseguiu não apenas competir com o melhor time que a primeira divisão da Inglaterra já viu, mas também ocasionalmente vencê-los.

Nesse sentido, sua gestão já pode ser considerada incrível, e outro título a tornaria verdadeiramente extraordinária. Guardiola ganhou muitas coisas no Etihad - e com estilo sublime também - mas o contexto realmente é fundamental e, assim como o único Scudetto de Totti ou o título solitário do Leicester, o que Klopp realizou em Anfield simplesmente significa mais.