Roony Bardghji: quem é o carrasco do Manchester United que está a caminho do Barcelona

Embora tenha nacionalidade sueca, a vida de Bardghji começou a cerca de 4.000 km de distância, no Kuwait, onde nasceu de pais sírios. Ele jogava futebol com o pai — um fã do Manchester United, razão pela qual recebeu o nome — desde os três anos de idade, mas sua trajetória realmente começou quando sua família foi para a Escandinávia, quando ele tinha sete anos. Após se destacar em equipes juvenis amadoras no sul da Suécia, foi recrutado pelo Malmö em 2019.

Foi decidido imediatamente que o garoto, então com 14 anos, poderia treinar com os veteranos, e ele foi rapidamente integrado à equipe sub-19 do clube — um desafio que não o intimidou nem um pouco.

“O que mais me impressionou foi sua dedicação em querer melhorar e treinar”, disse o técnico do time sub-19 do Malmö, Jeffrey Aubynn, ao Sportexpressen. “Além disso, ele possuía qualidades técnicas, uma compreensão tática do futebol e a forma como se relacionava com os companheiros, que estavam em um nível incrivelmente alto para a sua idade.”

Mas Bardghji não chamou a atenção apenas de seu treinador. Ele passou apenas um ano lá antes de ser contratado pelo Copenhague — vizinho do Malmö do outro lado da Ponte Öresund, apesar de estarem em países diferentes — em um negócio obscuro que envolveu um valor astronômico e que supostamente quebrou várias regras não oficiais sobre a transferência de jogadores juvenis.

Bardghji manteve seu status de jogador sub-19 no Copenhague, e em 2021 fez o suficiente para subir para a equipe principal, então comandada por Jess Thorup. As regras do Campeonato Dinamarquês impedem que jogadores façam sua estreia no time profissional antes de completarem 16 anos, e Thorup não perdeu tempo: apenas seis dias após o aniversário de Bardghji, o colocou como titular contra o AGF, tornando-o o jogador mais jovem da história a atuar pelo clube da capital.

Uma semana depois, contra o AaB, Bardghji voltou a fazer história e realmente se consolidou no maior clube da Dinamarca. Em um movimento que se tornaria sua marca registrada, cortou da direita para o centro e disparou um chute preciso no canto inferior a 25 metros de distância, tornando-se o jogador mais jovem a marcar na história da primeira divisão dinamarquesa.

O jovem prodígio se manteve no elenco principal desde então, e outro momento memorável aconteceu quando um adversário inglês visitou a cidade em novembro de 2023, durante a fase de grupos da Champions League. O Copenhague já estava prestes a garantir um ponto valioso contra o poderoso Manchester United, com o placar empatado em 3 a 3 e o relógio marcando 90 minutos no Estádio Parken — mas Bardghji tinha outros planos. Após Harry Maguire e companhia falharem em afastar um cruzamento, o atacante aproveitou a sobra e acertou um chute magistral, que quicou no gramado e encobriu o goleiro antes de morrer no fundo da rede.

Bardghji não apenas marcou um famoso gol da vitória, como também se tornou o jogador mais jovem a balançar as redes contra o Manchester United na Champions League — além de se tornar o artilheiro mais jovem do Copenhague na competição. Um novo feito histórico, desta vez alcançado seis dias antes de seu aniversário, em vez de seis dias depois.

Aquela partida o lançou aos holofotes, mas não foi sua primeira atuação decisiva em um grande jogo da temporada. Em setembro, no clássico da capital contra o Brondby, o Copenhague perdia por 2 a 1 quando Bardghji foi chamado do banco com apenas 11 minutos restantes. O resultado final? 3 a 2 para o Copenhague, graças a dois gols do jovem destaque em apenas cinco minutos.

Seria fácil pensar que aquele novembro marcante foi o ponto de partida para uma longa carreira de Bardghji no mais alto nível. No entanto, as coisas não seguiram o caminho que o mundo imaginava.

Ele passou o restante da temporada 2023/24 alternando entre o time titular e o banco do Copenhague, somando 10 gols em 34 partidas pela equipe principal — embora, curiosamente, sem registrar nenhuma assistência. Então, veio o revés. Durante um treino rotineiro em maio de 2024, Bardghji sofreu uma grave lesão no joelho que o deixaria fora de ação pelos 334 dias seguintes.

Foi um golpe duro justo quando o jovem ponta começava a ganhar força como um dos talentos mais promissores da Europa, perdendo impressionantes 48 partidas com o Copenhague. Seu retorno aconteceu nos playoffs do Campeonato Dinamarquês, em 31 de março de 2025, com uma participação de nove minutos na vitória por 1 a 0 sobre o Randers. No entanto, após mais três entradas como substituto e duas partidas como titular, ele voltou a ser afastado pelo restante da temporada devido a uma lesão menor.

