Mikel Arteta deveria escutar Roy Keane: Arsenal está regredindo na luta por um título

Nunca tímido em expressar seus sentimentos, Roy Keane foi particularmente duro em sua avaliação do Arsenal, não apenas no empate de domingo contra o United, mas na trajetória do projeto deles sob o comando de Arteta.

Questionado pelo apresentador da Sky Sports, David Jones, se o Arsenal poderia vencer a Premier League 2025/26 com o espanhol no comando, o ex-capitão do United respondeu: "Não. Por que eu deveria? O que te faz pensar que o treinador pode conseguir isso? Eles chegaram perto nos últimos anos, mas o (Manchester) City será forte no próximo ano e tenho certeza de que o Liverpool também."

"Onde está a evidência para pensar que eles podem conseguir? Conseguir um atacante ajudaria, eles têm a mentalidade certa? O treinador tem? Você vê um lado diferente deles quando estão vencendo toda semana, mas ficam todos agitados quando estão perdendo."

"Não acho que conseguir um atacante que marcará 20 gols por temporada será necessariamente a diferença. O City e o Liverpool vão ficar parados? Eles vão procurar melhorar, Pep (Guardiola) vai se recuperar e eu acho que o Liverpool será mais forte na próxima temporada. Não sabemos onde o Chelsea está, mas qual é a evidência desse grupo de jogadores de que eles podem conseguir?"

"É bom desafiar, mas deve ser sobre conquistar títulos."

As questões sobre as credenciais de Arteta até agora foram desonestas e com o intuito de chamar atenção. Dos 10 treinadores na história que registraram mais de 100 vitórias em seus primeiros 200 jogos como treinador, o ex-meio-campista ocupa o quinto lugar (118), com apenas Pep Guardiola (146), José Mourinho (137), Jürgen Klopp (127) e Sir Alex Ferguson (122) alcançando números mais altos. A média de pontos em duas temporadas consecutivas do Arsenal, de 2022 a 2024, é de 86,5, a mais alta de sua história. Os números não mentem.

Os Gunners não são mais motivo de chacota, como foram durante os últimos anos de Wenger, na curta passagem de Unai Emery ou mesmo nos primeiros 18 meses de Arteta no comando. Ele reinventou completamente a equipe em sua imagem, restaurando um clube contestável para conversas que importam. Por isso, ele merece um enorme crédito - é difícil imaginar muitos outros treinadores assumindo o comando do Arsenal em 2019 e fazendo um trabalho melhor.

Por essas razões, os torcedores dos Gunners são particularmente defensores de seu treinador, e não apenas porque ele foi um jogador importante para eles durante os tempos dentro de campo. Quando se trata de encontrar falhas nas escolhas de Arteta até hoje, eles têm razão em se defenderem. Gostar da pessoa no comando e querer que ela tenha sucesso, em comparação com questionar como o futuro pode realmente parecer, não precisam necessariamente concordar um com o outro, no entanto.

É bastante ridículo com que frequência os treinadores têm que se apresentar para a mídia, às vezes participando de seis coletivas de imprensa por semana, além de seis entrevistas adicionais antes e depois das partidas para a TV. Isso, no entanto, faz parte do trabalho deles nos dias de hoje, e um treinador jovem como Arteta deve saber a importância de manter as aparências.

Não é a primeira vez que ele perde a paciência após um resultado decepcionante. Quando questionado por Patrick Davison da Sky Sports sobre a briga pelo título, ele saiu sem responder. Este ato ocorreu três semanas depois de ele afirmar que o Arsenal não desistiria do título 'só se passassem por cima de seu cadáver'. Desde então, o time conquistou dois pontos de nove disponíveis na Premier League.

O Arsenal tem sido tratado com um pouco mais de benevolência do que alguns de seus outros rivais nos últimos anos, como parte do reconhecimento de que Arteta os recuperou de um momento tão baixo. Essa gentileza diminuiu nesta temporada e há mais demanda do que nunca para que eles não apenas ganhem um título, mas o da Premier League em si, especialmente com o City de Guardiola enfrentando dificuldades.

A temporada 2024/25 provavelmente será lembrada como uma oportunidade perdida pelo Arsenal. Se eles terão energia para tentar novamente na próxima temporada é outro assunto delicado.

Roy Keane, parte de várias equipes do United que sempre encontravam novas maneiras de vencer, destacou um ponto importante sobre a necessidade das equipes evoluírem. A expectativa é que o City volte com um novo grupo de estrelas, que o Liverpool se reorganize independentemente do que aconteça com o trio que está em final de contrato: Mohamed Salah, Trent Alexander-Arnold e Virgil van Dijk.

E quanto ao Arsenal? Como o irlandês sugeriu, o próximo passo óbvio é um atacante de renome para adicionar mais poder de fogo, mas os problemas dos Gunners são mais profundos. Sua única melhora nesta temporada em comparação com a anterior é a sua ameaça em bolas paradas, mas mesmo assim os gols começaram a secar nesse aspecto. Esta atual versão da equipe não pode se comparar a si mesma nas temporadas de 2022/23 e 2023/24.

