Nove gols e primeira taça a caminho: os bastidores do primeiro mês de Lionel Messi no Inter Miami

Era para ser um momento dos sonhos, mas nem mesmo Lionel Messi conseguiu deter a chuva. Muito provavelmente foi a introdução perfeita à sua nova casa: bem-vindo à Flórida, Leo, conheça a chuva. Teria sido fácil para o clima literalmente estragar a apresentação de Messi, mas Jorge Mas, o homem mais crucial para sua contratação, viu de maneira diferente.

"Esta noite é um presente e uma celebração para a cidade", disse Jorge. "Hoje à noite estamos fazendo isso sob a chuva. Isto é água benta!", completou antes de falar sobre a importância do momento vivido pelo Inter Miami.

"Este é o nosso momento! Nosso momento para mudar a paisagem do futebol neste país. Quando David e eu nos conhecemos pela primeira vez e sonhamos com o que o Inter Miami representa, começamos com a liberdade de sonhar. E sonhamos em não apenas trazer jogadores de elite e os melhores jogadores, mas o melhor jogador a já calçar as chuteiras — e o nome dele é Lionel Andrés Messi.”

Você já deve ter visto a foto: Messi, em público, fazendo suas compras como se fosse um cidadão comum. É como ver um alienígena andando entre a população em geral. Nunca o vimos tão frequentemente em público, exceto por uma série de fotos de jantares, com Beckham e seus companheiros de equipe de longa data do Barça. Parte disso, é claro, se deve à agitação dos jogos da Leagues Cup.

Ainda assim, Miami e os Estados Unidos oferecem a Messi algo que ele nunca teve durante seu tempo em Barcelona e Paris: privacidade. É algo que atraiu muitos jogadores antes para os Estados Unidos. Steven Gerrard uma vez disse o quanto ele apreciava simplesmente caminhar pela praia de Los Angeles com sua família, depois de ter passado toda a sua vida adulta como um ícone em Liverpool.

"Desde o começo, desde que cheguei, a recepção foi impressionante", disse Messi. "É uma cidade com muitos latinos e é por isso que tudo é um pouco mais fácil. As pessoas latinas são próximas, elas mostram suas emoções o tempo todo, mostram seus sentimentos e seu cuidado e proximidade. Isso é o mais importante. É muito saudável e ajuda na adaptação".

Foi amplamente divulgado e reconhecido como fato: Messi não estava feliz em Paris. Sua relação com o clube e seus fãs foi, durante a metade final de sua estadia, complicada. No final das contas, as coisas haviam se tornado um tanto tóxicas, pois Messi e o Paris Saint-Germain fracassaram na missão de conquistar a Champions League.

"Ir para Paris não foi algo que eu queria. Eu não queria sair do Barcelona e isso foi de um dia para outro. Tive que me adaptar a um lugar completamente diferente de onde estive a vida toda, tanto do ponto de vista da cidade quanto do ponto de vista esportivo, e foi difícil. É o oposto completo do que está acontecendo agora, graças a Deus."

Os jogadores do Inter Miami tiveram uma reação semelhante desde o momento em que perceberam o que havia acontecido: "como diabos o Lionel Messi entrou no grupo do WhatsApp?!" Isso aconteceu de alguma forma nas horas que antecederam a sua apresentação. Messi, o jogador de futebol mais famoso do planeta, entrou no grupo de chat da equipe sem ser percebido.

Nas semanas desde então, Messi tem trabalhado duro para se aproximar de seus colegas de equipe. Parece que ele desenvolveu um vínculo com Josef Martinez, um jogador já conhecido por confrontos de Eliminatórias entre Argentina e Venezuela. Robert Taylor, finlandês que já estava em uma situação difícil nas ligas inferiores da Inglaterra, agora é seu companheiro de treinos preferido. Quando Ian Fray sofreu outra lesão catastrófica no ligamento cruzado anterior, Messi prestou homenagem a ele, apesar de conhecê-lo por apenas alguns dias. E quando Jose Martinez, do Philadelphia Union, derrubou Noah Allen no final da vitória do Inter Miami, foi Messi quem imediatamente confrontou o adversário para defender seu novo colega.

