O Liverpool precisa mesmo de Alexander Isak? Bom começo de Hugo Ekitike mostra que os Reds deveriam mudar foco no mercado da bola

Questionado sobre como se sentia após a vitória dramática do Liverpool por 4 a 2 sobre o Bournemouth, Slot admitiu que precisaria de pelo menos meia hora para explicar tudo que estava sentindo.

“Eu achava que ganhar a liga aqui seria sempre mais especial do que vencer um jogo em casa contra o Bournemouth”, disse o técnico dos Reds. “Mas aqueles últimos seis ou sete minutos... Uau! Uau, uau, uau!”

A empolgação de Slot fazia sentido. Em uma noite em que Anfield prestou homenagem a Diogo Jota, o Liverpool desperdiçou uma vantagem de dois gols, mas voltou a liderar com um voleio de Federico Chiesa, aos 43 do segundo tempo, comemorado pela torcida como se fosse um gol de título.

“Depois de tantas vezes em que os torcedores cantaram para ele durante este jogo e também na última temporada, acho muito legal ele retribuir, e foi exatamente isso que fez hoje”, afirmou Slot. “A atmosfera nos minutos finais foi inacreditável. Acho que foi um grande jogo de se assistir. No fim, vencemos, e isso ajuda nas minhas emoções, mas acho que é isso que você quer ver.”

Nem todos, porém, ficaram tão impressionados com o que viram do Liverpool.

Jamie Carragher foi um dos que demonstraram forte preocupação com o desempenho defensivo dos Reds. Assim como na derrota para o Crystal Palace, na Supercopa da Inglaterra, o time mostrou muita vulnerabilidade contra contra-ataques rápidos, com os dois gols do Bournemouth surgindo de escapadas brilhantes.

Slot destacou, com razão, que o Liverpool não contou com o volante titular Ryan Gravenberch em nenhum dos dois jogos e que Alexis Mac Allister ainda não está 100% fisicamente. Também é evidente que os atuais campeões terão de se acostumar a jogar com um camisa 10 mais ofensivo, Florian Wirtz, depois de tanto sucesso no ano passado com a intensidade de Dominik Szoboszlai.

Ainda assim, em uma entrevista pós-jogo na Sky Sports, Slot reforçou que colocar muitos jogadores no ataque “faz parte do que somos”, o que levou Carragher a admitir imediatamente: “Isso me preocupa um pouco”, provavelmente lembrando o estilo excessivamente ousado de Ange Postecoglou no Tottenham. Slot dificilmente cairá nesse mesmo erro, mas as fragilidades do Liverpool ficaram expostas para todos na sexta-feira.

Depois da atuação desastrosa em Wembley, Virgil van Dijk voltou a parecer vulnerável na defesa, enquanto ficou claro que tanto Milos Kerkez quanto Jeremie Frimpong ainda têm muito a aprender sobre quando apoiar o ataque e quando segurar a posição.

Como disse Slot na Sky, o Liverpool não encontrou o “equilíbrio” ideal entre ataque e defesa diante do Bournemouth, mas isso deve melhorar com o tempo, principalmente com o retorno de Gravenberch ao time titular, já que a importância do meio-campista holandês para o modelo de jogo do treinador não pode mais ser subestimada.

No entanto, a atuação de Ibrahima Konaté foi particularmente preocupante. O francês fez uma partida cheia de erros, daquelas que levantam a dúvida se o Liverpool deveria realmente lutar tanto por sua renovação de contrato. Na verdade, os Reds parecem estar muito mais precisando de um novo zagueiro do que de outro centroavante.

É verdade que o Liverpool já contratou um novo defensor: Giovanni Leoni, vindo do Parma, cuja chegada foi confirmada pouco antes do jogo contra o Bournemouth. O talentoso zagueiro italiano de 18 anos deve ganhar bastante espaço nesta temporada, já que Arne Slot planeja realizar mais rotações no elenco. No entanto, seria pedir demais que ele conquistasse uma vaga de titular imediato, especialmente considerando que fez sua estreia no Campeonato Italiano apenas em novembro passado. Leoni, apesar de todo o potencial, precisará de tempo para se adaptar a um novo time, liga, país e cultura.