Agora, pela primeira vez em dois anos, Bardghji terá a chance de se preparar para uma temporada completa, com uma pré-temporada adequada e um tempo de descanso necessário. A expectativa é de que ele recupere rapidamente sua agilidade e fluidez características — e que 2023/24 seja lembrado como o início de algo especial, e não apenas como um momento isolado de brilho.

Como um ponta habilidoso, não é surpresa que os traços mais marcantes de Bardghji sejam seu drible refinado e o trabalho de pés ágil, enquanto sua capacidade de encontrar e explorar espaços desmente a pouca idade.

Ele se mostra seguro com a bola nos pés, seja conduzindo em velocidade ou optando pelo passe certo no momento exato. Os primeiros indícios apontam para uma visão de jogo promissora, embora isso ainda não tenha se traduzido plenamente em números de assistências ou passes decisivos. Cercado por jogadores mais experientes e finalizadores eficientes, essa produção deve crescer naturalmente.

Inspirado por seu quase xará Rooney, Bardghji mostrou ser uma fonte confiável de gols durante sua ascensão no Copenhague — até ser interrompido pela lesão no joelho. E embora o futebol de clubes da Dinamarca esteja longe do topo da hierarquia europeia, ele já acumula diversas medalhas de campeão na prateleira: três títulos de liga e dois de copa nacional.

Um grande ego parece ser parte integrante do perfil de um astro do futebol na era moderna, com uma dose saudável de arrogância funcionando como combustível para alguns dos melhores jogadores do mundo. E Bardghji certamente não fica atrás nesse aspecto. “Esse garoto realmente acha que nasceu para marcar o gol da vitória em jogos assim”, disse o técnico do Copenhague, Jacob Neestrup, após a vitória sobre o Manchester United.

Em entrevista ao portal sueco Fotbollskanalen em 2023, o garoto foi direto: “Meu objetivo é me tornar o melhor jogador do mundo. Eu penso nisso desde pequeno, e ninguém pode me impedir — a não ser eu mesmo.”

Após ser deixado de fora da seleção principal da Suécia, ele comentou ao mesmo veículo: “Para ser sincero, não é algo com que eu me importe. É só a opinião de outra pessoa… O que mais você precisa fazer aos 17 anos para ser convocado?”

Há o risco de que essa autoconfiança transborde para a petulância, mas do ponto de vista futebolístico, o administrador do site de torcedores do Copenhague, Kasper Larsen, disse ao The Athletic: “Ele ainda precisa melhorar muito na parte defensiva. Mas é jovem. E não é exatamente rápido — e no futebol moderno, velocidade é importante. Ainda assim, ele tem muito potencial, e acredito que nem vimos metade do que pode oferecer. Ele certamente tem a mentalidade certa.”

Seria muito, muito fácil comparar Bardghji a outro jovem ponta-direita canhoto do Barcelona chamado Lamine Yamal. Justamente por isso, ele não é a comparação mais adequada aqui. Como alguém pode ser considerado “a próxima versão” de outro jogador se já é mais velho?

Além disso, no ritmo atual, Yamal tem tudo para manter essa posição no Barça pelos próximos 20 anos. Se Bardghji quiser deixar sua marca no clube espanhol, terá que encontrar uma forma de se encaixar ao redor do ídolo local — e é aí que a comparação com Raphinha faz mais sentido.

Tanto Bardghji quanto o brasileiro se destacam finalizando após o drible, enquanto Yamal é um criador nato, um facilitador de alto nível para os demais atacantes. Onde muitos atacantes aceleram em linha reta e colidem com os defensores, Bardghji e Raphinha têm o talento de mudar o ritmo da corrida com sutileza, mantendo a bola colada aos pés. Se a habilidade de finalização do sueco se adaptar ao futebol espanhol, ele pode, sim, se tornar uma peça valiosa para o Barcelona.

Bardghji pode ter sonhado com o Real Madrid durante sua infância, mas Barcelona é um belo prêmio de consolação. Se existe um grande clube confiável para desenvolver jovens talentos enquanto conquista troféus, são os gigantes da Catalunha.

Desbancar Yamal será uma tarefa quase impossível, e a possível chegada de Nico Williams pode tornar as oportunidades ainda mais escassas no time principal. Ainda assim, esta é a chance de Bardghji estar onde acredita pertencer — embora só o tempo dirá se essa convicção era justificada.

Seu agente, Christian Emile, já havia declarado: “Ele é um dos talentos mais empolgantes do mundo e também o futuro do futebol sueco desde Zlatan (Ibrahimovic). É natural que grandes clubes estejam de olho. Ainda é cedo para dizer... mas uma coisa é certa: você vai se acostumar a ver Roony brilhando nos maiores palcos.” Agora, chegou a hora de Roony provar isso.