Seja firme, Ruben Amorim! Amistosos na Arábia Saudita podem ser novo problema na temporada já caótica do Manchester United

Embora Amorim esteja certo de que o United terá um grande buraco em seu orçamento por não se qualificar para competições europeias e terá que renunciar à receita adicional dos dias de jogo por não sediar partidas no meio da semana em Old Trafford, é improvável que eles consigam compensar as lacunas com amistosos extras.

A turnê de fim de temporada do Manchester United pela Ásia foi uma experiência degradante para o clube, ocorrendo apenas alguns dias após a derrota para o Tottenham na final da Europa League. Na excursão de seis dias, eles jogaram amistosos em Hong Kong e Malásia, enquanto alguns jogadores fizeram uma visita promocional à Índia. O time perdeu para o ASEAN All-Stars e precisou de uma recuperação para vencer o Hong Kong XI, enquanto Amad Diallo e Alejandro Garnacho tiveram trocas desagradáveis com os locais.

Enquanto isso, rumores sobre Bruno Fernandes sendo oferecido a uma mudança lucrativa para o Al-Hilal estavam circulando. Embora as turnês de pré-temporada sejam a norma para todos os grandes clubes e uma parte importante da preparação para uma campanha, viagens pós-temporada parecem mais um circo itinerante. E embarcar em uma turnê no meio da temporada, intercalando viagens ao exterior entre jogos vitais da Premier League, seria ainda pior.

Todo o esforço na Ásia rendeu ao United uma quantia de £ 10 milhões (R$ 73 milhões). Nada mal para uma semana de trabalho, você poderia dizer. Mas isso empalideceu em comparação aos £ 100 milhões que perderam ao falhar em se qualificar para a Liga dos Campeões. Para compensar completamente a diferença, eles teriam que fazer 10 dessas viagens, jogando 20 jogos. Isso seria completamente impraticável, e muito provavelmente o clube faria apenas uma viagem. 

E mesmo que conseguissem igualar o que fizeram em maio na Ásia e guardar mais £ 10 milhões, ainda assim seria uma quantia insignificante de dinheiro, apenas uma gota no oceano no contexto dos £ 666 milhões (R$ 4,8 bilhões) em receita total que ganharam na última temporada, mesmo sem disputar a Liga dos Campeões. 

E eles poderiam ter economizado essa quantia de dinheiro, se não mais, sendo apenas um pouco mais prudentes no mercado de transferências. Por exemplo, mantendo Rasmus Højlund em vez de negociar sua saída por metade do preço que pagaram por ele, enquanto traziam Benjamin Sesko por £ 74 milhões (cerca de R$ 540 milhões), apesar de ele estar em um estágio na carreira semelhante ao de Højlund, e sem experiência na Premier League.

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Confira os detalhes

Ganhar £10 milhões aqui e ali não ajudará significativamente o United a lidar com sua dívida crescente. Como o clube reconheceu privadamente e publicamente, a única maneira para o United se tornar financeiramente sustentável e parar a tendência de seis anos perdendo dinheiro é voltar a terminar próximo ao topo da Premier League e se classificar consistentemente para a Liga dos Campeões.

E fazer viagens no meio da temporada para outros continentes e fusos horários pode impactar diretamente esse objetivo. Embora o United não estivesse nem perto disso, houve uma corrida extremamente acirrada para se qualificar para a Liga dos Campeões, com apenas um ponto no final separando o Nottingham Forest, em sétimo, do Newcastle United, que terminou em quinto e conquistou o último ingresso para a principal competição europeia. Já o Aston Villa, que terminou em sexto (empatado com o Newcastle), perdeu as receitas lucrativas da Liga dos Campeões por uma pequena diferença de gols.

Cada ponto conta na corrida para terminar entre os cinco ou quatro primeiros (dependendo do desempenho dos times ingleses e se ganharão uma das duas vagas extras disponíveis). Agora, imagine o United perdendo a vaga para a Liga dos Campeões por poucos pontos na tabela, porque, anteriormente na temporada, empatou ou perdeu o jogo seguinte após um voo de oito horas de retorno da Arábia Saudita ou uma jornada de 15 horas de volta de Tóquio. 

