Respeitem Erling Haaland! Por que o centroavante do Manchester City é desmerecido mesmo com tantos gols?

O desempenho artilheiro de Haaland contra os Wolves, no último sábado (04), pela Premier League, veio apenas um dia depois dos vencedores dos prêmios anuais da Football Writers serem anunciados. Haaland havia vencido o prêmio de Jogador do Ano masculino no ano passado, com 82% dos votos, mas foi seu companheiro de equipe Phil Foden que acabou eleito em 2024.

O que foi surpreendente, no entanto, foi o número de votos que Haaland recebeu: nenhum. Apesar de liderar as tabelas de artilharia durante toda a temporada - de novo, mesmo perdendo dois meses devido a uma lesão - e do seu papel crucial para City encaminhar seu quarto título inglês seguido, nenhum jornalista achou que o norueguês foi o melhor jogador na Inglaterra nesta temporada.

Por outro lado, Diogo Dalot e Bruno Fernandes receberam pelo menos um voto cada um, apesar de uma temporada miserável com o Manchester United. Ainda houve quem achasse que Alexis Mac Allister, Ross Barkley, Ollie Watkins e John McGinn tiveram campanhas melhores do que Haaland.

Dá para argumentar que Haaland se tornou vítima de seu próprio sucesso e que, ao marcar tantos gols com tanta regularidade, ele acabou normalizando sua absurda média de bolas na rede. Para um jogador que marcou 36 gols na Premier League na temporada passada, 25 acaba parecendo pouco, não é?

Mas não é. Sergio Agüero, maior artilheiro de todos os tempos e ídolo histórico do City, marcou mais de 25 gols na liga apenas uma vez em sua década no clube. E ele nunca chegou a 36 gols em uma só temporada. Kane, ademaisn, atingiu essa marca apenas uma vez quando jogava na Inglaterra. O mesmo vale para Salah.

Além de praticamente já garantir sua segunda Chuteira de Ouro, Haaland alcançou outro marco impressionante no sábado: 201 gols por clubes nas últimas cinco temporadas, por Red Bull Salzburg, Borussia Dortmund e City. Isso representa uma média de 40 gols por temporada. Ao todo, são 203 gols em 210 jogos.

"De volta aos negócios", Guardiola afirmou, referindo-se ao norueguês voltar a marcar gols, após o embate no Etihad Stadium. Isso resumiu o fato de que ele esperava mais de seu atacante do que ele havia entregado nas últimas semanas, registrando apenas cinco gols em seus dez jogos anteriores. Números que receberiam elogios se fosse qualquer outro atacante - ou pelo menos os protegeriam de críticas.

A definição de má fase ou seca de gols para ele é bastante diferente de outros atacantes. O período mais longo que ele passou sem marcar um gol nesta temporada foi de três partidas. Mesmo assim, chovem críticas.

A natureza do jogo de Haaland é a seguinte: como ele é tão dedicado a marcar gols, só será elogiado quando marcar gols em uma média acima do seu normal. Em jogos mais pegados, nos quais há pouca ação na área ou nos quais desperdiça boas oportunidades, ele inevitavelmente será o primeiro bode expiatório.

Roy Keane o chamou descaradamente de "jogador de League Two" após o empate em 0 a 0 com Arsenal, em março; a mídia espanhola o criticou após suas atuações discretas nos dois jogos contra o Real Madrid. Seu futebol é indiscutivelmente menos impressionante do que o de Cristiano Ronaldo, Lionel Messi, Salah, Kane, Luis Suárez, Wayne Rooney ou Thierry Henry, mas isso não deveria diminuir sua capacidade de balançar as redes.

O City tem tantos bons jogadores em outras partes do campo que não precisa que Haaland faça passes decisivos ou recue para auxiliar na defesa. Eles têm Foden, Kevin De Bruyne, Rodri, Julian Álvarez, Bernardo Silva, Jack Grealish e Jérémy Doku para isso.

Haaland, é verdade, pode se beneficiar ao se envolver mais no jogo - e não foi coincidência que ele teve mais toques contra o Wolves do que em seus cinco jogos anteriores. No entanto, seu principal trabalho é receber a bola dentro da área e marcar gols. E ele até que é bom nisso, como demonstram seus 25 gols em 26 jogos de Premier League.

Guardiola apontou após o jogo de sábado que o atacante não estava sendo ele mesmo desde que retornou da lesão no pé que o deixou de fora entre o início de dezembro e o final de janeiro, fazendo-o perder 10 jogos no total. O treinador disse que o grande porte físico de Haaland faça ele levar mais tempo para voltar à melhor forma, ao contrário de seus colegas de menor estatura, como Foden ou Álvarez.

E, mesmo antes de se machucar, Haaland já tinha outro fator jogando contra ele. Nos primeiros cinco meses da campanha, ele teve que se virar sem De Bruyne, lesionado, e se adaptar à saída de Ilkay Gundogan, dois meias absolutamente importantes para a conquista da tríplice coroa, na temporada passada.

Ainda assim, nos primeiros quatro meses da temporada, sem Gundogan e De Bruyne ao seu lado, ele marcou 21 gols e contribuiu com mais cinco assistências. Sua lesão inevitavelmente o fez ficar semanas fora, mas, dentro de um mês após retornar, ele já tinha sido herói nas vitórias sobre o Everton, pelo Inglês, e, pela Copa da Inglaterra, contra o Luton, marcando cinco vezes.

O Wolverhampton foi sua última vítima - e é improvável que tenha sido sua última. Não se surpreenda se ele atingir a meta de 30 gols na Premier League e 40 ao todo.

E se Haaland de fato terminar a campanha segurando os troféus da Premier League e da Copa da Inglaterra - além da Chuteira de Ouro -, provavelmente vai ter bastante gente da Football Writers querendo mudar seu voto...