Por que Anthony Martial é um símbolo da era de fracassos do Manchester United?

É justo dizer que Martial estaria na lista de desejos de transferência de poucos torcedores do United no verão europeu de 2015, mas depois de uma janela movimentada de chegadas e saídas, foi revelado que o United estava planejando a contratação do jogador de 19 anos no último dia de janela.

Martial teve uma primeira temporada completa impressionante no Mônaco, marcando 12 gols e cinco assistências, o que o levou a ser apelidado de "o novo Thierry Henry" na França. Martial recebeu permissão especial para deixar o treinamento da seleção francesa para concluir a transferência.

Martial mostrou potencial no Mônaco, mas as sobrancelhas se levantaram em todo o mundo quando foi revelado que o United havia concordado em pagar até £57,6 milhões (R$ 360 milhões) para contratá-lo. O United pagou apenas £36 milhões adiantados, mas três cláusulas, no valor de £7,2 milhões cada, foram inseridas no acordo, o que aumentaria ainda mais a taxa.

As cláusulas variavam de prováveis a surreais. A primeira exigia que Martial marcasse 25 gols na Premier League entre 2015 e 2019. Essa cláusula só foi ativada em outubro de 2018. Uma segunda cláusula seria ativada se Martial fizesse 25 jogos pela França enquanto ainda estava no United. Martial continua com 19 aparições pelos Les Bleus e parece altamente improvável que algum dia seja convocado pelo seu país novamente.

A terceira cláusula, a mais ambiciosa, seria ativada se Martial ganhasse a Bola de Ouro até 2019. É o suficiente dizer que Martial nunca foi opção para o prêmio individual de maior prestígio do futebol. No final, o United pagou £43,2 milhões (R$270,6 milhões) por ele em taxas de transferência.

Martial fez sua estreia contra o Liverpool saindo do banco e marcando um gol verdadeiramente impressionante para selar uma vitória por 3-1. O francês deu continuidade à estreia dos sonhos ao marcar dois gols em Southampton, uma semana depois.

Ele não conseguiu manter essa taxa de conversão, mas terminou a campanha com 17 gols em todas as competições, incluindo o gol da vitória contra o Everton na semifinal da FA Cup, em Wembley.

Ele também era querido pelos torcedores, que criaram um canto chiclete para ele, que dizia: "Tony Martial veio da França, a imprensa inglesa disse que ele não tinha chance, 50 milhões ralo abaixo, Tony Martial marca novamente."

O progresso de Martial foi interrompido pela demissão de Van Gaal, que o trouxe para o United, e pela chegada de José Mourinho. O português contratou o ex-atacante da Inter, Zlatan Ibrahimovic, o que reduziu a função de Martial na equipe e gerou uma disputa sobre o número da camisa do francês, o que fez com que ele e o novo técnico começassem com o pé esquerdo.

“Digo a ele que prefiro manter meu número nove”, disse Martial à France Football. “Quando volto ao clube, vejo minha camisa com o número 11, a história não começou bem! Ele me desrespeitou, logo de cara."

Martial foi titular em menos da metade dos jogos do United na Premier League em cada uma das temporadas de Mourinho e foi abertamente criticado pelo técnico em diversas ocasiões por suas atuações e atitudes.

Ele teve um início forte em sua segunda temporada com o treinador, com nove gols no campeonato até janeiro, mas depois se sentiu desrespeitado quando o clube contratou Alexis Sanchez. A chegada do chileno diminuiu ainda mais o tempo de jogo de Martial e ele não voltou a marcar pelo resto da temporada, ficando posteriormente de fora da seleção francesa na Copa do Mundo de 2018.

“Ele [Mourinho] estava falando de mim na imprensa. Ele gosta desses jogos, mas também sabe com quem está fazendo isso”, disse Martial. “Na segunda temporada, fui o artilheiro do time na primeira parte da temporada, ele trouxe Alexis Sanchez e quase não joguei mais. Custou-me caro. Eu deveria ter estado lá [na Copa do Mundo]."

Martial deve ter ficado feliz com a saída de Mourinho e marcou no primeiro jogo de Ole Gunnar Solskjaer no comando, contra o Cardiff. Ele assinou um novo contrato em janeiro de 2019 e realmente se destacou na temporada seguinte como atacante, marcando 23 gols, sua melhor marca pelo clube, além de contribuir com 12 assistências - e isso mesmo tendo perdido quase dois meses com uma lesão no tendão da coxa.

Entre os destaques estavam um gol em uma vitória improvável sobre o Manchester City, dois gols contra o Newcastle e um hat-trick contra o Sheffield United. Ele também foi eleito o Jogador da Temporada do United.

Martial foi perseguido por lesões musculares ao longo de sua carreira e mais tarde revelou que continuou a jogar enquanto estava lesionado na campanha de 2020-21. Isso levou ao declínio de seu desempenho e ele marcou apenas quatro vezes na Premier League.

“Nas últimas duas temporadas, joguei regularmente lesionado. As pessoas não sabem disso, não conseguia correr durante os quatro meses seguintes à temporada de Covid. Solskjaer me disse que precisava de mim, então eu joguei", disse ele à France Football . “Dado o meu jogo, se não consigo acelerar, fica muito complicado e sou criticado - o treinador nunca se preocupou em contar à mídia."

