O Botafogo x Flamengo que vai muito além da Supercopa do Brasil de 2025

Grandes feitos serão sempre comparados, é uma espécie de esporte além do esporte. Quem foi melhor? A resposta certa é óbvia: o melhor time foi sempre o seu, o que lhe fez viver as emoções que só um torcedor que testemunhou feito tão grande sentiu.

O contexto dos santistas que vibraram com as glórias do time de Pelé, campeão brasileiro e da Libertadores em dois anos seguidos (1962 e 1963), foi bastante diferente do vivenciado pelos flamenguistas e botafoguenses de 2019 e 2024, respectivamente. A comparação aqui é, portanto, focada apenas nas equipes cariocas.

Resumindo a história, o Flamengo de Jorge Jesus teve um time que encantou mais e causou muito mais impacto e espanto – também pelo fato de ter sido o primeiro a alcançar tal feito neste século. O Botafogo de Artur Jorge foi marcado também por encanto e espanto, mas a narrativa que acabou colando, em meio a disputas em um futebol mais fortalecido, mais foi o de luta, superação e redenção.

Perguntado, recentemente, sobre o assunto, o técnico Jorge Jesus não teve dúvidas... mas errou. “Nem há comparação possível. Não é por eu ter sido o treinador do Flamengo. Comparar o Flamengo do meu tempo, onde ganhou tudo o que havia para ganhar... o Botafogo não ganhou, ganhou a Libertadores e o Brasileirão. No meu tempo, nós ganhamos tudo: fomos campeões estaduais, do Brasileirão, da Libertadores, Supercopa, Recopa, ganhamos tudo o que havia para ganhar”, afirmou em entrevista para o GE.

É diferente comparar as temporadas de 2019 e 2024 e comparar os trabalhos que Jorge Jesus e Artur Jorge, unidos também pela bandeira de Portugal, fizeram por rubro-negros e alvinegros. A passagem de JJ pelo Flamengo foi, indubitavelmente, melhor que a de Artur pelo Botafogo: em número de títulos conquistados e de tempo no clube.

Jorge Jesus errou não por ter dito que, em sua opinião, o seu Flamengo foi melhor. Errou porque 1) considerou não apenas o seu time em 2019, com o qual conquistou Libertadores e Brasileirão, mas também o de 2020, campeão carioca, da Supercopa do Brasil e da Recopa Sul-Americana e 2) porque mentiu ao dizer que ganhou tudo, uma vez que não conquistou uma Copa do Brasil e viu sua equipe de 2019 ser eliminada pelo Athletico-PR – isso sem falar no Mundial de Clubes.

Focando apenas nas temporadas de título de Libertadores e Brasileirão, o Flamengo de 2019 tem números mais impressionantes que os do Botafogo de 2024 – além de um estadual vencido ainda sob o comando de Abel Braga. Dominava muito mais os adversários.

A reunião de seus talentos fazia com que as vitórias parecessem ser fáceis, basicamente previsíveis. O time de Jorge Jesus, campeão de uma final épica de Libertadores contra o River Plate e que não teve adversário à altura no Campeonato Brasileiro, de fato abriu o caminho. Foi um marco.

Mas a questão é que o futebol brasileiro viu, a partir de 2020, várias de suas equipes crescendo muito em qualidade. Depois de Jorge Jesus, vieram, por exemplo, o Palmeiras de Abel Ferreira e o Atlético-MG de Hulk. Times que também garantiram seus lugares na história. Equipes que foram batidas pelo Botafogo de 2024 de maneira épica, seja no Brasileirão ou em uma final de Libertadores jogada com menos um jogador desde os primeiros segundos e vencida por 3 a 1.

É aí que a discussão parece entrar em paralelo com outra que habita o mundo dos games: mais vale zerar o jogo no modo fácil ou no modo mais difícil? Cada escolha traz um tipo de experiência. O Flamengo de 2019 estava tão acima do todo, que fez com que suas glórias parecessem ter sido fáceis; o Botafogo de 2024, por outro lado, encantou pelo fôlego de ter enfrentado grandes potências estabelecidas a partir de 2020 e, ainda assim, ter conseguido triunfar nacional e internacionalmente.

Qual deles foi melhor? A resposta certa está na experiência que cada um teve com essas equipes, unidas por um feito histórico e raro de acontecer.