O que o Liverpool realmente precisa é de um zagueiro pronto para a Premier League, capaz de assumir a titularidade de imediato se necessário, sobretudo porque ainda pairam dúvidas sobre a capacidade de Joe Gomez em se manter saudável durante toda a temporada. É por isso que o interesse em Marc Guehi faz tanto sentido. O capitão do Crystal Palace pode não ter o porte físico típico dos zagueiros, mas tem sido um dos defensores mais consistentes da Inglaterra nos últimos anos e confirmou sua qualidade no mais alto nível durante a Euro 2024, sendo talvez o melhor jogador da seleção inglesa depois de Bukayo Saka.

Basicamente, contratar Guehi significaria ter alguém plenamente capaz de substituir Ibrahima Konaté como parceiro de Virgil van Dijk e, no futuro, até assumir o posto de líder da defesa quando o holandês decidir encerrar sua passagem pelo clube. Nesse sentido, Guehi deveria ser a prioridade máxima dos atuais campeões no mercado, e não Isak.

É claro que também dá para entender por que o Liverpool tem tanto interesse em Isak. Ele talvez tenha sido o melhor centroavante da Premier League na última temporada e há a sensação de que pode elevar ainda mais seu nível em um clube de elite, exatamente o estágio em que os Reds estão muito perto de alcançar.

Além disso, está claro que Isak deseja jogar em Anfield, e não é fácil criticar o Liverpool por tentar aproveitar essa chance (mesmo que a forma como o atacante tenta forçar a saída seja bastante questionável). Afinal, oportunidades para contratar um camisa 9 de classe mundial não aparecem com frequência – e existe o consenso de que, quando surgem, não podem ser desperdiçadas.

Graças à prudência financeira do passado e à habilidade em “vender bem”, o Liverpool hoje está em ótima situação econômica. Isso significa que teria condições de bancar uma contratação recorde no futebol britânico sem infringir as regras de Lucros & Sustentabilidade (PSR) da Premier League. No entanto, só porque o Liverpool pode contratar Isak, não significa que deva, pelo menos não às custas de resolver as evidentes fragilidades defensivas do elenco.

Slot, sem dúvidas, precisa de mais um centroavante. A morte trágica de Diogo Jota o privou de talvez seu melhor finalizador, enquanto Darwin Núñez não é mais opção no banco, já que o uruguaio se transferiu para a Arábia Saudita nesta janela.

No momento, Hugo Ekitike é o único centroavante de origem do elenco, e ficou claro o quanto o poder ofensivo do Liverpool caiu após sua saída nos jogos contra Crystal Palace e Bournemouth. Além disso, o francês de 23 anos já mostrou serviço nos dois primeiros jogos oficiais pelo clube (com dois gols e uma assistência), sugerindo que merece ser o protagonista do ataque nesta temporada, e não apenas o reserva de Isak.

Assim, parece muito mais razoável que o Liverpool contrate um centroavante reserva por um valor acessível do que pagar uma fortuna por um jogador que seria obrigado a atuar em praticamente todas as partidas.

Claro que Ekitike poderia ser deslocado para a ponta esquerda para abrir espaço a Isak no centro do ataque, mas isso significaria tirar Cody Gakpo da posição em que finalmente parece pronto para brilhar, atuando de forma consistente no lado do campo que mais gosta.

Isak, sem dúvida, seria uma contratação de peso para o Liverpool, mas soa mais como um movimento de “Fantasy Football" do que uma decisão bem pensada. Slot certamente teria um ataque de dar inveja a qualquer time da Europa, mas, se os Reds não vencerem o Newcastle na segunda-feira (25), a causa estará muito mais relacionada à falta de qualidade defensiva do que a problemas no setor ofensivo.