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Steven Pienaar: o sul-africano que virou meme com Joel Santana, enfrentou ladrões de cuecas e entrou para a história do Everton

'The Barclays'. Embora a Premier League tenha sido patrocinada pelo banco entre 2001 e 2016, o período mais nostálgico para muitos fãs é a primeira década dos anos 2000.

Após sua criação em 1992, a Premier League experimentou um segundo boom de popularidade com a chegada de contratos de direitos de transmissão internacionais na televisão e estrelas estrangeiras, ganhando apelo global. Durante essa fase, jogadores como Cristiano Ronaldo, Thierry Henry e Didier Drogba brilhavam semanalmente.

Contudo, quando os fãs falam de "The Barclays", lembram-se de jogadores que estavam nos bastidores, mas eram essenciais para o sucesso da liga, com momentos de destaque de vez em quando. Esses jogadores ficaram conhecidos como "Barclaysmen", e a GOAL explica o que os tornou tão queridos.

Steven Pienaar, jogador sul-africano que atuou por Everton, Tottenham e Sunderland, é um desses exemplos. Ele se destacou no Everton de David Moyes, tornando-se um ídolo para os torcedores dos Toffees e da seleção sul-africana.

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    De onde ele veio

    Crescido em Westbury, nos arredores de Joanesburgo, na África do Sul, Steven Pienaar usou o futebol como fuga de uma realidade marcada pela violência e crimes. Em uma área onde até assistir TV era perigoso, ele tinha que se deitar no chão para evitar ser atingido por tiros, já que a qualquer momento uma bala poderia atravessar a janela.

    Sua habilidade com a bola lhe deu a chance de sair dessa vida. Aos 19 anos, ele assinou com o Ajax Cape Town, clube parceiro do time holandês, e, dois anos depois, foi contratado pelo Ajax de Amsterdã. Lá, ele conquistou dois títulos da do campeonato nacional e a Copa da Holanda, antes de se transferir para o Borussia Dortmund em 2006.

    No Dortmund, comandado pelos técnicos Bert van Marwijk e Thomas Doll, Pienaar não viveu os melhores momentos. O time estava longe de ser o vencedor de títulos como o Campeonato Alemão ou a Champions League. Sem muito espaço, foi emprestado ao Everton, onde iniciou sua carreira na Premier League, e depois assinou um longo contrato com os Toffees.

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  • Carreira

    Steven Pienaar demorou algumas semanas para conquistar seu lugar no time titular do Everton, mas se destacou em sua terceira partida como titular, contra o Middlesbrough, ao marcar um belo gol após passe de Mikel Arteta.

    No Everton, Pienaar ficou conhecido por suas habilidades técnicas, gols bonitos e comemorações dançantes. Seu estilo ousado dificultava a marcação dos defensores e encantava os torcedores, enquanto sua movimentação inteligente sem a bola criava muitas jogadas perigosas. Ele formou uma boa parceria com Leighton Baines, destacando-se por seu trabalho duro e dedicação. "Gostava do Goodison Park, embora sempre me sentisse tão nervoso dirigindo para lá que tocava louvor no meu carro... Tive uma boa companhia com Leighton Baines pela esquerda. Éramos dois jogadores que trabalhavam duro um pelo outro."

    Na temporada 2008/09, ele foi decisivo, com gols e assistências importantes, e ajudou o Everton a terminar em quinto lugar. "Antes de vir para a Inglaterra, eu era um jogador meio 'preguiçoso'. Estive no Ajax por seis anos e jogava de forma ofensiva, mas uma vez no Everton tive que mudar meu senso ético de trabalho, aprender a voltar para defender, e isso me tornou um jogador melhor."

    Em 2011, ele foi contratado pelo Tottenham por 3 milhões de libras (pouco mais de R$ 22 milhões), com mais ambição e buscando a chance de disputar aChampions League. "Não era sobre o dinheiro, era sobre ambição. Queremos lutar e jogar cada partida no mais alto nível e jogar na Liga dos Campeões", explicou na época. No entanto, sua passagem pelo Spurs foi curta e problemática, com apenas 10 partidas na Premier League. Ele retornou ao Everton, onde teve uma temporada excelente em 2012/13, com seis gols e seis assistências, ajudando o clube a terminar em sexto lugar.

  • "Um dos adversários mais difíceis que já enfrentei"

    Steven Pienaar pode não ser o primeiro nome que vem à mente quando pensamos nos ídolos da Premier League daquela era, mas ele certamente deixou uma forte impressão, especialmente entre seus colegas de profissão. Phil Bardsley, ex-jogador do Manchester United e Sunderland, destacou sua habilidade em campo:

    "Obviamente, o futebol mudou e as formações também. Quando comecei a jogar, até a metade da minha carreira, você enfrentava um 4-4-2 rígido e um ponta-esquerda", disse Bardsley. "E isso mudou com Steven Pienaar no Everton e Leighton Baines no lado esquerdo. As pessoas falam sobre adversários, mas Pienaar foi um dos mais difíceis que já enfrentei. Ele te arrastava para lugares. Ele era como um número 10 jogando pela esquerda. Ele fazia você pensar 'devo pressionar mais ou me manter na minha posição?' Pessoas como Pienaar e [Eden] Hazard causavam isso."

    A parceria dele com Leighton Baines do lado esquerda do Everton também foi essencial para o time, que, mesmo com um orçamento menor que os grandes clubes, conseguiu brigar por uma vaga nas competições europeias. O treinador David Moyes comentou sobre essa dinâmica: "Sempre queríamos que Pienaar se fizesse presente, puxando o lateral. Se o lateral não seguisse, ficávamos felizes com a combinação entre Baines e Pienaar, porque eles se entendiam perfeitamente."

