Mikel Arteta quer ser Pep Guardiola? As experiências que podem complicar o Arsenal na luta pelo título

Arteta trabalhou como assistente de Guardiola no City, entre 2016 e 2019, e sabe exatamente o que é necessário para construir um elenco de sucesso.

Guardiola é reconhecido como o melhor técnico do mundo sobretudo por conta de sua habilidade em fazer tantos jogadores do mais alto nível atuarem no mais alto nível. John Stones, Kevin De Bruyne e Raheem Sterling são nomes que cresceram de produção com o catalão, 'desbloqueando' seus potenciais no Manchester City,

E Guardiola nunca teve medo de experimentar. Constantemente, realiza ajustes em sua formação, levando jogadores a atuarem em posições nas quais não estão tão familiarizados. No Arsenal, Arteta fez o mesmo e já viu frutos serem colhidos disso, transformando Xhaka em um volante oscilante a um renovado camisa 8.

Substituir, agora, o suíço já seria tarefa complicada, mas Arteta se utilizou de outro método do 'manual de Guardiola' se voltando a Havertz no mercado, ao invés de um jogador melhor instruído, em tese, à posição. Neste caso, a aposta foi muito arriscada.

Havertz não parece estar se sentindo confortável atuando à esquerda do trio de meio-campo do Arsenal, e sua presença tem desequilibrado a equipe. Arteta está tentando se assemelhar muito a Guardiola ao invés de seguir seus princípios, que já ajudaram os Gunners a 'renascerem' após tantos anos de mediocridade.

Atualmente, só Havertz está atuando fora de posição no Arsenal. E, para tentar acomodar melhor a estrela ex-Chelsea, Arteta tem realizado alterações na linha defensiva - e os resultados foram distintos.

Thomas Partey, que brilhou pelos Gunners no coração do meio de campo na última campanha, foi deslocado à lateral-direita, enquanto Oleksandr Zinchenko perdeu espaço no elenco por conta de seus recentes problemas físicos. William Saliba formou sólida parceria de zaga com Gabriel Magalhães, mas o brasileiro, agora, também perdeu espaço, sendo substituído por Ben White. Saliba, ainda, é outro que precisou adaptar seu estilo de jogo à esquerda, já que White se sente mais confortável à direita. Tudo isso para que Havertz possa atuar na posição de Xhaka.

O Arsenal parecia bem mais forte com Gabriel e Zinchenko entre os 11 titulares, com White ganhando licença para chegar mais à frente e interagir com Bukayo Saka. Arteta seria esperto se retornasse a esse básico, ainda mais com a lesão no joelho de Timber.

A atual dinâmica não funciona - e o Fulham provou isso no fim de semana, marcando gols em erros defensivos que resultaram em dois pontos perdidos contra um time que atuou com um a menos nos últimos dez minutos.

Os homens de Arteta ainda dominam jogos, mas estão bem mais vulneráveis defensivamente.

Havertz pode ser perdoado pelas dificuldades de adaptação ao meio-campo da equipe. Tecnicamente, contudo, ele preocupa.

Não é surpresa que o alemão tenha tido várias chances de marcar nessas três primeiras partidas pelo Arsenal. Ele exerce um papel que casa com sua facilidade de encontrar espaços na área e promover ameaça nas bolas aéreas.

Mas Havertz continua frustrando a torcida com suas finalizações ruins. Arteta concordou com isso após o jogo contra o Fulham: "Ele teve várias oportunidades, já deveria ter anotado vários gols nesta temporada".

Os torcedores do Chelsea, por outro lado, não se surpreendem com essa dificuldade de balançar as redes. Ele teve uma média de 10,8 gols esperados nesta última temporada no Stamford Bridge e 44% das finalizações no alvo, mas só anotou sete tentos.

Assim, para justificar a titularidade de Havertz, Arteta precisará mudar sua abordagem - foram apenas 28 toques na bola contra o Fulham, enquanto Xhaka teve 71 no mesmo jogo, no ano passado. Se os gols estivessem saindo, talvez o problema não fosse tão grande, mas Havertz tem sido um jogador que não tem realizado nenhuma contribuição significativa ao time.

E essas dificuldades de Havertz contra o Fulham ficaram ainda mais evidentes depois da entrada de Fabio Vieiri. O português sofreu o pênalti convertido por Saka para empatar o jogo em 1 a 1 e proveu a assistência para Eddie Nketiah virar o embate, dois minutos depois.

Vieira também foi visto como uma contratação pouco usual na última Intertemporada, sendo titular em apenas 14 partidas na última temporada. Porém, o atleta de 23 anos, que tem estilo de jogo comparado ao de Lionel Messi, parece ter dado outro dilema para Arteta quebrar a cabeça.

"Fabio foi excelente. Foram seus primeiros minutos nesta temporada da Premier League, e fiquei bem impressionado com sua participação no jogo, suas decisões tomadas e atitude", elogiou o técnico dos Gunners, no pós-jogo.

Vieira merece, portanto, ser titular contra o Manchester United, no domingo (03). Ele parece estar com fome de mostrar futebol e que pertence ao Arsenal, ao pé em que Havertz ainda tenta se encontrar.

Colocar Havertz no banco em um jogo tão crucial seria um grande baque no vestiário. Atualmente, ele deve pensar ser intocável pelo valor investido, mas um choque de realidade pode ser exatamente o que ele precisa.

No curto prazo, Arteta possui a opção de tirar Havertz dessa posição, mas precisando encontrar uma maneira de tirar o melhor do atleta. Caso contrário, sérias perguntas acerca da contratação começarão a ser feitas.

Como qualquer outro técnico do Big Six, Arteta não tem tempo a perder. Os Gunners já estão há duas temporadas sem um troféu, e uma terceira não será tolerada. Arteta precisa maximizar as qualidades de Havertz para recolocar o time nos trilhos - ou seja, colocá-lo mais à frente.

Suas melhores apresentações na carreira vieram como falso-9, contribuindo com a construção de jogadas e realizando corridas inteligentes por trás da defesa. Outro atributo que impressionou o Chelsea antes de ser adquirido foi sua competência na pressão pós-perda de bola. Dar esse tipo de liberdade a Havertz pode ajudar o Arsenal a aproveitar sua melhor forma.

Niketiah, ainda, tem ido bem substituindo Gabriel Jesus, mas Havertz possui mais potencial. Ele é rápido, forte e tecnicamente bem-sucedido - o pacote completo.

Arteta reconhece esse potencial, mas precisa ajustar suas percepções táticas ao alemão para, enfim, alçar o Arsenal ao nível mais alto. Enquanto isso, os Gunners seguem atrás do City e terão adversários para se manter no top-4.