Um novo torneio para Real Madrid e Barcelona jogarem contra gigantes de outro país está se formando

Assim que surgiram relatos de uma Superliga Europeia convergindo com a Liga dos Campeões, André Villas-Boas, presidente do FC Porto, acrescentou tempero à situação, revelando que ele pessoalmente apresentou a ideia de uma nova Supertaça com grandes times da Espanha e de Portugal e recebeu uma recepção surpreendentemente positiva. Ele usou sua aparição no Cimeira do Futebol em Portugal, nesta sexta-feira, para fazer um apelo aos líderes do futebol: adaptem-se ou fiquem para trás, e alertou que o futebol está caminhando "inevitavelmente" para esse tipo de competição na próxima década, onde as melhores equipes de cada país se enfrentarão com mais frequência no palco continental. 

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Falando no evento, Villas-Boas disse: "Estamos em um caminho de expansão da marca e posicionamento internacional. É um enorme desafio, que provavelmente virá com novas competições. Se considerarmos esportes além do futebol, temos outras competições como as Supertaças Ibéricas, ligas transfronteiriças... Acredito que o futebol estará indo nessa direção dentro de dez anos. 

"Lancei o desafio de uma Supertaça Ibérica para Pedro Proença [presidente da FPF] e outros grandes clubes portugueses e espanhóis. Agora estamos todos em desacordo, mas a ideia de criar uma permaneceu. Na época, foi muito bem recebida pelo Real Madrid, Barcelona, Atlético de Madrid, Benfica, Sporting e a FPF (Federação Portuguesa de Futebol)." 

Enquanto a Supertaça Ibérica permanece no papel, a La Liga já está dando passos ousados. O presidente da liga, Javier Tebas, praticamente confirmou que o confronto da temporada regular do Barcelona com o Villarreal acontecerá em Miami no dia 20 de dezembro, sendo o primeiro jogo oficial da liga espanhola realizado fora da Europa. Originalmente programado para o Estadio de la Cerámica, em Villarreal, a partida marcará um passo histórico na longa campanha da La Liga para se expandir para mercados internacionais, especialmente o lucrativo mercado norte-americano.

“Este é um momento marcante para a La Liga e para o futebol mundial”, disse Tebas em um comunicado. “Levando uma partida oficial aos Estados Unidos, estamos não apenas conectando com milhões de fãs na América do Norte, mas também reforçando a liderança da Espanha como uma potência global do futebol. Com o apoio de todas as instituições relevantes, esta iniciativa é ousada, histórica e projetada para inspirar tanto nossos fãs no exterior quanto aqueles em casa, na Espanha.”

A decisão não foi bem recebida por todos. Oficiais da Uefa deixaram claro que eram “contra” a exportação de jogos da liga doméstica, argumentando que isso quebra o princípio da competição nacional. No entanto, a ausência de regras explícitas da Fifa sobre o assunto significou que eles foram forçados a dar o sinal verde, uma brecha que Tebas explorou avidamente. O Real Madrid, no entanto, está furioso. O clube condenou publicamente a ideia, dizendo que ela mina a tradição e dá ao Barcelona uma vantagem comercial injusta. Tebas desconsiderou as críticas, insistindo que fãs, jogadores e patrocinadores apoiam totalmente a iniciativa.

"Vejam o que dizem agora, mas sei que jogadores de ambos os times querem vir", ele disse. "O Madrid não tem nada a dizer sobre esta questão. Nem mesmo a própria liga. Os regulamentos estabelecem que os clubes pedem à Federação. A La Liga dá sua opinião, e ela é favorável.

"Mas com os líderes atuais [do Madrid], é impossível. Isso me entristece porque eles não gostam de tudo que a La Liga faz. Se não fosse Miami, seria outra coisa. Somos muito ruins e não fazemos nada certo. Para ter os elencos que temos, devemos lembrar que 42% de nossa receita audiovisual vem de fora da Espanha. Temos que respeitar esses fãs que pagam para assistir futebol. Porque se não, não os teríamos."

A Espanha não está sozinha na ideia de fazer turnê de jogos fora do país. A Serie A também confirmou que sua partida de janeiro entre AC Milan e Como será realizada em Perth, na Austrália, outro momento inovador na globalização do esporte. Os oficiais da liga dizem que a partida ajudará a aumentar a visibilidade do futebol italiano na Ásia e na Oceania enquanto gera uma receita comercial significativa. Para Villas-Boas, o sinal é claro. O ex-treinador do Chelsea e Tottenham argumenta que a liderança do futebol português precisa pensar criativamente e colaborar mais de perto com a La Liga e a Uefa para desbloquear novos fluxos de caixa e fontes de receita.

"Veremos um jogo Villarreal-Barcelona em Miami e um Milan-Como na Austrália. Temos que aproveitar essa oportunidade", disse ele. "Temos jogos com 1.500 espectadores. Um jogo Casa Pia-Sporting, por exemplo. Nosso jogo em Newark ou Genebra, com nossos expatriados, não teria mais do que isso? O presidente Ceferin disse que as ligas devem ser jogadas em seus países, que isso era uma exceção, mas cabe às federações aproveitar essas oportunidades. Esses são novos fluxos de caixa e fontes de receita.  Cabe aos presidentes da liga e da FPF criar cúpulas de presidentes ricas em conteúdo e discussão."

Mas nem todos estão aderindo ao novo modelo global. Críticos argumentam que essas partidas de longa distância são planejadas puramente para encher os cofres das ligas às custas do bem-estar dos jogadores. O meio-campista do Barcelona, Frenkie de Jong, criticou o plano de jogar em Miami, dizendo que a viagem transatlântica não é justa para a competição. O ex-astro do Barça e técnico dos Países Baixos, Ronald Koeman ecoou o sentimento, alertando que o Villarreal perderá sua vantagem em casa, já que mais fãs do Blaugrana são esperados nas arquibancadas dos EUA. Adrien Rabiot, da Serie A, manifestou frustração semelhante sobre a viagem do Milan para a Austrália, chamando-a de “desnecessária” e acrescentando que os jogadores já estão enfrentando calendários sobrecarregados.