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Messi back to Barcelona GFXGOAL

Por que a volta de Lionel Messi ao Barcelona por empréstimo é uma má ideia para todos

Em fevereiro de 2012, Thierry Henry marcou seu último gol pelo Arsenal. Foi um momento romântico, um gol de cabeça aos 45 minutos do segundo tempo para garantir uma vitória por 2 a 1 contra o Sunderland. Naquela época, Henry já estava contratado pelo New York Red Bulls, mas fez um retorno emocionante ao norte de Londres para uma despedida na Premier League. Pouco importava que o maior artilheiro de todos os tempos do clube tenha marcado só mais duas vezes nessa passagem.

O Arsenal não precisava realmente de Henry - e ele também não precisava voltar ao Arsenal. De fato, talvez tivesse sido melhor para ele ir a outro lugar para acumular mais de 98 minutos durante a o hiato da MLS. No entanto, o entusiasmo entre os torcedores foi determinante.

E agora, reportagens indicam que Lionel Messi tem a oportunidade de seguir um caminho semelhante. Com o Inter Miami matematicamente eliminado dos playoffs da MLS, Messi terá quase quatro meses sem uma partida oficial do Miami. Assim, o argentino tem sido ligado a um retorno ao Barcelona por empréstimo na próxima janela. Já dá quase para ouvir o Olympic Sadium - a casa temporária do Barça - quando o inevitável primeiro gol da volta de Messi for marcado.

Além das barreiras óbvias aqui - os enormes problemas financeiros do Barça que efetivamente os impedirão de gastar no início do ano que vem -, o glorioso retorno de Messi não necessariamente seria algo a ser celebrado. Todas as partes têm problemas maiores, problemas que tornam essa história não apenas extremamente impraticável, mas também absolutamente insensata.

  • Messi Inter Miami sad 2023Getty Images

    Dores de cabeça para o Miami

    O problema imediato é que isso seria um grande problema para o Inter Miami. O time de Tata Martino nunca teve reais chances de chegar aos playoffs - com Messi ou sem Messi. Os Herons estavam 12 pontos atrás da primeira vaga à pós-temporada quando o craque se juntou ao time e tinham, de longe, o pior desempenho na MLS.

    Apesar de não ter jogado uma partida de futebol em dois meses (e, dá para dizer, não ter jogado uma a sério desde a final da Copa do Mundo), as coisas mudaram quase que imediatamente quando o vencedor de sete Bolas de Ouro chegou. Messi marcou 11 gols e deu oito assistências em seus primeiros 11 jogos, conquistando um título da Leagues Cup no processo. No entanto, uma vez que a MLS recomeçou, o argentino caiu de ritmo.

    Parte disso se deve a uma lesão que Messi sofreu enquanto atuava pela Argentina durante a Data Fifa de setembro. O atacante lesionou a coxa contra o Equador, no dia 7 de setembro, reacendendo um problema recorrente que o tem afetado há algum tempo. Como resultado, ele perdeu cinco dos seis jogos seguintes do Inter Miami - um período em que sua equipe conquistou cinco dos 18 pontos disputados.

    O Inter Miami sem Messi é bem, bem mais fraco - e vai ser assim mesmo que façam algumas contratações nesta intertemporada, como Luis Suárez ou Luka Modric, que têm sido alvos de rumores de possíveis vindas aos EUA.

    Em resumo, eles simplesmente não podem correr o risco de Messi sofrer outra lesão antes de 2024. Ou seja, o camisa 10 ficará melhor descansando por alguns meses, especialmente porque suas férias pós-Copa foram encurtadas pela sua mudança de ares. Enviá-lo de volta à Europa, independentemente do destino, não é do melhor interesse do Inter Miami em campo.