Imagine ser Benjamin Cremaschi. Você é uma promessa em ascensão, nascido em Miami, um jogador local que por acaso joga nas equipes de base da Albiceleste. Seus pais nasceram e cresceram na Argentina e, desde jovem, Cremaschi aprendeu a idolatrar Messi. De repente, o meio-campista de 18 anos olha ao redor e se encontra ao lado de seu herói. E ele não está apenas preenchendo o espaço; com o estilo de jogo atual do Messi, é vital que jogadores como Cremaschi façam o trabalho necessário para permitir que o craque brilhe.

David Ruiz, outra jovem promessa local, também viu sua confiança disparar desde a chegada de Messi e companhia ao sul da Flórida. “São jogadores que obviamente apenas tentam dar conselhos", disse Ruiz. "Isso é algo que eles nos disseram, 'Ah, mantenha mais a sua posição', que a bola vai chegar até você. Pare de correr muito atrás da bola, onde você está apenas se limitando... coisas assim."

É algo que Tata Martino percebeu durante seu curto período no clube. Antes da chegada de Messi, o Inter Miami era uma equipe um tanto carente de confiança, ocupando o último lugar de sua conferência na MLS. Agora, há um novo nível de esforço e empolgação, especialmente por parte das jovens estrelas do clube.

Não é difícil atrair celebridades para South Beach. Messi, afinal de contas, é há muito tempo um admirador de Miami, tendo passado férias na cidade várias vezes antes. Mas o DRV PNK Stadium rapidamente se transformou em Hollywood, já que algumas das maiores estrelas do mundo apareceram para assistir aos jogos dele. LeBron James, Kim Kardashian, Serena Williams... todos estavam presentes no jogo de estreia do argentino contra o Cruz Azul. Beckham, é claro, também estava lá, e foi visto chorando depois que Messi marcou aquele sublime gol da vitória nos minutos finais. Lionel Scaloni, técnico da seleção argentina, também esteve presente com sua família para assistir a uma partida do Inter Miami durante essa sequência.

É um fenômeno que existe há anos: a corrida para trocar camisas com o Messi. Todo jogador em campo quer a camisa do argentino, mas apenas um, ou alguns, conseguem. Messi geralmente dá preferência aos seus compatriotas argentinos, e ele tem feito isso desde que chegou aos Estados Unidos. O companheiro de equipe na Copa do Mundo, Thiago Almada, pegou sua camisa após a vitória do Inter Miami sobre o Atlanta United, enquanto o jovem compatriota Alan Velasco a obteve depois de fazer o possível para enfrentar, de igual para igual, o craque na estreita contra o FC Dallas. Julian Carranza, por sua vez, é o mais recente a reivindicar uma camisa de Messi, tendo conseguido a peça após a vitória do Miami sobre o Philadelphia Union.

Messi, no entanto, sempre tem camisas extras para distribuir após o jogo, e o filho de Kardashian, North, recebeu uma camisa autografada dessa leva após a estreia de Messi. Não é uma camisa usada em jogo, mas está valendo!

Até agora, Messi jogou duas partidas fora de casa. E recebeu recepções muito diferentes nessas duas partidas. Primeiro, foi uma viagem a Dallas para um jogo que, no final das contas, foi o melhor até agora em seus tempos nos Estados Unidos. A multidão foi presenteada com um lance especial de Messi, já que ele marcou aos seis minutos antes de cobrar uma falta que empatou o jogo a cinco minutos do fim, levando o Miami a uma vitória nos pênaltis.

Nesse jogo, Messi foi, em grande parte, tratado com reverência, assim como a maioria das vezes quando joga fora de casa. A multidão estava cheia de camisas do Messi e, mesmo quando Messi marcou, havia uma aura de admiração e empolgação da torcida de Dallas.

