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Kylian Mbappe PSGGetty

PSG enfim mostra a Kylian Mbappé quem manda... mas vai durar?

Na França, eles os chamam de 'loft'. Em inglês, isso se traduz aproximadamente como 'esquadrão bomba'. Eles são o grupo de excluídos do Paris Saint-Germain, obrigados a treinar separadamente do grupo principal de Luis Enrique. Eles têm pouca chance de jogar pelo clube nesta temporada e estão só aguardando um empréstimo ou uma transferência em definitivo. Aqui, há muitos rostos familiares: Julien Draxler, Gini Wijnaldum e Leandro Paredes estão lá há um tempo; agora, Neymar e Marco Verratti são os mais novos representantes.

Também temos Kylian Mbappé. Antes vice-capitão, estrela e considerado parisiense pelo menos pelos próximos 10 meses, foi destinado ao purgatório do PSG, o contrário de onde ele deveria estar: liderando a equipe rumo a outro título da Ligue 1 este ano.

O motivo de seu exílio é claro. Mbappé informou ao clube que não renovará seu contrato, que vence em junho do ano que vem. Em troca, o PSG o colocou à venda, sendo forçado a liberar um dos melhores jogadores do mundo — apesar de Mbappé afirmar que não vai a lugar nenhum.

Isso já aconteceu antes, no entanto. Os parisienses têm sido praticamente 'manipulados' por Mbappé durante a maior parte dos seus seis anos na capital francesa, culminando em uma série de momentos em que o clibe acabou cedendo às suas exigências. Mas agora parece diferente. O PSG tomou uma posição e está tentando provar que ninguém — nem mesmo Mbappé — é mais importante do que o clube.

É uma demonstração clara de força para uma gigantesca ferramenta de marketing de um Estado-nação cuja habilidade no futebol é obviamente limitada. Trata-se de um novo território. Um time tomando posição contra um de seus principais jogadores, um time silenciando um dos seus maiores ativos — o que sugere, pela primeira vez, que pode ser que haja agora outras prioridades em Paris.

Quanto tempo isso vai durar, no entanto, ainda vamos descobrir.

  • Kylian Mbappe contract extensionGetty

    O 'rei' de Paris

    Mbappé sempre esteve ciente de seu poder em Paris, afinal, trata-se de um parisiense em uma equipe cheia de estrelas. A torcida do PSG cobiçava um jogador francês de nível mundial para ser o símbolo da equipe, e Mbappé era isso — e ele sabe. Não sentia a pressão.

    Mbappé marcou pelo menos 25 gols em cada uma de suas últimas três temporadas no PSG. Ele tem cinco Chuteiras de Ouro da Ligue 1 e parece estar destinado a ser, ao menos, finalista da Bola de Ouro este ano. Isso sem falar no título da Copa da Rússia — conquistada aos 19 anos. Provavelmente, não existe um jogador de futebol mais bem-sucedido que represente melhor tanto seu clube quanto seu País.

    E isso ficou particularmente claro na janela de transferências do meio do ano passado. Mbappé estava próximo de deixar o PSG e, dependendo de qual das histórias você acredita, tinha aceitado realizar um sonho de infância e ir para o Real Madrid. Mas os parisienses perceberam que não podiam se dar ao luxo de perdê-lo, então cederam e aceitaram todas as suas demandas — o craque até recebeu uma ligação do Primeiro-Ministro francês implorando para que permanecesse. Assim, se tornou o jogador mais bem pago da história e acabou nomeado conselheiro de fato para quaisquer assuntos relacionados ao futebol no clube.

    Seu contrato lhe deu a opção de sair em 2024 e inclue um 'bônus de lealdade' por cada temporada adicional em Paris. Mbappé poderia, portanto, ficar podre de rico em dois anos — antes de partir para um novo projeto.

    Mas havia um fator ainda mais 'anormal' nesse acordo. Mbappé havia vencido as negociações e ganhado um papel muito específico em Paris. Ele era agora a pessoa mais poderosa do clube e poderia, tanto publicamente quanto em particular, ditar as decisões.

