Subestimado, Sergio Busquets é vital para os sonhos de título do Inter Miami

Alguém tinha que iniciar essa revolução do Inter Miami. Sempre havia uma certa sensação de que Lionel Messi acabaria em South Beach, especialmente uma vez que um possível retorno ao Barcelona não se concretizou. E quando foi definitivo, alguns outros ex Blaugranas também fizeram a mudança. Busquets foi o primeiro. Sua saída do mais alto nível do futebol foi um pouco confusa - se não fosse apenas porque ele teve uma temporada de sucesso pelo Barça, e parecia ter condições de jogar mais uma no alto nível.

Ainda assim, ele se mudou para Miami e parecia se encaixar bem como o camisa 6 em um sistema reformulado. Todas as peças estavam na mesa. Jordi Alba subindo e descendo pela esquerda, Busquets girando e distribuindo o jogo e Messi oferecendo sua magia mais à frente no campo. Houve alguns momentos estranhos no começo. Busquets parecia perplexo na primeira vez que recebeu um passe na MLS, e percebeu que não havia pressão imediata sobre ele. Um volante defensivo que ganhou a vida jogando em espaços apertados certamente tinha espaço para trabalhar. Isso, é claro, estava longe de ser algo ruim. Busquets impressionou em suas primeiras atuações em South Beach. Seu percentual de conclusão de passes de 89,2 foi sua maior marca desde 2020/21, que foi 91,2. E embora ele estivesse fazendo menos passes longos do que em sua última passagem pelo Barça, ele era uma presença crucial e organizada na base do meio-campo de Miami.

Sem a bola, ele foi igualmente valioso. Seu percentual de conclusão de desarmes de 64,9% foi o mais alto desde a temporada 2019/20. E, de maneira mais ampla, os espaços abertos das frenéticas partidas da MLS não provaram ser um grande problema - mesmo para um volante defensivo cujo auge físico é apenas uma lembrança.

Este ano, no entanto, as coisas parecem diferentes. O Inter Miami é uma equipe muito diferente em todos os aspectos. Suárez foi, é claro, a grande contratação. Mas a adição de Julian Gressel para preencher lacunas e a melhora de Diego Gomez nas áreas de ataque fizeram com que os Herons se tornassem mais completos. No entanto, uma série de lesões e ausências forçadas devido a uma data FIFA obrigaram o treinador Tata Martino a ser criativo. A princípio, era uma questão de recorrer ao seu banco para trazer jogadores como Yannick Bright para a equipe.

No entanto, durante a janela de meio do ano, o ex-técnico do Barca mudou completamente a formação, passando de um 4-3-3 padrão para um sistema de três zagueiros. O resultado foi Busquets atuando como zagueiro pela primeira vez em sua carreira.

"Tive que jogar mais como zagueiro devido a lesões, suspensões e muitas outras coisas. E não é minha posição natural, mas também me sinto bem, acho que posso ajudar a equipe e o que quer que a equipe precise, estarei disponível," disse Busquets.

Até agora, no entanto, tem sido uma mudança razoavelmente eficaz. Busquets começou oito jogos como zagueiro. O Miami venceu seis deles, com os adversários marcando um gol - ou nem isso - em sete deles. Não é apenas a presença do espanhol que levou a esses números defensivos - mas ele certamente não foi um prejuízo atuando em uma posição até então desconhecida.

Mas não tem sido tudo um mar de rosas. Pelo contrário, Busquets teve dificuldades em alguns momentos. o Inter Miami pode ser assustadoramente vulnerável aos contra-ataques, e apesar da sua temporada regular recorde, certamente há fragilidades defensivas que podem ser expostas pelos adversários certos. Busquets não está isento da culpa nisso. Fundamentalmente, isso se deve à idade. Busquets nunca teve um grande físico e agora com 37 anos, suas pernas longas começaram a desacelerar ainda mais. Ele não é alguém que pode correr para frente e para trás nas transições.

"Você corre riscos quando se trata de defender," admitiu Busquets. "Sendo o último a deixar espaços para trás, é uma questão de adaptação."

O melhor exemplo foi uma humilhação de 6 a 1 sofrida para o FC Cincinnati em julho. A equipe de Miami esteve desorganizada defensivamente durante todo o jogo, enquanto o time da casa os despedaçou. Busquets, por sua vez, teve que arcar com parte da culpa pelo resultado. Ele perdeu seu alvo como marcador no primeiro gol, foi driblado com muita facilidade no segundo e deixou passar o terceiro. Ele encerrou sua participação no jogo tomando o segundo amarelo, deixando seu time com 10 em campo para os 30 minutos restantes.

Essa apresentação de Busquets foi uma exceção, e ele só melhorou desde então. Jogar no meio de uma linha de três zagueiros tem suas vantagens. Busquets sempre foi melhor quando se posicionava entre os zagueiros e avançava com a bola, algo que Pep Guardiola revolucionou no futebol. Apesar de muitos tentarem, ninguém faz isso como ele.

Entrar nessas áreas exige coordenação e tempo. Os padrões de jogo precisam estar claros, e o adversário deve estar na posição certa para que um passe certeiro inicie um ataque. Busquets não tem mais o mesmo fôlego, mas ainda tem a inteligência tática necessária. Quando joga na defesa de três, ele já começa nessa posição.

Martino ajudou nessa situação escalando volantes dedicados na frente de Busquets. Bright, em sua primeira temporada, tem se destacado. Ele está na 93º posição em desarmes, 98º em interceptações e 90º em cortes, sendo o apoio ideal para Busquets.

"É muito difícil jogar como ele... Se você tentar, não vai conseguir," disse Bright à GOAL.

Bright também tem sido um líder, explicando a Busquets onde a bola deve ir e como se posicionar. Martino elogiou Busquets após a vitória do Miami por 3 a 2 contra o Columbus Crew.

“Ele [Busquets] tem muita capacidade e inteligência. Hoje, mesmo sem muito tempo com a bola, organizou tudo na defesa,” afirmou Martino.

E Busquets pode ser a chave nas próximas semanas. Messi será indiscutivelmente o foco de tudo - e com razão. Sua produção fará a diferença daqui para frente. Eles, obviamente, precisarão da ajuda de Suárez nas áreas de ataque também. Se Jordi Alba quiser arriscar outro chute a 23 metros, o Inter Miami certamente não vai reclamar.

Mas organizando tudo pelo meio está aquele alto espanhol. E ele poderia jogar em qualquer lugar. Martino agora tem algo que se parece com um elenco completamente saudável à sua disposição. No Mercedes Benz Stadium, ele pode estar inclinado a usar Busquets no meio de uma linha de três zagueiros. Seu papel habitual como um nº6 em um tradicional 4-3-3 também poderia estar em pauta. Uma coisa é certa, embora o Miami não saiba mais viver se seu volante defensivo, um jogador que, mesmo recebendo o segundo maior salário, jogando em uma liga em que ele está entre os nomes mais reconhecíveis, ainda consegue ser subestimado. Busquets pode não ocupar as manchetes, mas pode ser o que dará ou acabará com as esperanças do Inter Miami na Copa da MLS.