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Ange Amorim dead men walking GFXGOAL

Liga Europa dos desesperados! Ange Postecoglou precisa ser demitido pelo Tottenham mesmo se for campeão, mas Ruben Amorim merece nova chance no Manchester United

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Em 30 de outubro de 2021, o Tottenham recebeu o Manchester United em um confronto apelidado pela mídia de "El Sackico". O técnico recém-chegado dos Spurs, Nuno Espírito Santo, vinha deixando uma impressão negativa desde que assumiu o cargo meses antes, enquanto a lenda dos Red Devils, Ole Gunnar Solskjaer, fazia a equipe regredir, apesar da campanha promissora em 2020/21 e das chegadas de Cristiano Ronaldo, Raphael Varane e Jadon Sancho.

A situação era clara: quem perdesse aquele duelo no norte de Londres provavelmente seria demitido e daria lugar ao italiano Antonio Conte, que demonstrava interesse em voltar ao Campeonato Inglês. O United venceu por 3 a 0, e Nuno acabou dispensado.

Quase quatro anos depois, um cenário semelhante — embora completamente diferente — volta a se desenhar. O Tottenham de Ange Postecoglou e o United de Rúben Amorim se enfrentam na final da Europa League, nesta quarta-feira (21), em um jogo que já vem sendo descrito como um dos de menor qualidade técnica da história das competições europeias. Ocupando atualmente a 17ª e a 16ª colocações da Premier League, respectivamente, os dois clubes chegam a San Mamés, em Bilbao, sob olhares críticos e que seriam ainda mais severos caso suas campanhas continentais tivessem sido menos afortunadas.

Independentemente do que acontecer em Bilbao, o futuro de Postecoglou parece incerto. Já Amorim começa a ficar sem justificativas para continuar no comando do United.

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  • Manchester United FC v West Ham United FC - Premier LeagueGetty Images Sport

    O salto que nunca foi dado

    Ruben Amorim assumiu oficialmente o comando do Manchester United em 11 de novembro, após não conseguir adiar sua saída do Sporting até o fim da temporada. Seu desempenho impressionante na Europa League — incluindo uma vitória por 4 a 1 sobre o Manchester City de Pep Guardiola — deu aos torcedores dos Red Devils a esperança de que suas qualidades também se refletiriam na Premier League. O técnico interino Ruud van Nistelrooy havia deixado o time em situação um pouco mais estável, após uma sequência invicta de quatro partidas que ajudou a criar algum embalo antes da pausa internacional.

    O primeiro contato de Amorim com o futebol inglês foi um empate por 1 a 1 com o resiliente Ipswich Town, um resultado que envelheceu mal, considerando que os Tractor Boys já foram rebaixados de novo para a Segunda Divisão Inglesa desde então. No jogo seguinte pela liga, o United goleou o Everton por 4 a 0 em Old Trafford, mas essa segue sendo sua vitória mais convincente na temporada doméstica até agora. A equipe ainda foi ao Etihad e derrotou o City por 2 a 1 com uma virada nos minutos finais, além de ter segurado empates contra Liverpool e Arsenal, este último eliminado nos pênaltis na Copa da Inglaterra. Fora isso, há pouco o que comemorar no Stretford End.

    Apesar da boa campanha europeia, há poucos indícios de que os métodos de Amorim estejam surtindo efeito. O United somou apenas 24 pontos em 26 partidas da Premier League sob seu comando, uma média que, projetada para 38 rodadas, renderia apenas 35 pontos, quatro a menos do que o total atual.

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  • FK Bodo/Glimt v Tottenham Hotspur - UEFA Europa League 2024/25 Semi Final Second LegGetty Images Sport

    Desfalques e maus desempenhos

    Depois de derrotar o Manchester City por 4 a 0 no Etihad Stadium, em novembro, o Tottenham ocupava a sexta colocação na tabela do Campeonato Inglês. A equipe estava a apenas três pontos do G5 e a quatro do segundo lugar. Recém-saídos da última data Fifa antes de março, a sensação era de que os Spurs finalmente haviam encontrado o impulso necessário para avançar na temporada e buscar alguma consistência.

    Mas então tudo desmoronou. Poucos dias depois, veio à tona a informação de que o goleiro Guglielmo Vicario havia atuado durante boa parte daquela vitória marcante com uma fratura no tornozelo, lesão que exigiu cirurgia e afastamento de cerca de dois meses. Em seguida, os desfalques se multiplicaram. Praticamente ninguém do elenco principal escapou das lesões durante o inverno, com as ausências mais sentidas sendo as dos zagueiros titulares Cristian Romero e Micky van de Ven.