A multidão na Filadélfia? Bem menos acolhedora. Os fãs de Philly são conhecidos por sua dureza, digamos assim. Vaias ecoaram a partir do aquecimento. Messi e o Miami tiveram a última risada, já que o Union, um dos melhores times da MLS, desabou em uma derrota por 4 a 1. Alejandro Bedoya marcou o único gol dos donos da casa, e admitiu que acha que seu filho pode ter torcido contra ele.

Times de toda a liga estão enfrentando desafios únicos quando Messi chega, desde a venda de ingressos até a segurança, mas é seguro dizer que ele não estará jogando em estádios vazios.

Virou cena comum após os jogos em casa do Inter Miami: os Messis mais jovens no campo fazendo o seu melhor para recriar a magia de seu pai. Thiago, Mateo e Ciro, todos vestindo camisas cor-de-rosa do pai, são frequentemente vistos em assentos à beira do campo com sua mãe, Antonela Roccuzzo, e, depois do jogo, a diversão de verdade começa. Os três driblam, passam e marcam na frente de qualquer multidão que ainda reste no DRV PNK Stadium.

Estas são noites e momentos que as crianças nunca esquecerão. Muita coisa mudou em suas vidas nos últimos anos, com certeza, à medida que eles saltaram de Barcelona para Paris e depois para Miami. E, vamos ser honestos, os filhos de Messi nunca terão exatamente vidas "normais". Quando a escola começar neste outono, talvez suas brincadeiras noturnas se tornem um pouco menos frequentes, especialmente nas noites escolares.

Finalmente, temos uma resposta para a pergunta que talvez estejamos fazendo desde que Messi chegou à MLS: o que está acontecendo com essas comemorações da Marvel? Até agora, Messi fez três comemorações em homenagem a super-heróis. Primeiro foi uma saudação a Thor, estendendo a mão como se fosse pegar o Mjolnir, o famoso martelo do Deus do Trovão. Em seguida? Uma saudação de Wakanda Forever em homenagem ao Pantera Negra. E então veio uma homenagem ao Homem-Aranha, com Messi fingindo disparar lançadores de teia após marcar contra o Charlotte FC.

Muitos imaginaram que as comemorações eram algo patrocinado, já que a MLS tem uma parceria com a Marvel. Mas Messi diz que a explicação é muito mais simples: elas são para os seus filhos.

"Meus três filhos ainda estão de férias, ainda não começaram a escola, então todas as noites assistimos a filmes de super-heróis da Marvel", ele disse ao Miami Herald. "Eles tiveram a ideia e pediram que, sempre que eu tiver um jogo e marcar um gol, eu faça uma comemoração de super-herói da Marvel. Foi assim que começou, e continuamos com esse ritual".

Messi está apenas começando. Afinal, este é um projeto de longo prazo. Ele estará em Miami por alguns anos, talvez pelo resto de sua carreira, sendo o rosto do futebol americano e da MLS daqui para frente. E não há dúvida de que sua influência fora de campo ainda está presente, já que fãs de todo o país estão se alinhando para ver Messi jogar.

Bem, ele poderia conquistar mais um prêmio Ballon d'Or este ano, após liderar a Argentina na famosa vitória na Copa do Mundo. Mas, nas próprias palavras de Messi, ele não se importa muito com isso.

"Se eu ganhar, ótimo, mas se não ganhar, então não tem problema, eu alcancei muitos objetivos e metas durante minha carreira, e agora tenho novos com este clube."

Para Messi, Miami é uma terra de oportunidades. É uma chance de construir algo de uma vida normal para sua família, mesmo que isso nunca seja completamente possível. É uma chance de ser apenas um pouco menos famoso do que ele tem sido desde adolescente, de dar aos seus próprios filhos um vislumbre de algo parecido com a vida real.

"Minha decisão levou em consideração muitos fatores", disse ele. "Refletimos sobre isso com minha esposa e filhos. Não penso muito [em mudar o futebol americano], estou aqui para continuar jogando e aproveitando o futebol, que amei durante toda a minha vida, e escolhi este lugar por isso."

Um mês se passou, muitos mais virão. Messi foi recebido em Miami de braços abertos e ele aceitou o caloroso abraço; vamos ver o que ele faz a seguir.