Roy Keane está certo: choro de Bruno Fernandes mantém Manchester United como "novo Tottenham"

O português reconheceu que errou uma cabeçada fácil no primeiro tempo que teria colocado o United em vantagem de 1 a 0, admitindo que havia cometido o erro de prestar mais atenção aos movimentos do goleiro do que à trajetória da bola.

No entanto, Fernandes estava mais focado nos árbitros, mais interessado em tirar a culpa de si mesmo e colocá-la no árbitro e no VAR pela derrota desastrosa, chegando ao ponto de cobrar um pedido de desculpas por não terem concedido um pênalti aos visitantes por causa de uma decisão controversa por toque de mão.

Dada a natureza desanimadora da exibição e a maneira como o United foi superado e dominado no meio-campo, não era isso que os torcedores queriam ouvir, como admitiu até mesmo o ídolo do clube, Rio Ferdinand.

"Acho que, a essa altura, você precisa ser honesto, cara", disse o ex-zagueiro do United à Vibe with Five. "Entendo por que ele está chateado, mas provavelmente teria tirado mais proveito disso se tivesse ido até lá e dito: 'Sabe de uma coisa, não estivemos no nível que esperamos e precisamos melhorar, ser melhores e fazer mais'.

"Vá até o corredor, fale com o árbitro, o que for. Mas o importante é assumir essa [derrota]. Porque as atuações não foram muito boas", completou o ex-zagueiro.

O United pode ter melhorado desde que Erik ten Hag assumiu o comando no ano passado, conquistando um troféu em fevereiro, mas seu histórico na liga é péssimo. Sob o comando do holandês, eles ainda não venceram um único time dos oito melhores da Premier League fora de casa, o que ajuda a explicar por que Roy Keane - e inúmeros outros torcedores do United - estão tão desiludidos com a equipe, já que suas qualidades e seu potencial são óbvios em Old Trafford.

"Eles são um bom time quando gostam, quando seus torcedores estão animados em casa e eles têm esse apoio e essa energia", disse Keane no último sábado. "Mas o United foi jogar fora de casa hoje e foi fraco novamente. Sem liderança."

Apesar de sua passagem pelo United ter chegado a um fim abrupto, Keane ainda é universalmente considerado o melhor capitão da história do clube devido ao papel fundamental que desempenhou na transmissão de sua sede insaciável por troféus - e da de Ferguson - aos seus companheiros de equipe.

Hoje em dia, Keane às vezes é visto - e até mesmo descartado - como um homem de uma era passada. Argumenta-se que suas ideias são arcaicas, que ele não consegue entender as nuances do futebol moderno. Keane há muito tempo argumenta que os fatores determinantes do jogo, as diferenças entre ganhar e perder, são "mundanos", que o mal está nos detalhes - mas isso é tão verdadeiro agora como sempre foi.

Todos no mais alto nível são incrivelmente talentosos, mas nem todos jogam com o mesmo nível de profissionalismo ou paixão. São esses atributos que são decisivos. O Manchester City, por exemplo, não apenas joga melhor futebol do que todos os seus rivais, mas também trabalha mais. Pep Guardiola não é apenas um mestre da tática, ele também é um excelente administrador.

É certo que o dinheiro ajuda - e muito -, mas o United tem muito dinheiro próprio e desperdiçou muito desde que Ferguson se aposentou, há uma década, comprando jogadores inferiores com caráter ainda pior. Consequentemente, é o City que agora é visto como o líder do futebol inglês, e não o United. Pior ainda, o United agora é visto como fraco, um time que pode ser facilmente dominado.

Quando o Newcastle recebeu o time de Ten Hag na última temporada, Eddie Howe disse aos seus jogadores: "Se eles querem um jogo rápido, vindo aqui, vamos dar a eles! Vamos acabar com eles com nossa corrida". E foi o que aconteceu, com uma vitória totalmente merecida por 2 a 0.

É claro que os anos de má administração e a ausência total de uma liderança forte no nível da diretoria não ajudaram em nada, como foi dolorosamente sublinhado pela forma desastrada como o caso Mason Greenwood foi tratado.

Portanto, Ten Hag e Fernandes não podem ser responsabilizados de forma alguma por coisas sobre as quais não têm controle. No entanto, eles precisam começar a aceitar sua parcela de culpa pela falta de organização e determinação que estamos vendo em campo. Ten Hag claramente tem de lidar com a composição de sua equipe, especialmente no meio de campo, enquanto Fernandes precisa parar de tentar desviar a atenção de suas falhas e das falhas de seus companheiros de equipe.

Quando o United está com dificuldades, Fernandes passa tempo demais discutindo com os árbitros e reclamando de passes errados. Sua conduta durante a humilhante derrota por 7 a 0 para o Liverpool na temporada passada foi especialmente constrangedora.

"A linguagem corporal de Bruno hoje foi simplesmente vergonhosa", disse Keane à Sky após a lamentável derrota do United em Anfield, em março. "Um garoto realmente talentoso, mas ele é o capitão e a linguagem corporal dele - balançando os braços, não correndo para trás - não seria feliz com ele no vestiário." Mesmo assim, Ten Hag fez do português o seu capitão.

Por outro lado, não é como se houvesse muitos outros candidatos fortes. Como Keane apontou, o fato de o antecessor de Fernandes, Harry Maguire, ter sido nomeado capitão menos de seis meses depois de ter chegado do Leicester diz tudo sobre a falta de líderes no United. "Isso não diz muito sobre o grupo", apontou Keane corretamente.

Fernandes é um excelente jogador e seu desespero pelo sucesso é evidente em cada jogo. Mas ele quase foi nomeado capitão por padrão, o melhor de um grupo ruim, e ainda precisa provar que é o homem certo para o posto.

Ele não teve uma grande sorte com os jogadores ao redor - não há como fugir disso -, mas Fernandes não está fazendo nenhum favor a si mesmo com suas reclamações, dentro e fora do campo. Ele precisa começar a pensar no que pode fazer para melhorar a equipe.

Fernandes, no entanto, muitas vezes parece e soa mais como um lamentador do que como um vencedor, e o United precisa de mais do seu capitão, muito mais na verdade, se quiser começar a competir pelo título da liga novamente.

Quando Keane chegou a Old Trafford há 20 anos, ele viu um time de campeões. Agora, ele vê um novo Tottenham - e não há acusação mais contundente do declínio do Manchester United do que essa.