    O Tottenham não conseguiu vencer nenhum dos cinco jogos seguintes, o que definiu o tom para o longo e difícil inverno que se seguiria. A equipe chegou até as semifinais da Carabao Cup, eliminando o Manchester United no caminho, mas venceu apenas um dos 11 jogos pela Premier League após o triunfo sobre o City. E essa vitória foi contra o lanterna Southampton.

    De maneira geral, Postecoglou contou com a compreensão de torcedores, críticos e até da diretoria, diante de uma crise de lesões sem precedentes. O treinador recorreu com frequência a jovens jogadores e até adolescentes para preencher as lacunas no elenco. Os princípios ofensivos e vibrantes do seu estilo de jogo não foram abandonados, e a expectativa era de que os resultados melhorassem assim que os principais nomes voltassem à forma física ideal. Infelizmente, isso não aconteceu. As atuações pioraram a tal ponto que pode não haver mais retorno, mesmo com a chance de levantar um troféu.

    Na Europa League, os Spurs mostraram uma inteligência competitiva que os levou longe no torneio. Mas, no cenário nacional, parecem estar completamente fora de ritmo. O 'Ange-ball' não funciona de forma consistente no Campeonato Inglês e, se o técnico não mudar suas ideias, talvez seja ele quem precise ser trocado.

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    Teimoso pelas razões erradas

    "É apenas quem somos, amigo." Essas foram as palavras inesquecíveis de Ange Postecoglou após o Tottenham, com apenas nove jogadores em campo, perder por 4 a 1 em casa para o Chelsea em um dos dérbis londrinos mais caóticos da "era Premier League", em novembro de 2023. Mesmo com dois atletas a menos, os Spurs tentaram pressionar os Blues com uma linha de impedimento posicionada no meio-campo. Essa ousadia resume bem a abordagem do treinador australiano até aqui.

    Enquanto isso, Ruben Amorim tem reiterado constantemente que não pretende mudar sua metodologia nem abrir mão da praticidade de sua proposta de jogo, apesar de seu trabalho ainda não ter engrenado no cenário doméstico. Em diversas ocasiões, ele precisou adaptar jogadores a funções para as quais não tinham o perfil ideal.

    Tottenham e Manchester United têm sido marcados pela inconsistência ao longo da temporada. Postecoglou e Amorim demonstraram grande capacidade de adaptação durante as campanhas europeias de suas equipes, mas esse desempenho tem servido apenas como uma espécie de escudo que os mantém nos cargos. Na Premier League, seguem apostando em um futebol arriscado, como se tratassem a competição como um laboratório para seus experimentos táticos. Se tivessem mostrado algum desejo de ajustar suas estratégias no campeonato inglês, certamente não estariam flertando com a zona de rebaixamento.

    A grande dúvida que paira sobre os dois é a seguinte: vale a pena continuar com eles pelo conhecimento tático que demonstraram, ou é melhor mudar, já que optaram ativamente por ignorar esse aspecto no cenário nacional?

  • Manchester United Training Session And Press Conference - UEFA Europa League 2024/25 Quarter Final Second LegGetty Images Sport

    Exagerando na carta da simpatia

    Ruben Amorim passou por várias coletivas de imprensa nesta temporada que poderiam ser descritas como desabafos. A mais marcante ocorreu em janeiro, após a derrota do Manchester United em casa para o Brighton. Na ocasião, ele desabafou: "Não sou ingênuo. Talvez sejamos o pior time da história do Manchester United. Precisamos reconhecer isso e mudar. Em dez jogos da Premier League, vencemos três. Eu sei disso. Imagine o que é isso para um torcedor do United. Imagine para mim. Você recebe um novo treinador que está perdendo mais do que o anterior. Imagine. Precisamos sobreviver a este momento. Eu sei disso."

    Desde então, Amorim não voltou a se expressar com o mesmo grau de autodepreciação, mas segue sem medo de pintar um cenário sombrio — e, às vezes, torná-lo ainda mais dramático. Recentemente, precisou recuar após ter dado a entender que poderia pedir demissão caso os resultados ruins continuassem, embora tenha reconhecido que teme ser demitido se o desempenho da equipe não melhorar.

    Postecoglou, por sua vez, atravessou o período mais turbulento da temporada com a justificativa da crise de lesões já mencionada. Curiosamente, a maioria das derrotas dos Spurs na campanha foi por apenas um gol de diferença, o que sugere que, a longo prazo, existe espaço para ajustes e recuperação, desde que haja mais sutileza nas escolhas. No entanto, sua abordagem intensa e inflexível também não contribuiu, especialmente diante de um elenco tão limitado.

    O maior desafio para os dois treinadores tem sido a realidade imutável do futebol: a única maneira de silenciar críticas e afastar a negatividade é com resultados. E até aqui, ambos pouco fizeram para se dar essa chance no Campeonato Inglês. Se estivessem no meio da tabela, ainda haveria margem para compreensão. Mas, no momento, nem o United nem o Tottenham conseguem contar sequer com a sorte para somar pontos.