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  • Lionel Messi David Beckham Jorge Mas Inter Miami 2023Joe Raedle/Getty Images

    Messi, um homem de negócios

    Messi admitiu em uma entrevista antes de fazer sua mudança para a MLS que, originalmente, realmente desejava retornar ao Barcelona. Ele alegou que o clube havia dito durante meses que seria possível chegar a um acordo, mas as negociações desmoronaram no último minuto devido aos problemas financeiros.

    Messi fez questão de dizer que queria tomar sua "própria decisão" e afastar a possibilidade de uma repetição do fracasso no registro e de sua saída forçada, em 2021. Mesmo que não quisesse, seguiu em frente.

    Parte da decisão de Messi de se mudar para os EUA foi para expandir suas oportunidades de carreira além do futebol. Aos 36 anos, Messi é parte empresário e parte atleta. Seu contrato na MLS está vinculado, conforme reportagens, às vendas de assinaturas da Apple TV, e ainda contará com outros patrocinadores. Crucialmente, ele também assegurou uma participação acionária no Inter Miami como clube. Embora não seja o mesmo que os direitos de franquia que David Beckham recebeu do LA Galaxy, lá em 2007, está bem próximo disso.

    E, embora Beckham tenha atuado uma temporada em Paris nos últimos dias de sua carreira, Messi está jogando agora em uma versão de mais destaque e qualidade da MLS. Ele é agora o rosto de um clube que está atraindo atenção global; não há necessidade para ele de reabrir o capítulo europeu de sua carreira.

    Pode haver espaço para uma aparição na sensação da internet de Gerard Piqué, a Kings League, ou até mesmo em uma partida dos Barça Legends em algum momento. Mas, por enquanto, enquanto Messi ainda está jogando futebol, sua obrigação é com a MLS e o Inter Miami.

  • Xavi Barcelona 2023-24Getty Images

    Alimentando o circo midiático da Catalunha

    Do outro lado, é compreensível por que o Barcelona esteja interessado em trazer Messi de volta, mesmo que temporariamente. Eles precisam de uma boa gestão de relações públicas, já que continuam assombrados pelo escândalo de suposta compra de árbitros, conhecido como 'caso Negreira' e agora enfrentam uma disputa com um de seus investidores minoritários, que se recusou a pagar por uma participação de 40 milhões de euros (cerca de R$ 213,7 milhões) acordada no meio do ano passado.

    E, se há um jogador capaz de injetar uma quantidade imensa de dinheiro e investimento em um clube, esse jogador é Messi. Apenas com as vendas de camisas e ingressos, além das oportunidades de marketing, o Barcelona certamente se beneficiaria bem. O Manchester United, de fato, viu o mesmo impulso com o retorno de Cristiano Ronaldo, em 2021.

    Porém, a inevitável distração pelo retorno do astro também poderia ser um problema. Há um circo midiático muito específico que segue o Barcelona, onde cada movimento feito e palavra proferida parece se tornar notícia. Os trajes de Jules Koundé recebem análises extensas da mídia espanhola; cada frase de Xavi, mesmo das coletivas de imprensa mais mundanas, é analisada e dissecada; resultados ruins são extrapolados e ampliados, enquanto vitórias alimentam a esperança daqueles que acreditam que o retorno aos dias de glória está logo ali. É um clube repleto de distrações.

    Agora, tente inserir o rosto mais reconhecível no mundo dos esportes nesse vestiário. Xavi é um bom treinador, que comanda uma equipe muito boa. Isso já é motivo suficiente para chamar a atenção, sem acrescentar o peso de uma lenda do clube - a lenda do clube - nessa equação. O Barcelona já se prejudica pelo barulho extracampo e não precisam de mais.

  • Joao FelixGetty Images

    O Barça não precisa de Messi

    De forma mais ampla, o Barcelona está melhor sem Messi. O clube precisou de dois anos para superá-lo, dispensando vários veteranos contratados para complementar seu talento, ao mesmo tempo em que integravam jovens ao time. Nesse período, demitiram Ronald Koeman, contrataram Xavi, quase faliram, assinaram com jogadores de alto nível que não podiam pagar e ainda precisaram de mais um ano para encontrar algo que se assemelhasse ao sucesso. Há até quem argumente que o título da La Liga só veio devido à queda de desempenho do Real Madrid.