Mesmo o melhor time do United em memória recente pagou um preço ao realizar um amistoso de meio de temporada na Arábia Saudita. O grande time do United, que contava com Cristiano Ronaldo, Wayne Rooney, Carlos Tevez, entre outros, jogou contra o Al-Hilal no final de janeiro de 2008. Eles venceram o próximo jogo contra o Portsmouth, mas não muito tempo depois conseguiram apenas um empate de 1 a 1 com o Tottenham e uma semana depois perderam por 2 a 1 em casa para o Manchester City, dois anos antes de sua lucrativa aquisição.

Também não se deve esquecer que a qualificação europeia não é a única rota para ganhar mais dinheiro no campo. A Premier League oferece motivação extra para terminar mais alto na tabela na forma de pagamentos de mérito, que consistem em ganhos combinados de transmissões televisivas nacionais e internacionais e são distribuídos em uma escala de 1º a 20º. 

O pagamento de mérito combinado dos Red Devils por terminar em 15º na temporada passada foi de £ 15,9 milhões. O West Ham, que terminou em 14º, ganhou £ 18,6 milhões, uma diferença de £ 2,7 milhões por um ponto. O Brentford embolsou £ 29,1 milhões em virtude de terminar em 10º. Se o United tivesse terminado em oitavo - como fez na segunda temporada com Erik ten Hag - teria levado para casa £ 34,5 milhões. Isso é uma diferença de £18,5 milhões, o que equivale ao lucro de quase duas viagens de pós-temporada para a Ásia.

Enquanto o United poderia também apresentar os jogos de exibição como tempo para treinamento em clima quente, não é como se viagens a locais ensolarados no meio da temporada sempre corressem bem. A viagem do Liverpool a Algarve, em Portugal, para "recarregar as baterias", em fevereiro de 2007, levou Craig Bellamy a bater com um taco de golfe em John Arne Riise, o que, nas palavras do ex-defensor norueguês, "poderia ter acabado com minha carreira". 

O Arsenal foi a Dubai em fevereiro para uma campanha em clima quente, e o desastre ocorreu quando Kai Havertz lesionou seu tendão, deixando-o fora pelo resto da temporada e deixando os Gunners sem centroavante, forçando-os a colocar Mikel Merino na frente. Havertz não tem sido o mesmo jogador desde então e atualmente está se recuperando de uma cirurgia no joelho após jogar apenas 30 minutos na atual temporada.

Treinamento em clima quente pode parecer divertido, mas dificilmente ajuda a preparar para o retorno ao amargo inverno inglês, onde pontos serão ganhos e perdidos.

O United ainda está muito longe de ser o time que Amorim deseja, mesmo após sua recente vitória sobre o Sunderland, e a única maneira de melhorar sob o comando do treinador é continuar treinando e aproveitar ao máximo as semanas livres que têm. A última coisa que eles deveriam estar fazendo é jogando mais partidas e treinando em ambientes desconhecidos.

Quando surgiram notícias de que o United estava considerando jogar amistosos de meio de temporada para arrecadar dinheiro, foi difícil não pensar nas palavras do ex-meio-campista dos Red Devils, Nemanja Matic, no início deste ano. "A diferença que senti depois do Chelsea foi que, no Chelsea, tudo era sobre o resultado e ganhar troféus," Matic disse ao The Athletic. 

"Esse era o espírito em todo o clube, até mesmo do homem que cortava a grama. Roman Abramovich só nos perguntava sobre os resultados. No United, era mais voltado para o comercial. Comecei a pensar nisso depois de alguns meses no clube. Entendo que nosso salário precisa ser pago, mas senti que os resultados não eram o foco como eram no Chelsea. Talvez eu tenha feito dois trabalhos comerciais no Chelsea, no United era muito mais."

Amorim, como a maioria dos treinadores, não quer que nada atrapalhe a preparação de sua equipe. É por isso que ele corretamente ignorou a oportunidade de gravar um documentário dos bastidores desta temporada, mesmo que isso gerasse uma quantia razoável de dinheiro (pelo menos £ 10 milhões) e aumentasse ainda mais o perfil do clube.

E é por isso que ele deve tentar convencer as pessoas que dirigem o United a também voltar atrás na ideia desses jogos amistosos para arrecadar dinheiro. Embora o apelo comercial do United os tenha protegido das armadilhas financeiras que afetaram outros clubes quando sua sorte em campo despencou, eles precisam voltar a ser uma equipe conhecida por vencer, não por atingir seus objetivos comerciais.