  • Manchester City v Manchester United - Emirates FA Cup FinalGetty Images Sport

    Lições da temporada passada

    O United já está acostumado a colocar o peso de seu futuro em uma única final. Antes de vencer o City na final da Copa da Inglaterra do ano passado, em Wembley, o destino de Erik ten Hag já estava, segundo relatos, praticamente selado: ele seria demitido mesmo que conquistasse o segundo troféu do clube em duas temporadas. O detalhe adicional era que o clube já havia iniciado conversas com diversos candidatos ao cargo, incluindo o futuro técnico da Inglaterra, Thomas Tuchel, e Thomas Frank, do Brentford.

    No entanto, a nova cúpula dos Red Devils recuou dessa decisão. Em vez disso, Ten Hag recebeu uma extensão de contrato por mais um ano e foi amplamente respaldado na janela de transferências de verão, com quase 200 milhões de libras investidos em reforços, na esperança de que os problemas da campanha anterior fossem superados. Infelizmente, isso não aconteceu.

    Uma nova estrutura esportiva, formada por Sir Jim Ratcliffe, Sir Dave Brailsford, Jason Wilcox, Omar Berrada e Dan Ashworth — que já está completamente afastado do clube —, não tomou uma decisão definitiva. Se tivessem seguido suas convicções e substituído Ten Hag ainda no verão, em vez de um terço do caminho na temporada 2024/25, o clube provavelmente estaria em uma situação mais saudável hoje, com um treinador mais adequado à Premier League.

    Essa é a lição que tanto o Tottenham quanto o United atual precisam considerar. Se há um plano traçado para o próximo verão, não deixe que um único jogo ofusque esse planejamento, por mais intensa que seja a emoção nas próximas 48 horas.

  • Tottenham Hotspur FC v Manchester United FC - Premier LeagueGetty Images Sport

    Dois trabalhos amaldiçoados

    Mais uma vez, as deficiências do Tottenham no mercado de transferências deixaram um treinador em apuros. Postecoglou havia identificado Conor Gallagher, Eberechi Eze e Désiré Doué como seus principais alvos na janela do início da temporada passada, e todos eles brilharam em outros clubes nesta temporada. O único jogador que conseguiu da parte superior de sua lista de desejos foi o atacante Dominic Solanke, que precisa de apoio ao redor para render o seu melhor. Isso não justifica os resultados e desempenhos da equipe, mas também não é a primeira vez que o clube londrino tenta economizar enquanto espera atender às necessidades do seu treinador.

    Em abril, Postecoglou declarou o seguinte: "Se as pessoas não veem realmente o que estou tentando fazer, então não acho que vão ver, então se um troféu é o único caminho, e parece ser o único caminho, ok, vamos ver se conseguimos entregar isso. Eu quase durei dois anos, o que é muito bom para o Tottenham. Em algum momento, o clube precisa se apegar a algo. Há vida depois disso para todos, incluindo o Tottenham e incluindo eu."

    Ele tem razão ao dizer que deve haver uma visão de longo prazo se o Tottenham quiser voltar a ter sucesso, pelo menos o suficiente para reviver um pouco da era Mauricio Pochettino. É preciso refletir por que técnicos consagrados como Nuno, José Mourinho e Antonio Conte viveram os piores momentos de suas carreiras justamente no Norte de Londres e não em outros lugares. De todo modo, o clube precisa manter esse nível de autoanálise mesmo sem Postecoglou, e encarar a final da Liga Europa como uma chance de, no mínimo, encerrar a temporada em alta e preparar o caminho para o próximo treinador.

    E quanto a Amorim? Bem, o United se colocou em uma enrascada. Toda a narrativa vinda dos bastidores de Old Trafford nem gira em torno de conquistar o troféu, mas sim de usá-lo como passaporte para a próxima edição da Champions League e como impulso para mais uma janela de transferências agitada. Discutir se o treinador português merece ou não uma pré-temporada é quase irrelevante, já que o clube dificilmente conseguiria atrair um nome mais disposto neste momento. Encontrar um substituto já foi difícil o bastante em duas ocasiões no ano passado, quando ainda decidiam o futuro de Erik ten Hag.

    Pelo menos o United ainda pode se agarrar ao discurso de reconstrução e segui-lo de forma mais agressiva. O Tottenham, por sua vez, também precisa definir uma direção concreta, especialmente quando o cargo já não é nem de longe tão cobiçado como foi em outras épocas.

    O confronto de quarta-feira (21), portanto, não é exatamente um "El Sackico II", mas continua sendo uma final entre dois treinadores que precisam desesperadamente de um título. Talvez mais do que qualquer outro no futebol inglês neste momento. Só um, porém, deve ter uma chance real de permanecer no cargo, e pode nem ser o vencedor em Bilbao.

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