Chegou a hora de Luka Modric se juntar a Lionel Messi nos EUA?

O declínio do tempo de jogo de Modric já era previsto há algum tempo. Desde que apareceu em quase todos os jogos durante a temporada 2020-21, o croata viu sua participação diminuir constantemente. Embora tenha sido uma estrela durante a campanha vitoriosa do Real na Liga dos Campeões em 2021-22, sua participação na La Liga foi limitada, com apenas 25 partidas.

As coisas ficaram mais difíceis no ano passado. Modric só conseguiu 19 partidas na primeira divisão espanhola, apesar de ter sido escalado nas competições europeias de mata-mata. Mas isso diz muito sobre o fato de ele ter conseguido jogar apenas metade da temporada, mesmo com o Real perseguindo o Barcelona na disputa pelo título da La Liga.

O próprio Ancelotti admitiu, em janeiro, que o seu velho maestro do meio-campo talvez precisasse se preparar para um futuro de menos minutos, dizendo: "Eles (Modric e Toni Kroos) sabem que há muita qualidade nesta equipe. É um momento de transição. Conversei com eles sobre isso no início da temporada."

No caso de Modric, o técnico cumpriu essa promessa nesta campanha. O ex-jogador do Tottenham foi titular em apenas quatro partidas em todas as competições, embora tenha entrado na equipe para o clássico de Madrid contra o Atlético, no que foi o jogo mais importante da temporada até agora. No entanto, sua influência nessa disputa foi visivelmente limitada, e os Blancos foram um time melhor quando ele foi substituído.

Mesmo assim, Modric se defendeu e insiste que ainda pode contribuir, dizendo em uma coletiva de imprensa na última quarta-feira: "Certamente é uma situação nova para mim não jogar tanto quanto antes e tanto quanto eu gostaria. Eu sempre quero jogar, me sinto melhor e me preparo para dar o meu melhor."

É claro que há um bom motivo para Modric ter sido mantido fora da equipe. Jude Bellingham sempre foi uma contratação de destaque, mas poucos poderiam prever o impacto que ele teve em Madrid até agora. Dez gols e três assistências até meados de outubro não era o que muitos previam para o meio-campista inglês em Madrid.

Modric e Bellingham são claramente dois tipos diferentes de jogadores. Modric é um jogador de ação. Bellingham, por sua vez, é a força destemida de olhos brilhantes. Ele conduz e dribla. Tudo é incisivo, direto e proposital. É muito raro que jogadores de futebol tenham essa combinação de habilidade e iniciativa. Na verdade, é impossível comparar um camisa 10 que marca gols com um mágico que faz a ligação entre defesa e ataque.

Mas nesse sistema madrilenho que incorpora um meio-campo em losango, eles estão lutando pela mesma vaga - a "ponta" do quarteto. E, embora Modric tenha tido seus momentos, Bellingham é indiscutível. Na verdade, isso se mostrou quase prejudicial quando os dois começaram juntos contra o Atlético de Madrid, já que os Blancos ficaram expostos no lado direito do campo devido à propensão de Bellingham para avançar, e um Modric já sem o mesmo vigor de antes lutando para preencher o espaço.

Modric é talentoso e bom demais para ser descartado de imediato. Em vez disso, trata-se de um jogador que tem o azar de atuar na mesma posição que um dos melhores do mundo - em uma idade em que há pouco espaço para substituí-lo.

Modric não é o único meio-campista veterano do Madrid cuja carreira está chegando ao fim. Kroos, uma parte igualmente importante da equipe do Real que ganhou quatro títulos da Liga dos Campeões de 2015 a 2022, tem 33 anos e, assim como Modric, verá seu contrato atual expirar neste verão.

Embora ele seja cinco anos mais novo que Modric, ambos jogaram 17 temporadas de futebol profissional. Acrescente a isso o fato de que Kroos é nitidamente menos atlético e simplesmente não consegue ocupar o campo com a mesma implacabilidade do croata.

Mas, enquanto Modric ficou no banco de reservas por longos períodos da temporada, Kroos jogou 538 minutos, em comparação com os 391 de Modric, e foi a primeira opção do banco quando o Real precisou de mais pernas.

