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Richarlison apostou alto na seleção ao chamar pra si a camisa 9: herdeiros de Ronaldo vivem entre o céu e o inferno

Nos primeiros meses após a eliminação da seleção brasileira nas quartas de final da Copa do Mundo de 2022, em meio a tantas dúvidas (em especial sobre quem será o treinador), um sorridente e confiante Richarlison trouxe uma certeza: “A camisa 9 já é minha, não tem o que ficar escolhendo. Fiz uma boa Copa do Mundo, mesmo não tendo o título, e acho que aqui na seleção todo mundo sabe que eu sou o homem gol, não tem o que ficar escolhendo, a nove é minha”, afirmou o jogador do Tottenham.

Entre a confiança esbanjada naquele mês de junho, até o choro solitário no banco de reservas, enquanto o Brasil goleava a Bolívia por 5 a 1 na rodada inaugural das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2026, muita coisa mudou. Desde aquela declaração, Richarlison foi tudo nos cinco jogos disputados com a camisa 9 às costas: menos homem gol. A má fase goleadora veio com aqueles requintes de crueldade comuns a toda vez que um atacante passa por um período sem balançar as redes: chances desperdiçadas, ansiedade e pressão externa.

  • Richarlison Brazil 2023Globo

    Crise de confiança, um roteiro comum

    Quando chamou para si a responsabilidade de ser o dono da camisa 9 do Brasil, Richarlison tinha lá seus motivos: dentre os três gols marcados no Mundial do Qatar, o tento contra a Sérvia foi eleito o mais bonito de toda a competição. Um voleio de craque, um lance para emoldurar e mostrar para os que duvidam da capacidade técnica do atacante nascido em Nova Venécia.

    A queda nos pênaltis, contra a Croácia, fabricou vilões, como é comum dentro da narrativa de fracassos brasileiros em Copas do Mundo, mas as críticas ficaram mais centradas no técnico Tite. Richarlison, apesar de não ter sido unanimidade, acabou passando ileso.

    Ao explicar as lágrimas vistas em Belém do Pará, e revelar a busca por ajuda psicológica, Richarlison deu peso maior a questões extracampo que estavam afetando seu aspecto mental. Mas é inegável que a ausência de gols com a seleção brasileira representava uma fatia do todo. A vida dos camisas 9 do Brasil não tem sido fácil desde que Ronaldo Fenômeno deixou de ser opção com a amarelinha.

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  • Gabriel Jesus BrazilGetty

    Gabriel Jesus e o baque psicológico

    É uma questão que vai além de Richarlison. Camisa 9 do Brasil na Copa do Mundo de 2018, Gabriel Jesus não marcou nenhum gol naquele mundial. O feito negativo afetou profundamente o atual jogador do Arsenal, que em entrevistas posteriores chegou a revelar ter “perdido a alegria de jogar futebol” em determinado período, antes de buscar se reerguer profissionalmente.

  • Fred Brazil 2014Getty

    Fred, dilacerado após 2014

    A narrativa do camisa 9 do Brasil em Copas do Mundo que busca ajuda em seu clube para se reerguer não é nova. Aconteceu em 2014 com Fred. Titular da seleção nacional na competição disputada na própria casa, Fred deixou a desejar e foi taxado como “cone” em meio às inúmeras críticas que permearam a trajetória do Brasil até o vexame dos 7 a 1 contra a Alemanha, nas semifinais.

    Em entrevista para o Esporte Espetacular, Fred chegou a reconhecer que o seu pós-Copa foi marcado por uma profunda depressão (“Eu estava bebendo todos os dias. Não estava tendo prazer em jogar futebol”, disse em maio de 2019). Os gols marcados pelo Fluminense, clube onde se tornou um dos maiores ídolos, acabaram remediando o trauma.

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  • Luis Fabiano Brazil 2010Getty

    A sombra do Imperador

    Verdade seja dita, a expectativa era de que Adriano, o Imperador, fosse o grande herdeiro do legado de Ronaldo com a camisa 9 do Brasil. Acabou não acontecendo, por inúmeras razões. Em 2010, até havia certa expectativa sobre a presença de Adriano na Copa do Mundo daquele ano, mas já começando a aparentar uma decadência mais acentuada, o Imperador foi deixado de fora.

    Escolha para a camisa 9 na África do Sul, Luís Fabiano deixou aquele mundial em situação ligeiramente parecida à atual de Richarlison: autor de três gols na competição, se não chegou a convencer no nível de um Ronaldo, o “Fabuloso” não foi considerado grande decepção.

    As críticas ali ficaram concentradas em Dunga, Felipe Melo e no goleiro Júlio César. De qualquer maneira, Luís Fabiano parecia ser, já aos 29 anos, uma solução temporária e assim acabou se provando: disputou apenas outros dois amistosos com a camisa canarinho.

  • Camisa 9 segue sem dono

    Ao contrário do que Richarlison disse, a camisa 9 ainda não é sua neste ciclo visando 2026. Ao menos até o momento. E vale lembrar que nem mesmo no Tottenham, onde joga, o brasileiro é unanimidade jogando como referência no ataque – até vem fazendo algumas boas partidas, mas nos últimos jogos atuou aberto pela ponta, com o sul-coreano Son centralizado.

    O caminho ainda será pavimentado, e Richarlison tem a confiança tanto do atual técnico do Brasil, o interino Fernando Diniz, quanto do provável dono do cargo no futuro, Carlo Ancelotti. Mas quando o assunto é a camisa 9 deixada por Ronaldo, talvez valha a mesma máxima que cerca o número 10: não estamos falando apenas de numeração, e sim de uma ideia. A ideia de ser campeão do mundo. E tanto o próximo Mundial, quanto o dono da camisa 9, ainda estão longe de serem definidos.

    De qualquer forma, até a 9 possuir um dono de verdade, os seus candidatos estarão sujeitos ao céu dos elogios e ao inferno das críticas. Richarlison sabe bem como é isso.

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