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  • Kylian Mbappe Paris Saint-Germain 2022-23Getty

    Uma série de falhas

    Se Mbappé estava totalmente ciente da extensão de sua influência ainda parece incerto. Também é difícil e talvez injusto acusar um jovem de 24 anos de ser uma espécie de 'super vilão'. Não é como se existisse um complô secreto dentro do PSG. Mas ele certamente sabia o quanto suas palavras carregariam de peso.

    Assim, nos últimos anos, Mbappé tem moldado a história do clube, tendo impacto claro tanto nas políticas de relações públicas quanto nas decisões esportivas. E a lista de queixas não é pequena.

    Primeiro, pediu a contratação de um atacante para jogar ao seu lado. Aliás, ele chegou a deixar isso publicamente claro durante uma entrevista que gerou certa polêmica. O clube rapidamente entrou em negociações por Gonçalo Ramos, mas foi impedido de contratá-lo devido às restrições do Fair Play Financeiro. Meses depois, foi revelado que o craque estava insatisfeito no clube e queria sair. Isso deixou o treinador Christophe Galtier e Luis Campos em maus lençóis, com os dois dando declarações incoerentes nos dias seguintes à divulgação da história. Mbappé negou o boato — embora poucos acreditassem nele.

    Em seguida, em fevereiro, Mbappé se incomodou com uma campanha promocional de ingressos. O vídeo, que incentivava torcedores a renovarem seus season tickets para a temporada 2023/24, tinha o astro como destaque, mas não mencionava Lionel Messi ou Neymar. Notada a ausência da dupla, Mbappé divulgou uma declaração, afirmando que o PSG "não é Kylian Saint-Germain" e afirmou não ter tido qualquer influência no vídeo que ele mesmo narrou. O clube logo removeu o conteúdo.

    Houve outros incidentes também. Mbappé criticou a profundidade do elenco após a eliminação na Liga dos Campeões para o Bayern de Munique. Em outro caso polêmico, assumiu a vice-capitania sem informar Presnel Kimpembe, até então exercendo a função. Também chegou a chamar o clube de "divisivo" durante uma Data Fifa, pela França.

    E então, chegamos ao atual momento, com informações divulgando que ele não ir exercer sua cláusula de um ano adicional de seu contrato, que agora encerra em 12 meses. O PSG afirmou que a decisão foi informada no último mês de junho; Mbappé, em contrapartida, disse que havia informado antes disso.

  • web psgweb psg

    Removido do clube

    O PSG de antigamente teria feito de tudo para manter sua superestrela. Teriam oferecido ainda mais dinheiro, permitido que seguisse treinando com o time principal e compartilhado fotos dele sorrindo nas redes sociais. Cada gol de Mbappé seria recebido com a adulação pública do clube. Os pôsteres permaneceriam, as campanhas midiáticas continuariam circulando e os uniformes ainda seriam vendidos rapidamente.

    Só que isso não aconteceu. Nada disso aconteceu. Mbappé foi silenciado, foi deixado de lado. O enorme outdoor ao lado do Parque dos Prícipes, uma imagem gigante mostrando Mbappé em comemoração, foi retirado. Ele não está mais na página inicial do site do clube. Seus uniformes e produtos patrocinados não podem mais ser comprados nas lojas do PSG. Ele não participou do media day do clube. Fez apenas uma aparição na pré-temporada, entrando em campo por 10 minutos em um amistoso no CT com o Le Havre (claro, ele marcou um gol).

    Mbappé já foi o rosto e a alma desse projeto. Agora, está removido da estrutura do clube. Não está completamente esquecido — é grande demais para isso —, mas sua associação com o PSG está sendo apagada. Enquanto isso, o clube tem trabalhado no mercado de transferências buscando um comprador. Mbappé tem permissão para deixar o clube, e, como era de se esperar, há inúmeros interessados.

