As sete questões que Thomas Tuchel precisa resolver para fazer o trabalho engrenar na Inglaterra

Jordan Pickford é o dono da posição desde 2018, mas a concorrência cresceu. Dean Henderson mostrou personalidade ao brilhar na final da FA Cup pelo Crystal Palace, mas falhou em seu teste com a seleção diante de Senegal. A ameaça maior, no entanto, vem de James Trafford.

Herói do título da Eurocopa sub-21 em 2023, Trafford brilhou em 2024/25 pelo Burnley: apenas 16 gols sofridos em 45 jogos da Segunda Divisão Inglesa, com impressionantes 85% de defesas em finalizações ao gol. Além disso, mostrou qualidade em pênaltis, defendendo um decisivo na final contra a Espanha e dois em uma partida contra o Sunderland.

Após retornar ao Manchester City, deixou claro que quer tomar a camisa 1 de Pickford. A chegada de Gianluigi Donnarumma ao clube pode reduzir seu espaço, mas a disputa promete ser saudável. O jogo contra Andorra seria ideal para dar ao jovem goleiro a chance de estrear e medir sua capacidade sob pressão.

Tuchel surpreendeu ao deixar fora da convocação Trent Alexander-Arnold e Kyle Walker, punido pela péssima atuação diante de Senegal. Assim, a posição está aberta entre três opções: Reece James, Tino Livramento e o estreante Djed Spence.

James é o favorito pela experiência e pela parceria com Tuchel no título da Champions League pelo Chelsea. O problema são as recorrentes lesões musculares: seis afastamentos longos em quatro anos, além de cirurgia recente. Para piorar, perdeu espaço no próprio Chelsea para Malo Gusto nas últimas rodadas.

Livramento e Spence, por sua vez, vêm atuando pelo lado esquerdo em Newcastle e Tottenham, respectivamente, apesar de serem destros. Ambos buscam convencer Tuchel de que podem assumir protagonismo na posição.

Com Alexander-Arnold devendo voltar ao grupo assim que se firmar no Real Madrid, esta é uma chance de ouro para James, Livramento e Spence mostrarem que podem ser a principal alternativa do treinador para a lateral direita.

Tuchel tem uma relação confusa com seus jogadores. Notícias de que ele havia participado de festas com membros do Chelsea campeão da Champions League, no início do ano, mostraram que sabe ser acessível. Porém, declarações fora de hora, como quando disse que sua mãe achava Jude Bellingham “repulsivo”, algo pelo qual pediu desculpas na semana passada, revelam como pode se complicar facilmente com os atletas.

O treinador da Inglaterra não tem a mesma ligação próxima que Gareth Southgate construiu com o grupo, e provavelmente nunca terá. Mas também precisa evitar ser visto como um novo Fabio Capello, que mantinha uma relação fria e conflituosa com o elenco, algo que não ajudou em nada a seleção.

Tuchel precisa aproveitar ao máximo o curto tempo de convívio para se aproximar melhor dos jogadores e, acima de tudo, evitar novos deslizes em suas falas.

Mesmo depois da polêmica com a mãe do técnico, Bellingham continua sendo o coração da seleção, assim como foi nos últimos anos de Southgate. Ele fará muita falta nesta convocação, já que se recupera de cirurgia no ombro, e alguém precisará ocupar seu espaço em qualidade técnica e personalidade, especialmente na visita à Sérvia.

Elliot Anderson, que ganhou a primeira chance na seleção após se destacar na Euro sub-21, é o jogador do grupo com mais semelhanças ao meia do Real Madrid. Ele pode atuar como box-to-box em um meio-campo de dois jogadores e também se destacou no Nottingham Forest como camisa 10 na ausência de Morgan Gibbs-White.

O próprio Gibbs-White pode herdar a função criativa de Bellingham, enquanto Morgan Rogers, também natural de West Midlands, tem experiência na posição no Aston Villa e já a exerceu pela Inglaterra contra a Letônia em março. Rogers e Gibbs-White vivem fases empolgantes em suas carreiras e agora têm uma oportunidade de ouro para assumir maiores responsabilidades de liderança na ausência de Bellingham.

Tuchel ainda tem 100% de aproveitamento em jogos oficiais pela Inglaterra, mas seu time não entregou até agora uma atuação convincente, mesmo diante de adversários acessíveis. As vitórias sobre Albânia e Letônia em março foram corretas, mas pouco animadoras, enquanto o triunfo sofrido diante de Andorra beirou o vexame, seguido pela derrota para Senegal, que acendeu o sinal de alerta.

Southgate, mesmo criticado por não oferecer futebol vistoso, conseguia aplicar goleadas contra rivais mais frágeis. Ele marcou seis gols em dois jogos da fase de grupos da última Copa, por exemplo. Esses resultados inflavam a confiança do elenco e ajudavam a manter os torcedores motivados.

Tuchel precisa de um efeito semelhante. Uma vitória larga contra Andorra e uma atuação convincente na Sérvia seriam fundamentais para recuperar a confiança, silenciar críticos e dar embalo à equipe na caminhada para o Mundial.

Tuchel teve o azar de ficar sem dois dos jogadores mais empolgantes da Inglaterra em duas de suas três convocações. Tanto Bukayo Saka quanto Cole Palmer já haviam perdido os jogos de março e, agora, voltaram a ser cortados por lesão.

Ainda assim, não faltam opções no elenco. Noni Madueke e Jarrod Bowen disputam a vaga na ponta direita, deixada por Saka, enquanto Eberechi Eze é o principal candidato a atuar no papel central que Palmer costuma exercer com a seleção.

Eze vem motivado pelo gol marcado contra a Letônia, o único dele com a camisa da Inglaterra, e Bowen tem a chance perfeita para melhorar o baixo rendimento ofensivo, já que soma apenas um gol em 16 aparições pela seleção.

Desde que trocou a seleção da Irlanda pela Inglaterra em 2019, Declan Rice é nome certo no time titular. Mas definir o melhor parceiro ao seu lado segue sendo um dilema para Tuchel, assim como foi para Southgate. Em alguns momentos, Bellingham desempenhou a função, mas sua vocação ofensiva frequentemente deixou a defesa exposta.

O companheiro de Rice na Euro 2024, Kobbie Mainoo, não é convocado há mais de um ano. Já Jordan Henderson, chamado de volta, só foi titular em um dos quatro jogos sob Tuchel, em uma das decisões mais criticadas do treinador. Outros nomes que já desempenharam a função, como Curtis Jones e Conor Gallagher, estão fora desta vez.

Adam Wharton seria o substituto natural, mas precisou deixar a lista por lesão. Ruben Loftus-Cheek, que entrou em seu lugar, e Henderson são as escolhas mais seguras, mas talvez a opção mais promissora seja Elliot Anderson, após o destaque que teve com os sub-21 sob o comando de Lee Carsley.