O tamanho da culpa de Cristiano Ronaldo por fracasso do Al Nassr na liga saudita

Recentemente, Cristiano Ronaldo admitiu que teve uma "má fase na carreira" durante sua segunda passagem pelo Manchester United, que terminou com sua saída em circunstâncias extremamente hostis, gerando críticas de alguns de seus apoiadores mais fervorosos.

No entanto, ele argumentou que isso fazia parte de seu crescimento e o ajudou a amadurecer. "Agora sou um homem melhor", afirmou em entrevista à Sport TV+ em março.

Embora possa ser verdade que Ronaldo tenha amadurecido, sua passagem pela Arábia Saudita mostrou que ele não se tornou uma pessoa mais calma. Em apenas um mês, testemunhamos seu comportamento agressivo e petulante, como chutar a bola com raiva mesmo com a equipe Al-Nassr vencendo por 2 a 0, chutar uma garrafa de água, explodir contra o próprio banco, ficar furioso com uma decisão contestada, empurrar um membro da equipe técnica rival que queria tirar uma selfie, recusar a troca de camisas e até derrubar um adversário com um ataque digno de luta livre.

Porém, o episódio mais controverso ocorreu quando Ronaldo fez um gesto obsceno em direção aos torcedores do Al-Hilal, que o provocaram com cânticos sobre Messi antes do jogo, após uma derrota por 2 a 0 em 18 de abril. Houve até pedidos para que ele fosse expulso da liga devido a sua aparente provocação ao agarrar suas partes íntimas. No entanto, Ronaldo escapou de punição, principalmente porque o Comitê Disciplinar e de Ética da Associação de Futebol da Arábia Saudita analisou apenas as imagens oficiais da partida e não os vídeos feitos por torcedores que surgiram posteriormente nas redes sociais.

A explicação do clube sobre as ações do jogador, transmitida ao jornalista Muhammed Al-Enezi, pode ter ajudado: "Ronaldo sofreu uma lesão. Seu contato com Gustavo Cuellar, atleta do Al-Hilal, começou com um golpe em uma área muito sensível. Essa é uma informação confirmada. Quanto às explicações dos torcedores, eles são livres para pensar o que quiserem."

Vale ressaltar que Ronaldo tem, infelizmente, lidado com um aumento do foco da mídia em sua vida pessoal desde sua chegada à Arábia Saudita. Houve até relatos de que seu relacionamento com Georgina Rodriguez estava em crise após uma discussão ao embarcar em um avião em abril. No entanto, a parceira de Ronaldo respondeu no Instagram: "Os invejosos inventam o boato, a fofoca o espalha e o idiota acredita."

Infelizmente, esse tipo de fofoca sensacionalista não é novidade para a família. A única diferença durante essa última experiência é que eles tiveram que lidar com a atenção minuciosa em relação ao seu estado civil, uma vez que é ilegal para um casal não casado coabitar na Arábia Saudita.

Uma exceção parece ter sido feita para Ronaldo e Rodriguez, mas isso não impediu especulações sobre a atividade online desta última devido às leis do país sobre vestimentas e publicações em redes sociais. Quase inevitavelmente, isso levou a rumores de que a modelo espanhola nascida na Argentina está insatisfeita na Arábia Saudita e deseja retornar à Europa.

A lenda brasileira Rivaldo recentemente questionou a decisão de Cristiano Ronaldo de se juntar ao Al-Nassr, afirmando que "às vezes os jogadores são enganados pelos grandes contratos que assinam na Arábia Saudita".

"Mas então a vida lá é mais fechada e o futebol nem sempre é tão fácil como eles esperam", disse o vencedor da Copa do Mundo ao AS. "Talvez ele esteja passando por um período de desapontamento e até de reflexão. O dinheiro que ele está recebendo compensa a vida não tão feliz que ele está vivendo agora?"

Relatos na Espanha sugerem que o maior artilheiro de todos os tempos do Real Madrid não está satisfeito com o padrão da infraestrutura na Arábia Saudita, com o Mundo Deportivo afirmando que ele sente que está "muito distante da sociedade moderna". No entanto, seria injusto retratar a experiência de Ronaldo na Arábia Saudita até o momento como uma experiência completamente infeliz.