O desastre aconteceu quando Martial rompeu os ligamentos do joelho enquanto jogava pela França nas eliminatórias da Copa do Mundo contra o Cazaquistão, em março de 2021. "Obviamente, acabei me lesionando por um bom tempo e quando voltei, acabou, não jogo mais." ele adicionou. “Recebi isso muito mal. Tive um sentimento de injustiça. Você é convidado a se sacrificar pela equipe e depois você é dispensado. Para mim, é quase uma traição. Isso é tudo que eu odeio. Posso ser culpado, mas não por ser falso.”

Quando Martial voltou de lesão, enfrentou uma luta difícil para voltar ao time devido ao retorno de Cristiano Ronaldo e ao surgimento de Mason Greenwood. Depois de apenas duas partidas como titular no campeonato, ele buscou refúgio em um empréstimo ao Sevilla para a segunda metade da campanha de 2021-22.

Porém a sua breve estada no sul da Espanha também foi um complicada. Ele marcou apenas um gol e deu uma assistência, e, enquanto foi duramente criticado por seu desempenho insatisfatório, continuou a sofrer de problemas com lesões, o que o levou a dois afastamentos em apenas cinco meses.

O jornal espanhol Marca descreveu sua passagem pelo Sevilla como "um fracasso" e ele foi vaiado pelos torcedores durante o empate sem gols contra o Real Sociedad.

Martial voltou de seu período de empréstimo determinado a lutar por sua vaga no United sob o comando de um novo técnico, e impressionou Erik ten Hag na viagem de pré-temporada pela Ásia e Austrália, a ponto do técnico holandês barrar sua venda.

Martial inicialmente retribuiu a fé nele, marcando duas vezes contra o Manchester City, embora na derrota por 6-3. Entretanto, Ten Hag logo começou a perceber o que seus antecessores sabiam muito bem: não se podia confiar em Martial para permanecer em forma.

Quando o atacante estava disponível, ele invariavelmente tinha um bom desempenho e terminou a campanha com nove gols em todas as competições, incluindo três nos últimos dois meses para ajudar o United a terminar em terceiro. Porém, uma semana antes da final da FA Cup contra o City, ele rompeu o tendão da coxa e perdeu o confronto em Wembley. Foi a 29ª partida que ele perdeu na temporada.

O United teria prazer em vender Martial na janela de verão europeu, mas nenhuma oferta adequada chegou para ele. Além disso, ele também não estava em forma para começar a temporada, forçando Ten Hag a colocar Rashford como atacante enquanto esperava que o novo contratado Rasmus Hojlund se recuperasse de uma lesão nas costas.

Martial não apareceu muito, mas quando apareceu, sua presença enfureceu os torcedores. Ele foi recebido com vaias ensurdecedoras quando substituiu Hojlund na derrota para o Brighton e também teve uma recepção nada calorosa ao enfrentar o Man City.

Ele marcou contra o Crystal Palace na Carabao Cup e fez seu gol habitual contra Everton, seu adversário favorito, mas permaneceu anônimo quando jogou, sem força para correr devido ao acúmulo de lesões musculares.

A irrelevância de Martial no United foi resumida por um incidente em setembro, quando o atacante apareceu para treinar na hora errada e deixou Carrington poucos minutos depois de chegar. Tornou-se comum que ele também seja ridicularizado na mídia, com o ex-técnico da Irlanda, Martin O'Neill, alegando que ele tinha um "comportamento irritante". A lenda do clube, Paul Scholes, por sua vez, disse que Martial "não tem mais coragem de jogar pelo Manchester United".

Ficou claro que Alan Shearer estava se referindo a Martial quando disse que havia "muitos ovos ruins naquele time do Man United. Muitas atitudes ruins". E Roy Keane, como sempre, foi ainda mais longe, sugerindo que Martial “pode muito bem descer de divisão”.

"O United vem tentando se livrar dele há alguns anos. Você julga o Man United pelo que faz nos grandes jogos. Se você não consegue lidar com isso, talvez você não seja um jogador do Man United", disse. o ex-capitão.

Martial não jogou um minuto de futebol nem apareceu no banco desde a derrota para o Bournemouth em 9 de dezembro. Sua longa ausência foi atribuída a doença, embora ele tenha assistido ao empate em 2 a 2 com o Tottenham, sentado na frente de Wayne Rooney e família.

Desde então, ele retomou o treinamento individual, gerando boatos de que Ten Hag ordenou que ele treinasse sozinho, embora o United tenha dito que não é o caso. As esperanças de um retorno foram frustradas pela revelação de seu agente Philippe Lamboley será submetido a uma cirurgia no quadril.

Quando ele finalmente retornar, Martial provavelmente jogará apenas mais alguns jogos pelo United, na melhor das hipóteses, à medida que seu contrato chega ao fim. Ten Hag indicou que não deseja prorrogar um ano, como o clube fez com Lindelof e Wan-Bissaka, deixando o francês livre no mercado.