A nova obra-prima de Pep Guardiola: como o Manchester City ganhou a Tríplice Coroa

Erling Haaland não apenas marcou 52 gols, como também acrescentou uma nova dimensão ao City. A única dúvida real sobre a equipe de Guardiola nas duas temporadas anteriores era a falta de um centroavante adequado. De fato, na derrota na final da Liga dos Campeões de 2021 para o Chelsea, eles começaram sem um atacante.

Guardiola conquistou vários títulos sem um atacante tradicional - tanto com o Barcelona quanto com o City -, mas a falta de uma presença na área permitiu que os times adversários se fechassem contra sua equipe e os sufocassem se eles bloqueassem suas linhas de passe.

Haaland, então, tem sido um ponto focal fenomenal, e suas características únicas levaram o City a mudar seu estilo de jogo para acomodá-lo. Afastaram-se dos laterais ofensivos e jogaram um futebol mais direto, muitas vezes achando o norueguês com bolas longas no contra-ataque.

Eles também jogaram seu habitual futebol de passes e, embora no passado não tivessem ninguém para finalizar uma jogada promissora de perto, agora eles têm o melhor atacante do mundo para concluir jogadas ou pega rebotes, fazendo uso de seus reflexos notáveis, bem como de suas proezas físicas.

O City também acomodou Haaland fora do campo. O Times informou que o chef do clube elaborou uma dieta especial para o norueguês, dando-lhe 200 gramas a mais de comida do que seus companheiros de equipe e até importou salmão de primeira linha a pedido do jogador.

Haaland abraçou esse status especial e falou abertamente sobre o fato de o City tê-lo trazido ao clube para vencer a Liga dos Campeões, competição pela qual é fascinado desde os sete anos de idade.

Guardiola nunca teve vergonha de remover presenças perturbadoras de suas equipes, tendo se livrado de Ronaldinho e Deco assim que se juntou ao Barcelona, além de expulsar Zlatan Ibrahimovic do clube após uma campanha.

Nesta temporada, João Cancelo foi o jogador que sentiu que devia afastar. O português foi um dos melhores jogadores do City nas duas temporadas anteriores, mas não aceitou bem ficar de fora do time. Segundo o The Times, o português teria "agido como uma criança" quando deixou o time titular, e até usou fones de ouvido durante uma conversa da equipe enquanto estava sentado no chão.

Guardiola agiu rapidamente ao enviá-lo por empréstimo ao Bayern de Munique imediatamente, mesmo correndo o risco de fortalecer um rival na Liga dos Campeões. De fato, o City enfrentou o Bayern nas quartas de final, embora Cancelo não tenha começado na ida, que o City venceu por 3-0.

Embora não haja indícios de que tenham sido influências perturbadoras, Guardiola também vendeu Gabriel Jesus, Oleksandr Zinchenko e Raheem Sterling no verão, pois desejavam ter mais chances no time titular. Todos os três eram jogadores de qualidade, mas ao atualizar o time, ele garantiu que todos estivessem na mesma página.

Além de garantir que ele se livrou de todas as maçãs podres, Guardiola trabalhou duro para garantir que o City se sentisse como um time novamente. As equipes que ganham vários troféus muitas vezes podem perder a fome, o desejo e o senso de união. Guardiola sentiu que sua equipe estava perdendo o senso de unidade e procurou resolver isso.

Após a vitória do City por 4 a 2 sobre o Tottenham em janeiro, ele poderia ter elogiado o espírito de luta de seus jogadores, mas em vez disso fez um discurso notável, acusando-os de ser "um time de flores felizes". Então ele estava enviando a eles uma mensagem muito pública, mas também enfatizou seu ponto em particular.

De acordo com o The Times , Guardiola ficou desapontado por seus jogadores não terem defendido Rico Lewis quando ele sofreu várias faltas de Pierre-Emile Hojbjerg contra o Tottenham. Ele até mostrou a seus jogadores uma imagem do jovem deitado sozinho em campo.

A mensagem acabou se infiltrando, e seus jogadores não tinham mais vergonha de enfrentar os adversários fora da bola, um exemplo disso veio quando Phil Foden enfrentou Ben White contra o Arsenal.