Vimos sua família nas arquibancadas celebrando com alegria uma vitória dramática sobre o Al-Batin no início de março, enquanto o próprio Ronaldo sorria após receber duas vezes bolos especiais do seu clube, primeiro pelo seu aniversário e depois por se tornar o jogador com mais partidas na história do futebol internacional. Também vimos o lado brincalhão do português quando ele atuou como fotógrafo durante um treinamento da equipe.

Ronaldo teve momentos em que desfrutou do futebol novamente, sendo reconhecido como Jogador do Mês da Liga Pro Saudita após marcar oito gols em quatro jogos, apesar de não marcar em suas duas primeiras partidas pelo Al-Nassr.

Faltando algumas rodadas, ele marcou 14 gols em 19 partidas, o que não é nada mal, mesmo que cinco desses gols tenham sido de pênalti. Também houve lampejos da antiga velocidade que costumava deixar os defensores para trás e até um gol de falta.

Em alguns momentos, Cristiano Ronaldo mostra sua condição de superestrela envelhecida e enfrenta dificuldades para se conectar com colegas de qualidade inferior. O ex-jogador do Al-Nassr, Fahd Al-Huraifi, expressou preocupação com a presença de Ronaldo na equipe, temendo um conflito com Talisca caso ambos exijam a bola para marcar.

"Eu amo muito o Ronaldo, amo seu profissionalismo e respeito, todos os quais são incontestáveis, mas... ele não é mais capaz de driblar ou confiar em si mesmo. Ele sempre quer uma assistência."

CR7 ainda mantém a confiança em sua capacidade de marcar gols em alto nível, embasado em suas conquistas na carreira. No entanto, Eric Cantona e Erik ten Hag são vozes que sugerem que Ronaldo está enfrentando dificuldades para aceitar que não deve ser titular automaticamente em qualquer equipe em que atue.

Não é como se Ronaldo nunca tivesse tido um efeito positivo nos companheiros de equipe - muito pelo contrário, na verdade. Assim como fez na Juventus, ele inspirou aqueles ao seu redor no Al-Nassr a elevar seus padrões quando se trata de treinamento de saúde e condicionamento físico.

"Eu estava incerto, assim como todos os outros, sobre como seria trabalhar com o Cristiano e se o clube iria mudar muito, mas não encontrei um jogador de futebol mais profissional do que ele", disse o nutricionista Jose Blesa ao Ideal. "Cada conversa com ele é uma curva de aprendizado. Nos encontramos e conversamos sobre sua dieta, sobre como ele entende a importância disso e do descanso para o desempenho.

"Mas ele é o primeiro a chegar aos treinos e o último a sair. Lidar com ele é maravilhoso. Cristiano me ajuda muito, porque não podemos mais ensiná-lo nada, mas ele cria uma escola ao seu redor".

"Os jogadores fazem o que ele faz, pois tudo o que ele faz é maravilhoso para melhorar seu desempenho. Desde que ele chegou aqui, todos os jogadores treinaram com mais intensidade e seguiram uma dieta mais rigorosa", completou.

Temia-se que sua chegada pudesse incomodar certos jogadores. Afinal, sua contratação essencialmente forçou a saída de Vincent Aboubakar do clube, uma vez que resultou no Al-Nassr tendo um número excessivo de jogadores estrangeiros em seu elenco. No entanto, o camaronês posteriormente revelou que Ronaldo na verdade tentou convencê-lo a ficar.

As sobrancelhas também foram levantadas quando Ronaldo foi imediatamente nomeado capitão, mas novamente, o meia Jaloliddin Masharipov insistiu que ninguém no elenco, nem mesmo o ex-capitão Abdullah Madu, teve algum problema com a decisão.

"Seria um pouco estranho se o restante dos jogadores estivessem capitaneando Ronaldo", disse o uzbeque ao Sports.ru. "Nós esperávamos isso. Nosso ex-capitão entregou voluntariamente a braçadeira sem nenhum problema. Eu acredito que essa é a melhor solução. Não poderia ser diferente.", afirmou.

"Antes da chegada de Cristiano, muitas pessoas também me perguntaram: 'Você vai dar a ele o número 7?' Como você não daria? Ele é Cristiano Ronaldo! Jogadores assim sempre devem ser respeitados! Depois de entregar meu número, muitas pessoas assumiram que eu deixaria o time. Eu entreguei meu número sem nenhum problema."

