Preparador de goleiros relembra convite do Flamengo e rasga elogios a Leonardo Jardim, novo treinador do Cruzeiro

A chegada de Leonardo Jardim no futebol brasileiro desperta a curiosidade dos torcedores de modo geral e não apenas dos cruzeirenses. A expectativa é de um futebol ofensivo e uma equipe que se candidata a disputar títulos no cenário nacional. Em bate papo com a GOAL, Ricardo Pereira, conceituado treinador de goleiros português, que trabalhou com Jardim no Al Ain, dos Emirados Árabes, detalhou o perfil do novo comandante Celeste. 

“O mister Leonardo é muito rigoroso no que diz respeito à organização ofensiva do time. Independentemente do sistema, que pode ser 4x3x3, 4x2x3x1 ou até 4x4x2 ele privilegia uma equipa que defensivamente seja rigorosa e não se desequilibra. Trabalha essa equilíbrio também para evitar sofrer contra ataques em igualdade ou inferioridade numérica. Ofensivamente gosta de ter bola, sair a partir de trás com o goleiro sempre que possível e que a equipa identifique rapidamente onde está o espaço (dentro ou fora) para gerar ataques que terminem sempre em finalização. É um treinador muito experiente, tranquilo mas  exigente e com um staff que o conhece muito bem e o ajuda a tomar as melhores decisões”. 

Ricardo Pereira trabalhou na América do Sul, no projeto do Independente Del Valle. Ele chegou a enfrentar o Flamengo na Recopa Sul-Americana de 2023, onde o time equatoriano faturou a taça no Maracanã. Um tempo depois, Ricardo recebeu o convite para trabalhar no time carioca, mas acabou recusando. 

“Foi um convite oficializado numa proposta formal de um contrato de 3 anos com o objetivo de estar com o time profissional e coordenar o trabalho do departamento de goleiros de toda a base. Foi um dos convites que mais me lisonjeou em toda a minha vida profissional.  Não aconteceu porque o timing de saída do Independiente del Valle não era compatível com o de chegada ao Flamengo. Ou seja, a necessidade do Flamengo era imediata e eu senti que não podia deixar o IDV no meio da primeira etapa da Liga Equatoriana, que acabamos por vencer e assegurar um lugar na Libertadores do ano seguinte. A minha decisão teve a ver com questões de ética, carinho e gratidão para com o Independiente del Valle. Apesar de ser muito difícil dizer não ao Flamengo tive que decidir em consciência”. 

Ricardo Pereira também trabalhou com John, do Botafogo, no Valladolid, da Espanha. O goleiro foi um dos destaques do futebol brasileiro em 2024. 

"O John é um menino com muito talento e com muita capacidade de trabalho. Sabe ouvir, quer aprender e quer muito melhorar. Quando se sente acarinhado por companheiros, comissão técnica e torcida vira um monstro dentro do gol. O talento já estava todo lá, e somado a isso foi crescendo em confiança e performance. Fiquei muito, muito feliz com tudo o que conquistou no ano passado”. 

"Gosto que trabalhe com um grau de imprevisibilidade que o prepare para a incerteza que enfrentará no jogo. Acredito que o treino específico do goleiro deve ir na linha do que o treinador do time quer. O Goleiro não é mais um cara que joga sozinho defendendo o gol. Ele constrói jogo de acordo com os princípios táticos do time e não adianta só trabalhar a técnica de passe curto e longo. Isso não adianta se ele não souber identificar onde estão as superioridades numéricas e de espaços. Quem é o homem livre e como chegar até ele. Ele deve defender o espaço entre ele e a defesa seja no ar ou no chão mas precisa saber decidir quando ir ou deixar o defensor cortar a bola. Na minha opinião o treino do goleiro é um jogo num espaço mais reduzido com imprevisibilidade, decisões, ações técnicas, competição e emoção. Estes são alguns dos ingredientes que potenciam a aprendizagem e ajudam ao transferir para as ações reais no jogo. 

"Para os técnicos Portugueses têm sido oportunidades maravilhosas de testar a sua capacidade tática num país riquíssimo em talento e apaixonado por futebol. Para o futebol Brasileiro poderá ser incrivelmente positivo porque traz benefícios para a evolução do jogo e dos jogadores. Alguém tem dúvidas que um jogador talentoso rende mais se aprender melhor que terrenos pisar e quando? Quando driblar ou passar? Como e quando defender o homem ou o espaço? E a disciplina tática que trazem alguns destes técnicos seguramente que tem sido um desafio a ser desmontado pelos técnicos Brasileiros que os defrontam. Acho que ficamos todos mais ricos e no fim ganha o futebol".