Por que o Arsenal deve pagar alto para dar chapéu no Chelsea por Ivan Toney

Não é nenhuma surpresa que Toney seja um atacante tão atraente para os grandes clubes da Premier League. Como mostrou a mais recente janela de transferências do verão, há uma grave escassez de atacantes confiáveis e disponíveis no futebol europeu.

Depois de uma carreira de altos e baixos em divisões anteriores, Toney emergiu no Peterborough United na temporada 2019/20, marcando 24 gols em apenas 32 jogos da League One – e não parou de marcar desde então.

Foram 31 gols e 10 assistências na campanha seguinte, quando o Brentford subiu da Championship. E o centroavante não teve problemas para manter o alto nível no alto nível do futebol mundial, marcando 12 vezes na primeira temporada dos Bees na Premier League.

A boa fase continuou na última campanha, com Toney conquistando a primeira convocação à seleção inglesa, em março - no final da temporada, já havia marcado 21 gols em 35 partidas. E poderia ter sido mais, se não fossem as violações da política antiapostas do atacante, que acabou banido do futebol por oito meses. Esta suspensão termina em 15 de janeiro.

No entanto, seus problemas extracampo não impediram que grandes clubes se interessassem por Toney. Para somar números tão impressionantes na melhor liga do mundo, é preciso ser um finalizador de elite. E Toney é exatamente isso, capaz de encontrar o fundo da rede de diversas maneiras.

Ele talvez seja mais conhecido por sua confiabilidade da marca do pênalti, sendo recentemente descrito por Frank como o melhor cobrador do mundo. Sua corrida lenta em direção à bola confunde até mesmo os goleiros mais talentosos, como Jordan Pickford, Nick Pope e Bernd Leno.

Toney comentou sua qualidade em penais após marcar dessa forma na vitória em um dérbi contra o Fulham na temporada passada: “A espera [antes de correr para a bola] não importa tanto. Quanto mais tempo, melhor. Porque posso pensar em outras coisas, como estar de férias e ficar mais relaxado. Mesmo que o goleiro não se mexa, sempre sei onde vou mandar a bola", afirmou, em entrevista pós-jogo à Sky Sports.

Esse posicionamento 'zen' em relação à pressão é típica de Toney. E isso diz muito sobre um de seus outros grandes pontos fortes como atacante: sua compostura. Atuando mais frequentemente como centroavante solitário na Premier League, Toney naturalmente se acostumou em ser o centro das atenções dos defensores. Mas, mesmo precisando se adaptar a jogar com pouco espaço dentro da área, tem demonstrado versatilidade com consistência.

E nenhum gol mostra isso melhor do que o que selou o seu hat-trick diante do Leeds, em setembro do ano passado. Após falha do goleiro Illan Meslier, tão logo Toney recebeu a bola, já era cercado por várias camisas brancas. Ele, porém, manteve a compostura e mandou, mesmo de fora da área, para o gol aberto.

O poder mental de Toney é combinado com sua notória habilidade técnica com ambos os pés - e com a cabeça. Isso é ilustrado pela grande variedade de gols já anotados na Premier League. Dos seus 32 tentos no Inglês até o momento, 13 foram com o pé direito, seu favorito, enquanto três foram marcados com o esquerdo. Também converteu 11 pênaltis, duas belas cobranças de falta e três cabeceios.

As estatísticas, assim, só apontam para uma conclusão: 'toca no Toney que é gol'. Sua média de 0,16 gols por finalização na temporada passada foi melhor do que as registradas por Gabriel Jesus e Eddie Nketiah – os dois que seriam por ele substituídos caso seja reforço dos Gunners para janeiro.

Entretanto, Toney não deve ser caracterizado apenas como um típico camisa 9. Há muito mais em seu futebol - e isso muitas vezes pode passar despercebido. Como centroavante, existem poucos jogadores melhores na Premier League.

Toney não domina apenas o jogo aéreo - ele venceu quase metade de todos os seus duelos aéreos na Premier League na temporada passada -, mas também se dá bem em entreveros físicos com os defensores. E isto é consequência dos seus tempos atuando em divisões inferiores do futebol inglês - e a maneira como ele se impôs contra zagueiros do nível de Ben White e Lisandro Martínez no passado rendeu a Toney uma reputação invejável.

Como resultado, os zagueiros dedicam atenção especial a ele durante os jogos - e ele teve média de 2,26 faltas cometidas cada 90 minutos na Premier League passada. Por outro lado, aglomerar tantos adversários ao seu redor pode proporcionar espaço para infiltrações de seus companheiros. Entre as linhas, Toney é capaz de acertar lançamentos em profundidade ou tentar passes de cabeça, através de bolas altas. E ele é excelente nessas duas coisas.

Toney também tem habilidade mantendo a posse de bola. O Brentford nem sempre pressiona alto a saída de bola adversário, mas, quando o faz, Toney é quem orquestra tudo. Ele teve médias de uma interceptação por jogo e de um desarme no último terço do campo a cada três partidas na campanha passada.

Dito tudo isso, não é difícil imaginar Toney se encaixando perfeitamente no time titular de Mikel Arteta, que sempre gostou de um centroavante responsável não só por marcar, mas também por interagir com os dois atacantes mais abertos.