    O PSG já aceitou uma proposta do Al-Hilal, da Arábia Saudita — embora Mbappé tenha recusado. O time também tem negociações ativas com outras partes, segundo a mídia local. Há um interesse vindo da Premier League, mas uma oferta do Real Madrid ainda deve chegar antes do fim da janela.

  • Luis Enrique PSG 2023Getty

    Um time tentando seguir em frente

    Enquanto isso, o PSG montou uma equipe sem ele. Os negócios de transferência do PSG são exagerados todo ano — principalmente porque as novas contratações tendem a ceder aos desejos de Mbappé e de quaisquer outras estrelas que o clube esteja empregando. Mas agora trata-se de um planejamento para um futuro sem Mbappé. E algo interessante está acontecendo.

    Os parisienses preencheram várias áreas carentes de reforços com bons acordos, trazendo jogadores promissores. Manuel Ugarte e Lee Kang-in não venderão muitas camisas inicialmente, mas têm menos de 24 anos e parecem ser uma boa opção para essa nova geração do PSG, supervisionada por Luis Enrique. Milan Skriniar e Marco Asensio, trazidos gratuitamente, acrescentarão bastante em experiência. Ousmane Dembélé e Lucas Hernández são compras arriscadas, dados seus históricos de lesões, mas têm seu potencial.

    E a grande contratação, Ramos, certamente fornecerá alguns gols na ausência de Mbappé. Só que pode não parar por aí. Verratti quer sair e provavelmente fechará um acordo com a Arábia Saudita em breve, ao pé em que Neymar também procura outro clube. Ambos certamente precisarão ser substituídos.

    Quando completo, parece com um time bem montado, com uma boa mistura de juventude e experiência. Talvez ainda mais importante, o PSG não se parece em nada com a série de equipes que bajularam Mbappé por anos. Há um equilíbrio claro e um treinador para liderar o projeto. Mbappé, agora, seria uma adição de luxo, não o foco de um time imperfeito.

  • 20230807_Mbappe(C)Getty images

    Martelo batido

    O problema para o PSG é que Mbappé ainda detém o poder. Embora o clube tenha efetivamente o removido de sua imagem pública, ele parece não ter se importado. Ele tirou fotos com jogadores do Real Madrid em uma boate, compartilhou uma imagem de si mesmo rindo com o restante do 'loft'; segundo relatos, ele comentou que os excluídos derrotariam a equipe principal em um amistoso. Agora, ele diz que não sairá mais.

    E aí reside o problema para o Paris. Não importa o que aconteça, se ele ainda estiver no elenco, será uma distração. Por isso, a diretoria quer se livrar dele, mas também estabelece suas exigências e prefeririam não deixá-lo ir para o destino desejado, o Real Madrid — mesmo que ele se acerte com o clube a partir de 2024, quando estará sem contrato.

    O clube já deixou claro que está disposto a deixar Mbappé no banco e fora do elenco se não conseguir vendê-lo. Mas há uma diferença entre exilar um jogador e silenciá-lo por completo.

    De fato, se Mbappé ficar e o PSG tiver dificuldades em marcar gols, os pedidos para que seja reintegrado ao elenco inevitavelmente crescerão. Enquanto isso, vozes dentro e ao redor do clube já manifestaram preocupação com sua ausência. O brasileiro Marquinhos pediu para que uma resolução fosse alcançada, até o prefeito de Paris se envolveu. Essas pessoas, é verdade, não são as que tomam as decisões, mas este também nunca foi um clube definido pela lógica.

    Mbappé é uma ferramenta de marketing, um produto voltado para o público que sabe o quão bom ele é no que faz. Se a pressão aumentar — e provavelmente vai aumentar — tudo isso se tornará mais difícil.

    O PSG já mostrou sua posição e a manteve por alguns meses. Mas bater tanto o pé, a ponto de exilar seu maior ativo gerador de receitas, ficará cada vez mais difícil. Pelo menos enquanto Mbappé ficar.

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