Talvez o motivo mais óbvio para seu tratamento preferencial seja o fato de que ele não está competindo com Bellingham por minutos. Kroos, por sua vez, tem de lutar com Eduardo Camavinga e Aurelien Tchouameni pelo tempo de jogo - uma dupla que Ancelotti certamente se sente muito mais confortável em deixar de fora. O Real pode lidar com a ausência de qualquer um de seus jovens meio-campistas franceses.

O Real Madrid é um clube que se move de forma implacável. Ancelotti, embora leal, não é conhecido por seus sentimentos ou por acreditar no romantismo do futebol. De fato, o técnico cultivou um ambiente em que o melhor para a competição individual tende a ser selecionado, e aqueles que não são têm de aceitar um papel no banco.

O fato de ele ter trocado recentemente Rodrygo pelo envelhecido Joselu, é uma prova de que Ancelotti não tem receio em mexer com seus craques. Modric pode ser um caso especial devido à sua estatura no esporte, mas para seu técnico, ele é apenas mais um jogador.

A MLS não é mais uma liga para aqueles que não conseguem se destacar na Europa. O cenário do futebol dos Estados Unidos mudou drasticamente nos últimos 15 anos, e a liga em si é muito mais competitiva do que era antes. Basta olhar para o grande volume de dinheiro gasto com os astros da MLS - e seu subsequente sucesso na Europa - para ver que esse cenário não é mais uma piada. Com Thiago Almada, do Atlanta United, a liga pode ter um dos jovens mais brilhantes do futebol mundial.

Como Lionel Messi e seus amigos da Catalunha mostraram, ainda existe um mercado para grandes nomes que desejam encerrar a carreira. E Modric é certamente o arquétipo de jogador que poderia viver seus últimos dias de futebol nos Estados Unidos.

Um trio formado por Busquets, o jovem Benjamin Cremaschi e Modric seria uma força interessante e dinâmica na Conferência Leste. A glória não é garantida - há muitos times na MLS que são imediatamente superiores ao Miami - mas se a competição continuar sendo o objetivo, Modric certamente a encontrará na Flórida.

Há, é claro, o aspecto romântico de tudo isso. Busquets e Modric já foram grandes rivais no campo de futebol, portanto, vê-los atuando no mesmo meio-campo seria um espetáculo cativante. Na verdade, se Suárez também se juntar ao time, uma equipe composta por quatro ex-jogadores do Barça e um dos principais astros do Madrid, que negou ao clube uma série de títulos da Liga dos Campeões e do Campeonato Espanhol, seria uma daquelas coisas únicas que só a MLS poderia criar.

Essa não seria necessariamente uma transferência impossível de ser planejada. Modric já fez sua parte pelo Real Madrid e ganhou o direito de sair quando quiser. Os torcedores do time de Madrid provavelmente aceitarão esse fato, enquanto as decisões de escalação de Ancelotti até agora sugerem que ele pode não ser uma perda significativa em campo.

Há, é claro, implicações fora do campo a serem consideradas. O próprio Bellingham creditou grande parte do seu sucesso inicial ao fato de poder treinar com Modric e Kroos todos os dias. A influência de Modric no vestiário também não pode ser simplesmente ignorada. Além disso, ainda há uma chance de conquistar troféus nacionais e europeus nesta temporada, algo pelo qual ele, sem dúvida, vai querer lutar.

Se Modric deixasse o time de Madrid no final da temporada, como fizeram Messi, Busquets e outros no verão passado, ele entraria na MLS na metade da temporada. Os clubes da MLS podem contratar jogadores a partir de 31 de janeiro, enquanto a temporada propriamente dita começa no final de fevereiro. Mesmo sem uma transferência imediata, isso dá a Modric quase um mês para se adaptar.

Modric, então, pode sair de acordo com suas próprias condições, em um momento apropriado para todas as partes. Ele tem a chance de encerrar um capítulo e começar outro com o mínimo de confusão - potencialmente os termos perfeitos para um ídolo do clube que quer evitar os rumores sobre a possibilidade de alguém seguir roubando sua vaga de titular nos próximos seis meses.