Guardiola adquiriu o hábito de jogar jogadores em novas posições ao longo de sua carreira, e a maior inovação desta temporada foi colocar John Stones em uma função híbrida: jogando de lateral-direito e de volante.

Ele também transformou o zagueiro Nathan Ake em lateral-esquerdo, e muito bom nisso, enquanto jogou Manuel Akanji em todas as posições da defesa para tapar buracos. Ele jogou com jogadores em quem confia em posições com as quais não está familiarizado, em vez de ficar com jogadores em quem não confia mais.

Além de se livrar de Cancelo, ele foi implacável com Aymeric Laporte, que mal jogou desde o empate em 1 a 1 com o Nottingham Forest em fevereiro. Ele jogou nada menos que seis jogadores diferentes na lateral-esquerda.

"Você não pode jogar da mesma forma por seis ou sete temporadas, por dois motivos", explicou Guardiola no mês passado. "Primeiro, você tem jogadores diferentes. E segundo, os adversários não se defendem da mesma forma contra você, porque eles te conhecem. Eles descobrem os segredos que você tem. Eles fazem um contra-sistema e você tem que criar outro sistema, ofensivamente e defensivamente”.

O sucesso do City nesta temporada tem sido notável, mas também vem com um asterisco - as 115 acusações que a Premier League fez contra eles em fevereiro por supostamente violar as regras financeiras da liga. Para os detratores do City, as acusações, que se seguiram às sanções da UEFA anos antes por motivos semelhantes, mostraram que o clube sentia que poderia fazer o que quisesse. Mas Guardiola conseguiu usá-los a seu favor, pintando o City como vítima.

É um papel que desempenhou enquanto treinador do Barcelona, a quem gostava de dizer "vem de um país pequeno, a Catalunha". Em seguida, ele encobriu o fato de que sua região natal era uma das mais ricas da Espanha e seu clube uma das forças mais poderosas do futebol espanhol.

Com o City, ele minimizou os bilhões de libras em investimentos que o clube recebeu do grupo Abu Dhabi United e o fato de que seu time tem essencialmente o poder de um estado-nação por trás deles. Mas isso não importa. As acusações foram anunciadas um dia depois que o City perdeu por 1 a 0 para o Tottenham e - descontando a derrota para o Brentford na última rodada da liga - foi o último jogo que eles perderiam nesta temporada.

O City não conquistou apenas todos os troféus importantes nesta temporada. Deixando de lado a natureza confusa da final contra a Inter - e as finais europeias costumam ser cautelosas - eles supararam seus maiores rivais na Inglaterra e na Europa.

Eles golearam o Manchester United por 6 a 3 no Etihad em outubro e depois venceram seus rivais novamente na final da FA Cup.

Eles também derrotaram o Liverpool, seu maior rival nos últimos quatro anos, por 4 a 1 em abril. E no confronto pelo título contra o Arsenal, que liderou a Premier League na maior parte da temporada, eles derrubaram os Gunners, também vencendo por 4 a 1.

Embora o Arsenal tenha permanecido na liderança após aquela partida, todos, incluindo a equipe de Mikel Arteta, sabiam que a corrida pelo título estava efetivamente encerrada e que o City venceria seus jogos atrasados. Eles acabaram conquistando seu terceiro título consecutivo com três jogos restantes.

O City foi ainda mais implacável na Copa da Inglaterra, e o polêmico pênalti de Bruno Fernandes na final foi o único gol que sofreu em seis jogos na competição, com 19 gols marcados.

Mas eles guardaram suas melhores atuações para a Liga dos Campeões. Eles aniquilaram o RB Leipzig por 7 a 0 e depois golearam o poderoso Bayern de Munique por 3 a 0. Depois veio o Real Madrid, que os havia derrotado duas vezes nas semifinais.

O City esmagou o maior campeão europeu por 4 a 0 na partida de volta no Etihad Stadium, no que Guardiola chamou de seu melhor desempenho na Liga dos Campeões. Agora ele tem o troféu para acompanhar, dando o toque final à sua maior obra-prima.