Por que gringos acabam "fugindo" de Manchester - e deixando City e United na mão?

Uma fonte que ajuda os jogadores de futebol a se estabelecerem em novos clubes disse à GOAL que o status do City e do United como dois dos maiores e mais bem-sucedidos times do mundo faz com que a atração de jogar por eles supere qualquer preocupação que os jogadores possam ter em relação a morar em Manchester.

"Não consigo pensar em nenhum jogador que não queira ir para o City ou o United, eles são clubes tão grandes que estão acima dessas preocupações, o clube pesa mais do que a cidade", diz ele.

"Eu não diria que, em nenhum momento no auge da sua carreira, você seria influenciado por uma cidade. Esses dois clubes estão entre os cinco melhores do mundo, não ir para lá por causa da cidade em si seria um erro.

"Todos os jogadores querem ir para a Inglaterra, é a melhor liga do mundo por um motivo. Eu não acho que seja um fator decisivo, uma cidade pode ser melhor ou pior, e os jogadores geralmente ficam em suas casas, pois a atividade do dia a dia é bastante básica e eles se concentram principalmente em jogar futebol.

"Se você perguntar para o Haaland ou o Grealish, eles ficarão encantados, acabaram de vencer a tríplice coroa. Eu não acho que a cidade seja um fator muito importante para os jogadores jovens."

Mas para jogadores como Alves e Di Maria, que já eram estrelas globais e vencedores da Champions League, fatores fora de campo importam mais. O mesmo vale para Gundogan, que passou sete anos no City e, após capitaneá-los para conquistar a tríplice coroa, já conquistou tudo o que era possível com o clube.

"Depende da fase da sua carreira. Se você é jovem e está começando, ninguém diria não a ir para lá por esse motivo", acrescenta a fonte. "Mas Gundogan já ganhou tudo, então ele quer um novo desafio e já está em Manchester há sete anos, então por que ele ficaria em um lugar com céus cinzentos e, por exemplo, onde não pode encontrar um bom sushi?

"A cidade, é claro, ajuda a convencer o jogador e você não pode comparar Manchester com lugares como Barcelona, onde você tem comida perfeita, é ensolarado o dia todo e tem praia. Qualquer pessoa no mundo gostaria de viver lá. Para onde as pessoas vão de férias? Para Barcelona. Não há nenhuma cidade no Reino Unido que possa oferecer tanto.

"Eu não acho que Manchester seja uma cidade feia, mas em termos gastronômicos deixa um pouco a desejar. Ela melhorou, mas não é Paris, Barcelona ou até mesmo Londres, que é a Nova York da Europa."

A falta de boa comida em Manchester é uma reclamação comum entre as parceiras dos jogadores. A esposa de Di Maria descreveu a comida local como "nojenta", enquanto Edurne Garcia, namorada de David de Gea, que optou por não morar em tempo integral em Manchester quando o goleiro se mudou para o United em 2011, disse que era preciso procurar pelos melhores restaurantes, e mesmo assim eles não eram tão bons quanto as opções na Espanha.

A esposa de Gundogan, Sara Arfaoui, chamou a atenção no ano passado ao reclamar da falta de restaurantes de qualidade. "Eu tentei muito encontrar um bom restaurante, mas a comida era horrível em todos os lugares", disse ela. "Talvez em Londres, mas em Manchester, nada. Desculpe."

Mas a reputação culinária de Manchester tem crescido constantemente, levando-a a ser nomeada pela Lonely Planet como a cidade número um a visitar no Reino Unido em 2023. Dois anos atrás, ela foi escolhida pela Time Out como a terceira melhor cidade do mundo, atrás apenas de São Francisco e Amsterdã.

Guardiola ajudou a lançar o TAST, um restaurante catalão de alta classe no centro da cidade, e existem vários outros restaurantes espanhóis de alta qualidade espalhados pela cidade. Guardiola gosta de se deliciar no restaurante japonês Musu, enquanto Erling Haaland gosta de ir ao local de comida de rua indiana Dishoom e ao restaurante italiano San Carlo, além de fazer churrasco de suas próprias carnes durante a festa de título da Premier League do City.

O restaurante chinês Wings tem sido popular entre jogadores e treinadores há muito tempo e era o local favorito de Louis van Gaal durante seus dois anos como técnico do United. Outro restaurante popular é o Zouk Tea Bar and Grill, onde os jogadores do United são frequentemente vistos e onde as estrelas pop Rihanna e Drake já jantaram.

Os céus cinzentos e as fortes chuvas de Manchester são motivo de muitas piadas. No entanto, a cidade só ocupa o 16º lugar como a mais chuvosa da Europa. Milão, Munique e Lyon têm mais precipitação, mesmo que o clima raramente seja mencionado como motivo para jogadores não se juntarem ao AC Milan, Inter, Lyon ou Bayern de Munique.

O ex-atacante do City, Nolito, chamou a atenção ao declarar que a falta de sol em Manchester fez com que a pele de sua filha mudasse de cor e que ela parecia ter "vivido em uma caverna". Um médico até a aconselhou a tomar comprimidos de vitamina D.

Nolito havia se juntado ao City vindo do Celta de Vigo, a cidade mais chuvosa da Espanha, que recebe uma média diária de 5,8mm de chuva em comparação com 3,2 em Manchester, então ele deveria estar acostumado com a chuva. No entanto, ele teve dificuldade em lidar com os dias curtos no inverno.

Ele disse ao The Guardian: "Almoçávamos juntos, jantávamos em casa, íamos tomar um café, mas não funcionou muito bem. Se escurece às 17h, então às seis parece que são dez da noite e você até começa a ficar cansado. Você pensa: 'Caramba, são apenas seis horas!'"