Gabriel Martinelli e Bukayo Saka tirariam bom proveito das habilidades de Toney em abrir espaço, enquanto sua qualidade em bolas paradas e bolas na área certamente aumentariam a produtividade dos Gunners em jogadas desse tipo - na campanha anterior, eles marcaram apenas seis gols dessas maneiras.

Qualquer um que tenha acompanhado sua carreira também sabe que o temor de que o atacante possa sofrer a pressão de atuar em um clube grande não faz o menor sentido. Mesmo em seus tempos nas ligas inferiores, Toney sempre ostentou sua habilidade em se adaptar rapidamente a novos ambientes.

"Quando eu estava na League One, comecei a jogar melhor”, disse, durante participação no podcast On the Judy, em 2021. “Então, eu sabia que seria também capaz de me sair bem na Championship e na Premier League".

Toney demonstrou um nível semelhante de confiança quando recusou ser convocado pela selrção da Jamaica - tamanha era sua crença de que poderia atuar em bom nível na Inglaterra, apesar de Harry Kane praticamente monopolizar a posição de camisa 9 da equipe.

Agora que ele provou seu valor no nível mais alto do futebol, claro que quer buscar ainda mais sucesso. Em outra entrevista a um podcast, desta vez o Diary of a CEO, afirmou: "Todo mundo quer jogar no mais alto nível do futebol. Não que o Brentford não esteja lá, mas jogar por um grande clube e lutar por troféus é algo que eu realmente quero tentar. Se a chance surgir, eu seria bobo se não considerasse. O técnico sabe que quero chegar nesse patamar. Então, se e quando chegar a hora, que assim seja. Minha passagem aqui pelo Brentford foi provavelmente um dos melhores momentos da minha carreira".

E essa fé em si mesmo que Toney compartilha é justamente a mentalidade que um jogador de clube grande precisa ter. Ele esperou pacientemente por uma oportunidade em uma equipe 'nível Liga dos Campeões' - agora, é hora de provar que essa confiança não é ilusão.

No entanto, por mais adequado ao Arsenal que Toney possa ser, 80 milhões de libras é uma grande quantia de dinheiro - especialmente para ser gasta em uma janela de janeiro. Para entender, porém, o porquê da alta pedida do Brentford, é necessário lembrar do contexto do mercado de transferências superinflacionado da Premier League.

Frank até comentou recentemente a situação, dizendo: "No mercado de hoje, [veja] o preço dos segundos volantes. E todos nós sabemos que atacantes são os mais caros. Então, os valores isso serão realmente mais altos, a menos que agora estejamos pagando mais por um camisa 6 do que por um atacante", brincou.

Os meio-campistas aos quais o dinamarquês provavelmente se referia eram Declan Rice, Enzo Fernández e Moisés Caicedo – todos custaram mais de 100 milhões de libras (R$ 616,5 milhões, na cotação atual). Considerando esses preços, o pedido por Toney parece ser uma pechincha - ainda mais se tratando de um jogador inglês, o que, por si só, já elevaria seu preço.

E, se voltarmos ao meio de 2022, Alexander Isak e Darwin Núñez também custaram cerca de 80 milhões de libras. Embora ambos não tenham sido comprados para exercer, necessariamente, um impacto imediato para Newcastle e Liverpool, respectivamente, cada um deles chegou à Inglaterra sem nenhuma garantia de que seria titular. Com Toney, entretanto, não há tais temores - ele já provou seu valor.

O Arsenal seguiu uma linha de pensamento semelhante durante a busca por Rice, nesta janela. Com o passar dos dias e semanas, o West Ham ganhou cada vez mais capital de negociação, e os Gunners acabaram pagando 105 milhões de libras (hoje, R$ 647,3 milhões) para garantir seu alvo número um.

Houve questionamentos com relação ao preço, mas o primeiro ato de Rice no Arsenal foi bom. Ele acrescentou um necessário poderio físico ao meio-campo, o que ajudou a equipe de Arteta a obter resultados, embora não jogasse, ainda, com todo o seu potencial.

E talvez haja uma lição aqui. Embora o Arsenal possa encontrar menores valores procurando jogadores em outros países, o início de temporada brilhante de Rice mostra que investir em um jogador já estabelecido na Premier League pode render - o Chelsea provavelmente pensa o mesmo. Mas, para Toney, a escolha entre Arsenal ou os Blues não deve ser muito complicada.

A bola está, então, com o Arsenal. E eles precisam traçar exatamente o plano financeiro para acertar a chegada de Toney. O The Times reportou recentemente que jogadores terão que ser transferidos antes que a estrela dos Bees possa assinar contrato, devido às restrições do fair play financeiro. Reiss Nelson, Emile Smith Rowe e até mesmo Nketiah poderiam ser negociados no início de 2024 - todos jogadores ingleses que trariam um bom incentivo aos cofres do clube.

Por mais doloroso que seja ver esses produtos da base partirem, é uma escolha que Arteta terá que avaliar se quiser mesmo contratar Toney - que tem potencial para transformar o ataque dos Gunners.