A resposta fácil para a questão de por que isso aconteceu são as lesões. Por dois anos, os Gunners passaram apenas com o problema nas costas de William Saliba, que encerrou sua campanha de 2022/23 como o único grande incômodo com o qual Arteta teve que lidar. Mexer na profundidade do elenco revelou novos problemas este ano, com o capitão Martin Odegaard e Bukayo Saka ficando meses fora de ação.

Isso não pode ser a única razão pela qual o Liverpool disparou 15 pontos à frente deles, no entanto. A regressão do Arsenal de um dos times mais empolgantes da liga para uma equipe mais lenta e metódica teve um custo. Sua incapacidade de manter aquele diferencial ofensivo extra, ou descobrir como recuperar esse ritmo, teve o mesmo efeito que colocar uma Ferrari na lama do campo. As bolas paradas estavam ajudando até certo ponto e lhes dando aquela dimensão extra, embora isso ainda não tenha sido suficiente.

O Arsenal não apenas perdeu essa ameaça no ataque, mas parece muito mais fraco na defesa, apesar disso ter se tornado o ponto-chave de foco. O United, um dos times menos efetivos no terço final em toda a Europa, achou muito fácil forçar David Raya a entrar em ação. Quando os desempenhos caem em toda a linha, é um clamor por desenvolvimento tático, apenas Arteta não mostrou até agora desejo de se afastar de seu sistema e estruturas de jogo preferidos.

É essa abordagem rígida que levou à queda do Arsenal do ponto de vista tático e futebolístico. Eles passaram tempo demais tentando aperfeiçoar cada pequeno detalhe, tentando se tornar os melhores nas complexidades. Sua obsessão foi com o controle em vez de vencer a qualquer custo.

Há outro grande problema surgindo por trás do Arsenal como o vilão em um filme de terror - a duração dos contratos de seus jogadores-chave. Já há uma necessidade de renovar o meio-campo com os contratos de Thomas Partey e Jorginho terminando no fim da temporada, enquanto Leandro Trossard, Oleksandr Zinchenko e Takehiro Tomiyasu têm contratos até 2026.

Depois, há três peças relevantes com vínculos até 2027 - Saka, Saliba e Gabriel Magalhães. Não houve novidades sobre renovações para nenhum deles, e em breve entraremos na zona de dois anos em que o clube avalia se é o momento certo para vender ou não.

A suposição é que Saka, torcedor do Arsenal desde a infância, ficará e ajudará o clube a lutar por títulos. Tal otimismo não pode ser dito sobre sua dupla monstruosa de zagueiros, com Saliba já sendo o assunto da máquina de imprensa do Real Madrid (estamos a cerca de três meses de Sergio Ramos dizer que o francês tem o 'DNA' necessário para jogar pelo clube espanhol). Enquanto estão nisso, por que não pegar seu companheiro por um preço baixo também?

Em algum momento, como Roy Keane mencionou, a concorrência tem que se transformar em sucesso. O Arsenal deve mostrar a seriedade de suas ambições para seus melhores jogadores, dado quão facilmente eles poderiam se transferir para outros concorrentes talvez mais dispostos e acostumados a vencer.

Após o fracasso do Arsenal em conquistar o título da Premier League 2023/24 ter sido confirmado no último dia da temporada passada, Arteta fez um discurso inspirador para uma emocionada multidão no Emirates Stadium.

"Tudo isso está acontecendo porque vocês começaram a acreditar", disse ele. "Vocês começaram a ter paciência, começaram a entender o que estávamos tentando fazer e todo o crédito deve ir para esses jogadores incríveis, e a equipe técnica que é inacreditável."

"Acho que agora é hora de fazer uma pausa, pensar, refletir e por favor, continuem pressionando, continuem inspirando este time. Não fiquem satisfeitos porque queremos muito mais do que isso, e vamos conseguir. Muito obrigado."

Todo esporte pode se mostrar aleatório quando se trata de janelas de vitórias, mas nenhum mais do que o futebol de baixa pontuação. A suposição de Arteta de que o único caminho era ascender para o Arsenal estava equivocada.

Ninguém previu a queda do City este ano, nem a queda do Liverpool na penúltima temporada de Jürgen Klopp ou Thomas Tuchel sendo demitido pelo Chelsea pouco mais de 12 meses após vencer a Champions League. Estes são apenas exemplos recentes mais próximos, mas a história do futebol está repleta de declínios repentinos e mudanças drásticas de situação no mais alto nível.

Arteta tem falado sobre seu plano de cinco fases, e antes do empate de domingo com o United, afirmou que sua equipe estava na fase quatro: "Estabelecendo-se no mais alto nível na Champions League. Desempenhando consistentemente com muita unidade e estando muito perto de alcançar grandes troféus."

Essa metodologia levou os Gunners até aqui. É tão justo elogiá-los por isso quanto ter dúvidas sobre se isso realmente levará a um sucesso tangível. O Arsenal, até certo ponto, deve estabelecer seu próprio precedente e provar ao mundo que está errado por dentro antes que a queda se transforme em um desmoronamento.