Infelizmente para o Al-Nassr, o capitão Cristiano Ronaldo não conseguiu levá-los ao título da liga. No entanto, alguns atribuiriam a culpa por esse surpreendente fracasso ao ex-treinador Rudi Garcia.

Como o francês lidou com a contratação surpreendente seria crucial para a campanha do Al-Nassr, e se questiona se a relação deles estava fadada ao fracasso desde o início, com Garcia brincando em sua primeira coletiva de imprensa juntos que ele queria contratar Messi antes do clube fechar com Ronaldo.

Na realidade, porém, os problemas começaram após a derrota por 3 a 1 para o Al-Ittihad na Supercopa da Arábia Saudita em 26 de janeiro, quando Garcia efetivamente culpou um erro de Ronaldo pela derrota da equipe, afirmando que isso "mudou o rumo da partida". A sintonia entre eles nunca foi a mesma a partir desse momento e, após meses de tensão latente, as coisas chegaram ao limite depois de um empate sem gols com o Al-Feiha em 9 de abril.

Após Ronaldo ter saído irritado em direção ao vestiário ao final de um jogo frustrante, Garcia criticou publicamente sua equipe. "Não estou satisfeito com o desempenho dos jogadores. Eu pedi a eles que jogassem no mesmo nível do último jogo [uma vitória por 5 a 0 sobre o Al-Adalah], mas isso não aconteceu."

Em apenas quatro dias, Garcia foi demitido.

Ronaldo prestou homenagem ao treinador demitido com uma postagem nas redes sociais, dizendo que foi "um prazer" trabalhar com o técnico de 59 anos, mas foi amplamente divulgado que o jogador teve um papel fundamental em sua saída, pois ficou claramente insatisfeito com as táticas de Garcia, que supostamente estavam prejudicando a equipe.

Dinko Jelicic foi imediatamente nomeado treinador interino, mas não conseguiu reverter a temporada, com o Al-Nassr não apenas perdendo o título, mas também sendo eliminado da Copa do Rei pelo Al-Wehda.

Consequentemente, surgem especulações de que o clube tentará contratar um treinador de alto perfil para garantir o sucesso na próxima temporada, sendo Mourinho e Zidane os dois maiores nomes atualmente vinculados ao cargo. No entanto, Garcia pode não ser o único a pagar pelo fraco desempenho da equipe.

Quando Ronaldo se sentou para falar pela primeira vez como jogador do Al-Nassr em janeiro, ele estava ao lado de dois homens, Garcia e o presidente do clube, Musalli Al-Muammar, e este último agora está sob intensa pressão. Musalli ainda tem mais dois anos de mandato, mas os membros honorários do Conselho de Diretores do Al-Nassr estariam prontos para encerrar prematuramente seu mandato.

A posição de Ronaldo está obviamente segura. O clube está desesperado para que ele cumpra seu contrato, que vai até 2025. E é fácil entender o motivo. Ele teve um impacto colossal no status das redes sociais do Al-Nassr, com a conta do Instagram crescendo de 860 mil seguidores antes de sua chegada para a marca atual de 14,7 milhões. Como Musalli disse naquela primeira coletiva de imprensa, esse acordo envolvia mais do que apenas futebol e a esperança é que Ronaldo continue impulsionando não apenas o perfil do clube, mas também da liga.

No entanto, se os acessos de raiva de Ronaldo e sua briga com Garcia provaram alguma coisa, é que ele continua sendo um personagem ferozmente competitivo. Ele ainda está desesperado para vencer e continuar marcando gols, não importa o nível. Claramente, ele não está satisfeito no momento, o que significa que os rumores sobre um retorno à Europa não vão desaparecer tão cedo.

Ronaldo também pode estar determinado a ficar na Arábia Saudita por pelo menos mais uma temporada para calar aqueles que estão afirmando que não foi apenas o atacante que errou ao fazer essa transferência histórica, mas também o Al-Nassr.

É justo dizer, então, que embora Ronaldo certamente não seja o culpado por todos os problemas que custaram o título ao Al-Nassr, ele não ofereceu tantas soluções quanto se esperava.