    Este é um time que, de certa forma, ainda está se recuperando da perda do astro. Ainda assim, em seu lugar, também conseguiu construir algo viável. Xavi montou uma equipe interessante - ainda que com algumas falhas - e que ostenta uma chance real de conquistar mais um título da liga e fazer uma boa campanha na Liga dos Campeões.

    E acontece que a principal área de força é justamente onde Messi poderia jogar. O sistema de Xavi é complexo, mas o treinador utiliza quatro meio-campistas e, quando está com todos os jogadores disponíveis, precisa barrar um desses quatro - Ilkay Gündogan, Pedri, Gavi ou João Félix. A maioria das equipes consideraria um privilégio ter a capacidade de escalar esses jogadores.

    E onde, exatamente, Messi se encaixa nesse grupo? Certamente, há versatilidade ali, mas Messi, além do inegável brilho em seu jogo, não oferece mais do que qualquer um dos quatro. Sem dúvida, ele é mais criativo do que todos eles, mas isso por si só já não é o suficiente.

    Ele não desarma como Gavi, não corre como Pedri e não domina o meio-campo como Gündogan. Dá para discutir se estaria à frente de Félix na hierarquia, mas o português não demorou para encontrar sua forma na Catalunha. O próprio Xavi admitiu que o jogador, emprestado pelo Atlético de Madrid, é fundamental para o sucesso de sua equipe.

    Na prática, então, o Barcelona estaria contratando um jogador que não pode pagar para uma posição na qual ele já não se encaixa mais.

  • Lionel Messi Inter Miami 2023Getty

    Deem um descanso a Messi!

    E o que dizer de Messi nisso tudo? Muitas das discussões em torno de uma possível transferência por empréstimo têm se centrado em como o Barcelona poderia fazê-lo funcionar - ou o que isso poderia significar para o Inter Miami e para a MLS como um todo.

    Mas poucos parecem ter considerado a realidade de que trata-se de um jogador de 36 anos cujo corpo está envelhecendo. Lesões na coxa podem afetar qualquer jogador de futebol, de qualquer idade, mas uma análise dos números e a consideração da variedade de lesões mostram que este é um jogador que está entrando no fim de sua carreira.

    Messi perdeu 15 jogos na temporada 2021/22, oito em 2022/23 e seis nestes três meses no Inter Miami. Ele lidou com problemas musculares em ambas as pernas. Martino já chegou a afirmar, em uma coletiva, que a estrela precisará ser poupada às vezes - uma ideia que foi recebida com indignação por parte dos fãs que investiram pesadamente para vê-lo jogar.

    Há também um aspecto emocional em tudo isso. Messi pode até ter desfrutado de umas férias pós-Copa do Mundo, em janeiro - ou dado a impressão de que teve umas férias maravilhosas na Arábia Saudita alguns meses depois -, mas este é um jogador que não teve realmente um descanso nos últimos anos. Certamente, ele tem muito a oferecer como jogador de futebol e não deve ter problemas para cumprir o último ano de seu contrato com o Miami. No entanto, ele precisará de algum tempo para se recuperar em algum momento.

    Os jogadores de futebol e os atletas modernos em geral não têm muito tempo para descansar. As agendas e os calendários de jogos estão cada vez mais apertados, enquanto a constante atenção do mundo ao seu redor não oferece muito espaço para relaxarem. E isso para um jogador regular; imagine para um dos maiores de todos os tempos.

    Agora, Messi tem três meses de folga. Seu time está fora dos playoffs e seu ex-time não pode se dar ao luxo de contratá-lo - e talvez nem queira, também.

    O tempo de Messi no Barcelona acabou; o mundo do futebol precisa aceitar isso.