Manchester United desrespeitou David De Gea e fracassou para substituir o atual goleiro da Fiorentina, mas estava certo em buscar outros jogadores

Não há dúvida de que o United errou na forma como resolveu se livrar de De Gea. O goleiro espanhol se despediu dos companheiros depois da derrota na final da Copa da Inglaterra para o Manchester City, acreditando que assinaria um novo contrato de longo prazo, com um salário menor que o anterior, para dar continuidade aos seus 12 anos nos Red Devils. Mas, algumas semanas depois, foi informado que a proposta tinha sido cancelada, substituída por um salário muito mais baixo, e que o clube já buscava um novo goleiro titular.

O United teve bastante tempo para tomar essa decisão, já que sabia que o contrato de De Gea terminava em junho de 2023 e poderia ser renovado por mais um ano com os mesmos termos. O diretor esportivo da época, John Murtough, deveria ter dado prioridade para encontrar um novo goleiro, e Ten Hag também deveria ter sido claro sobre sua opinião em relação a De Gea. Afinal, não era segredo que o técnico holandês queria um goleiro que soubesse jogar bem com os pés, algo que De Gea não fazia bem.

No começo, Ten Hag até pediu para o goleiro jogar mais com os pés, mas desistiu depois da derrota por 4 a 0 para o Brentford, no segundo jogo do treinador no comando.

A verdade é que o United não queria se comprometer a contratar um novo goleiro titular na mesma janela em que procurava um atacante, e viu a renovação temporária com De Gea como uma forma de economizar dinheiro. Mas, depois da final da FA Cup, mudaram de ideia. Essa hesitação e mudança de rumo mostraram muito desrespeito com o goleiro mais longevo da história do clube — um jogador que fez 545 jogos e conseguiu 190 partidas sem sofrer gols, mesmo jogando em um dos piores momentos do United nos últimos 30 anos.

De Gea acabara de ajudar o time a terminar em terceiro na Premier League, garantindo a volta à Champions League, e conquistou a Luva de Ouro por ter o maior número de jogos sem sofrer gols na primeira divisão. Ele tinha todo o direito de se sentir maltratado, e a forma como saiu fez com que ficasse um ano afastado do futebol, pois, nas suas próprias palavras, foi "difícil encontrar motivação para um novo capítulo depois de 12 anos em um clube grande".

Existem dois fatos inevitáveis nessa história desagradável. Primeiro, De Gea não conseguiu se adaptar ao futebol moderno porque não melhorou seu jogo com os pés. Segundo, suas defesas estavam ficando mais fracas. Ten Hag já tinha visto isso em agosto de 2022, na partida contra o Brentford, quando o United levou quatro gols no primeiro tempo.

De Gea deixou um chute fraco de Josh Dasilva escapar pelas mãos para o gol aos 10 minutos e ainda fez um passe ruim, que permitiu a Mathias Jensen marcar o segundo gol do Brentford. Esses não foram os únicos erros graves do goleiro naquela temporada.

Na terceira rodada da Copa da Inglaterra, a FA Cup, contra o Everton, ele deixou um chute passar entre as pernas e caiu direto para Conor Coady marcar. Na derrota humilhante por 3 a 0 para o Sevilla, em abril, fez um passe perigoso para Harry Maguire, que acabou dando chance para Youssef En-Nesyri marcar. No segundo tempo, saiu da área para tentar chutar uma bola, mas entregou a bola de bandeja para En-Nesyri fazer o terceiro gol. Em maio, contra o West Ham, deixou um chute fraco de Said Benrahma escapar, mostrando claramente que estava ciente do erro.

Na final da Copa da Inglaterra, De Gea chegou tarde para defender um voleio de Ilkay Gundogan, embora Raphael Varane e Casemiro também tenham falhado ao não bloquearem o chute, mesmo estando perto da bola. O goleiro ainda sofreu o gol mais rápido da história das finais da FA Cup no início do jogo, quando viu o voleio de longa distância de Gundogan entrar no gol.

Mas o que mais preocupou Ten Hag foi o desempenho de De Gea com os pés em Wembley, onde ele seguidamente lançava a bola para fora ou direto para um jogador adversário, atrapalhando as chances do United de empatar.

Esse jogo teria sido a gota d’água para Ten Hag, e poucos fãs discordariam. Mas o treinador já tinha recebido muitos avisos sobre o declínio do goleiro. Se tivesse agido antes e deixado claro que queria um novo goleiro, essa situação desagradável poderia ter sido evitada e De Gea teria ganhado a despedida que merecia.

Os torcedores do United que ficaram frustrados com De Gea em 2022/23 sentiram ainda mais a falta dele depois, por causa do sucessor, Onana. O goleiro camaronês era considerado um dos melhores do mundo com os pés e até teve a aprovação de Pep Guardiola antes da final da Champions League entre Inter e City. Mas, mesmo depois de o United pagar 47 milhões de libras (R$343,5 milhões) para contratá-lo há dois anos, não houve melhorias reais no jogo com a bola, e ele cometeu erros graves várias vezes.

Onana teve uma série de falhas na Liga dos Campeões em sua primeira temporada, o que fez o United a ficar em último no grupo. Continuou cometendo erros na segunda temporada, levando o ex-jogador Nemanja Matic a chamá-lo de "um dos piores goleiros da história recente do United" antes de um jogo da Europa League, contra o Lyon.

A atuação ruim de Onana naquela partida provou que Matic estava certo. E, dolorosamente para Onana, Matic colocou De Gea na mesma categoria de goleiros lendários do United, como Peter Schmeichel e Edwin van der Sar.

As dúvidas sobre Onana mostram que o verão europeu de 2025 está parecido com 2023, quando o United buscava um novo atacante e acabou contratando um goleiro ao mesmo tempo. Dois anos depois, o clube está prestes a trocar o jovem Rasmus Hojlund, que seria a solução para o ataque, por outro jovem caro e ainda sem muita experiência, Benjamin Sesko. No mundo ideal, também trocariam Onana por um novo goleiro antes do fim da janela de transferências. Na prática, estão de volta à estaca zero.

Vender Onana será difícil, por causa do alto salário e da má reputação, e ficou ainda mais complicado após uma lesão na pré-temporada. Por isso, mesmo que o técnico Amorim queira um goleiro mais confiável e o clube esteja de olho em Emi Martinez e Gianluigi Donnarumma, é provável que só contratem um novo goleiro titular no ano que vem. Esperamos que não renovem o contrato de Onana só para depois despensá-lo.

De Gea está longe do United há dois anos, e é justo dizer que o posto de goleiro em Old Trafford é muito menos estável do que foi durante os 12 anos em que ele esteve no clube. Ele finalmente terá a despedida que merece, depois de uma carreira longa e muitas vezes brilhante, na qual recebeu salários altos — chegou a ganhar 375 mil libras (R$2,74 milhões)  por semana entre 2019 e 2023.

Mas, apesar da saída ter sido triste, era o momento certo para De Gea ir embora. O problema é que Onana não foi o substituto ideal.