Nolito não se adaptou muito bem à vida em Manchester, embora tenha tido apenas um ano para se aclimatar antes de retornar à Espanha para se juntar ao Sevilla. Sergio Aguero, por outro lado, passou uma década no City, tornando-se o maior artilheiro de todos os tempos do clube, com 275 gols, sendo o mais crucial o gol que garantiu o primeiro título da Premier League deles em 2012.

E para um jogador tão querido pelos fãs do City, ele não parecia se integrar muito à cultura local. No documentário All or Nothing lançado em 2018, ele disse que tinha uma existência solitária, passando a maior parte do tempo livre sozinho, exceto quando seu filho e irmãos o visitavam.

Além disso, ele praticamente não falava inglês e durante a cobertura da final da Liga dos Campeões na BT Sport, ele se expressou em espanhol, tendo Cesc Fabregas como seu tradutor.

Pelo menos ele nunca reclamou da vida em Manchester, ao contrário de seu compatriota Carlos Tevez. Tevez infamemente trocou o United pelo City em 2009, entrando em conflito com o clube durante a temporada 2011/12, quando se recusou a aquecer e entrar em campo como substituto em um confronto da Champions League contra o Bayern de Munique. Esse não foi o único incidente que irritou os torcedores.

Em 2011, já com quatro anos morando em Manchester, ele disse que a cidade não tinha "nada" e admitiu que não havia feito novos amigos desde que se mudou. "Eu nunca mais voltarei, nem mesmo de férias, nem por nada", acrescentou.

No início deste ano, Tevez admitiu ter se recusado a aprender uma palavra em inglês em protesto bizarro devido à Guerra das Malvinas. Ele disse: "Os sete anos que passei na Inglaterra foram: 'Ok, estou aqui a trabalho, mas não me adapto à cultura inglesa'. Se você quer falar comigo, aprenda espanhol, porque eu não vou aprender inglês".

Os argentinos, em particular, parecem ter dificuldade em desfrutar da vida em Manchester. Ninguém mais do que Di Maria, que se tornou a contratação mais cara do United em 2014, por 60 milhões de libras (R$ 226 milhões na época), mas saiu um ano depois para o PSG, após desentendimentos com Van Gaal e irritando os torcedores dos Diabos Vermelhos devido à sua falta de compromisso.

Sua família passou por uma experiência traumática quando sua casa foi invadida enquanto estavam dentro dela. Mas sua esposa, Jorgelina Cardoso, admitiu posteriormente que odiava a cidade mesmo antes de começarem a morar lá.

"Eu não queria ir para Manchester porque naquela época eu era amiga da Gianinna Maradona, que era casada com [Sergio] Aguero, e voamos de Madri para a casa dele em Manchester para visitá-lo por dois ou três dias quando Angel tinha alguns dias de folga no Real Madrid", ela disse.

"Foi horrível! Tudo foi horrível, fomos para a casa e pensamos... 'Até mais, pessoal, estamos indo embora daqui'. Quando saímos, eu disse a ele: 'Vá para qualquer país - exceto a Inglaterra'. De qualquer forma, um ano depois, lá estávamos nós na Inglaterra e foi horrível, um buraco de m***a."

Cardoso também disse que tinha medo das pessoas "esquisitas" na cidade. Ela acrescentou: "Você está andando na rua e não sabe se vão te matar ou o quê. Todas as garotas estão superarrumadas, perfeitamente maquiadas, e eu estou com o cabelo preso em um coque e sem maquiagem."

Alguns jogadores estrangeiros adoraram viver na cidade. O melhor exemplo é Juan Mata, que se juntou ao United em 2014 depois de deixar o Chelsea.

Mata havia iniciado um blog enquanto estava em Londres, no qual escrevia sobre suas experiências na capital, e quando se mudou para Manchester, ele elogiou entusiasticamente as ofertas culturais da cidade. Ele escreveu críticas entusiasmadas sobre seu tempo no Northern Quarter e suas lojas de discos, e era um visitante frequente da Whitworth Art Gallery.

E desde que deixou o clube em 2022 para jogar no Galatasaray, ele manteve seus laços com a cidade. Na semana passada, ele retornou a Manchester para inaugurar uma exposição de arte chamada The Trequartista: Art and Football United, apresentando uma peça colaborativa de arte performática com o artista alemão Tino Sehgal.

"Manchester foi minha casa e eu conheço muitas pessoas lá, tenho certeza de que elas ficam felizes quando volto e estou ansioso para voltar e visitar muitos amigos. É uma cidade incrível", disse Mata ao Manchester Evening News.

Mata estava seguindo os passos de outro grande jogador do Manchester United ao sediar uma exposição de arte na cidade. Eric Cantona, que ajudou a colocar a cidade no mapa global novamente na década de 1990, realizou uma exposição de seis meses no Museu do Futebol com o artista local Michael Browne e frequentemente falou sobre seu amor pela história de ativismo político e rebelião da cidade.

Outro campeão nascido no exterior de Manchester é Vincent Kompany. O ex-capitão do City fez muitas campanhas contra a falta de moradia na cidade, lançando sua instituição de caridade Tackle4MCR para arrecadar fundos e conscientizar sobre a causa.

Ele foi elogiado por Andy Burnham, prefeito de Manchester, que disse que o interesse de Kompany pelo problema da falta de moradia, um problema crescente na cidade, "fala poderosamente sobre o efeito que Manchester teve sobre ele - como ele entende o lugar, sua inteligência emocional". O belga também é casado com uma mulher de Manchester, Carla Higg, uma torcedora do City desde sempre.