    Pienaar também era um líder calado. O zagueiro Phil Jagielka contou: "Você pode contar nos dedos os jogos ruins de Steven. Confiávamos muito nele e no Baines. Quando as coisas não iam bem, era para eles que olhávamos. Ele nunca se escondia, continuava lutando pela bola, e isso mostrava o tipo de caráter que ele tinha."

  • Meme com Joel Santana

    Um dos momentos mais curiosos e marcantes da Copa das Confederações de 2009 foi a menção de Steven Pienaar em uma das entrevistas mais icônicas já dadas por um técnico brasileiro.

    Naquele ano, Joel Santana, o emblemático treinador brasileiro, estava à frente da seleção da África do Sul, preparando a equipe para a Copa do Mundo de 2010. A entrevista, realizada à beira do gramado após o jogo contra o Iraque, logo se tornou uma das mais engraçadas e inusitadas. Com seu inglês peculiar e carregado de sotaque, Joel Santana foi questionado sobre o desempenho de sua equipe. Durante a conversa, o técnico fez questão de elogiar Pienaar, criando um dos seus depoimentos mais memoráveis: "pray, pray very good, Steve Pinap".

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    Seguindo em frente

    A segunda passagem de Pienaar pelo Everton durou quatro anos e meio, terminando em 2016, aos 34 anos. Ele então se juntou a David Moyes no Sunderland, mas a temporada foi desastrosa, com o time terminando na lanterna da Premier League.

    Após não ter seu contrato renovado, Pienaar retornou à África do Sul e passou uma temporada no Bidvest Wits, onde venceu a Copa da África do Sul, antes de se aposentar.

    Com 62 partidas pela seleção sul-africana, bicampeão do Campeonato Holandês e ídolo no Everton, ele encerrou sua carreira de maneira inusitada, após enfrentar um ladrão em sua casa. "Anunciei minha aposentadoria ao vivo na TV. Não sei se foi a decisão certa. Fui para o Bidvest para estar perto da minha família, sem pressão, mas as coisas não saíram como eu esperava. Me arrependo de não ter ido para o Ajax Cape Town e ajudado os jogadores mais jovens", disse Pienaar.

    Ele também relatou o ocorrido com o assaltante: "Já havíamos sido roubados alguns meses antes quando o alarme disparou com minha família em casa — não percebi que tínhamos sido assaltados até notar que a televisão estava faltando. As crianças ficaram em choque. Decidimos nos mudar para a Holanda e estávamos no processo de empacotamento. Então, na noite antes de eu aparecer na TV, o alarme disparou novamente. Pulei da cama de cueca e vi um homem saindo com minha nova TV."

    "Pensei: 'Você está de brincadeira, saindo com minha TV como se fosse uma coisa normal?' Eu dei uma voadora nele e a TV caiu no chão. Eu e ele lutamos e trocamos socos. Ele estava ficando nervoso. Agora era a vez dele ficar em choque às 2 da manhã. Eu estava cansado de ser roubado e o derrubei. O homem gritou: 'Eu vou te matar!' e eu pensei: 'E se ele tiver uma arma?' Ele saiu correndo. Tentei seguir, mas voltei para casa, entrei no meu carro e dirigi tentando encontrá-lo novamente, mas ele havia desaparecido."

  • Vida após o futebol inglês

    Após se aposentar, Pienaar voltou à Holanda e começou a treinar no futebol amador, antes de se juntar à categoria de base do Ajax. Passou seis anos lá, chegando a ser auxiliar técnico da equipe sub-18. Em 2024, ele deixou o Ajax para se tornar treinador de jovens em um clube nos Emirados Árabes Unidos.

    No início, Pienaar não gostava das muitas horas de treinamento, mas parece agora enxergar seu futuro no futebol, embora ainda não saiba se seguirá como treinador principal ou em outro papel.

    Sempre envolvido com causas sociais, especialmente por ter crescido na pobreza, Pienaar continuou seu trabalho comunitário após a aposentadoria, organizando torneios de futebol para crianças em seu bairro natal.

    Ele também manteve laços estreitos com o Everton, uma vez que o time de Merseyside o nomeou embaixador internacional, um papel no qual ele comandava treinos para refugiados e imigrantes.

    "O futebol é um esporte especial que une as pessoas – quaisquer problemas que você esteja tendo na vida parecem desaparecer quando você entra em campo," explicou Pienaar em 2018.

    "Nasci na África do Sul durante o apartheid e sei como o esporte, incluindo o futebol, pode ajudar a unir as pessoas e derrubar barreiras. Estive nessa situação e sempre quis me envolver com a comunidade."

  • Everton v Sporting Lisbon - UEFA Europa leagueGetty Images Sport

    Legado duradouro

    Sua carreira pode não ter sido repleta de títulos, prêmios individuais e glamour, mas o sul-africano conquistou muitos fãs com suas passagens de destaque na Holanda e na Inglaterra.

    Os torcedores do Everton, por exemplo, continuam a lembrar com carinho do empolgante ponta que fez 229 jogos e marcou 26 gols em todas as competições pelo clube, ajudando o time a chegar à final da Copa da Inglaterra em 2009. Naquela temporada, ele foi eleito o Jogador do Ano da África do Sul e o melhor jogador do Everton na temporada seguinte.

    Embora suas passagens por Tottenham e Sunderland não tenham sido marcantes, Pienaar se destacou o suficiente na Premier League para se tornar um herói para muitos.

    Ele também continua sendo lembrado com carinho em sua terra natal, onde representou a seleção sul-africana em competições importantes como a Copa Africana de Nações, a Copa das Confederações e, claro, na Copa do Mundo de 2010, realizada na África do Sul.