+18 | Conteúdo Comercial | Aplicam-se termos e condições | Jogue com responsabilidade | Princípios editoriais
Esta página tem links afiliados. Quando você compra um serviço ou um produto por meio desses links, nós podemos ganhar uma comissão.
Thomas Muller MLS MoveGetty/GOAL

A lenda do Bayern Thomas Müller criou sua própria posição em campo - e terá na MLS o último capítulo de uma carreira única

Thomas Müller foi tão bom que acabou criando uma nova posição no futebol. A história já virou quase uma lenda: em 2011, durante uma entrevista, ele foi questionado por um repórter sobre qual posição exatamente ocupava no Bayern de Munique. A pergunta fazia sentido — Müller estava em todo lugar: às vezes aberto pelo meio-campo, em outras como atacante, e em certas ocasiões atuando como um clássico camisa 10.

Basicamente, ele ocupava todos os espaços do campo, circulando e se conectando com os companheiros. Com seu característico sorriso tímido, respondeu: "Ich bin ein Raumdeuter."

Tradução: "Sou um intérprete de espaço."

Foi um golpe de mestre em termos de identidade. A expressão soava moderna, carregada de significado, mas, ao mesmo tempo, não tinha uma definição clara. Afinal, o que é ser um intérprete de espaço? O que isso realmente quer dizer? De qualquer forma, a ideia pegou. O termo “Raumdeuter” entrou para o vocabulário do futebol e, em pouco tempo, virou até função específica no jogo Football Manager. Se chegou a um videogame, é porque existe de verdade.

E Müller construiu uma carreira inteira com base nisso. Ele é o original — e praticamente o único — “Raumdeuter”. Não existe ninguém igual. Com o passar dos anos, ele mudou, evoluiu e continuou interpretando espaços em campos do mundo todo, mantendo a essência de seu jogo.

Agora, na Major League Soccer, encontrou um palco perfeito para sua reta final. Vancouver pode não ter o glamour de Los Angeles, Miami ou Nova York, mas oferece o encaixe tático ideal e um ambiente propício para que Müller encerre sua trajetória com estilo.

📱Veja a GOAL direto no WhatsApp, de graça! 🟢
  • Thomas Muller World CupGetty

    Um perfil peculiar de jogador

    Em 2009, Thomas Müller parecia não ter espaço em um time profissional de futebol. Ninguém sabia exatamente o que ele era. Embora tivesse se destacado como jovem talento na base do Bayern, o então treinador Jürgen Klinsmann não sabia como encaixar aquele atacante desajeitado, desengonçado e ainda imperfeito. Na época, circulavam até rumores de que Müller poderia ser emprestado — ou até vendido, caso aparecesse a oferta certa.

    Mas então, em um momento decisivo, Klinsmann foi demitido em abril de 2009. Louis van Gaal assumiu o comando no verão seguinte e uma das suas primeiras decisões importantes foi incluir Müller entre os titulares. A posição exata dele, porém, não estava definida. Van Gaal o escalou de forma solta, em uma posição ampla, dando-lhe liberdade para se movimentar pelo campo.

    Um meio-campo forte dava suporte, enquanto o talento de Mario Gómez no ataque mantinha o time competitivo. Aos poucos, Müller começou a balançar as redes: marcou 19 gols em todas as competições, ficando atrás apenas do emergente Arjen Robben, que anotou 23.

    Desde então, Müller não saiu mais do time. A convocação para a seleção alemã veio logo em seguida. Ele se destacou na Copa do Mundo de 2010, ficou entre os artilheiros do torneio e foi peça fundamental na conquista alemã em 2014. Os elogios não pararam: o técnico Joachim Löw destacou que Müller era "impermeável à pressão" e elogiou seu trabalho defensivo.

    Além disso, sua ética de trabalho e liderança em campo foram reconhecidas por todos. Apesar de poucos entenderem seu estilo de jogo, após 17 anos de carreira profissional, Müller soma impressionantes 150 gols e 175 assistências só na Bundesliga.

  • Publicidade
  • Brian White Vancouver Whitecaps 2025Imagn

    Um ajuste gentil em Vancouver

    Em alguns círculos, presumia-se que Müller encerraria sua carreira no Bayern. Quando, em abril, ficou claro que ele não receberia uma nova proposta de contrato, muitos imaginaram que ele penduraria as chuteiras — afinal, pouco havia mais a conquistar.

    Müller já havia levantado todos os troféus possíveis e se afastado do futebol internacional, mas deixou claro seu desejo de continuar jogando. O Manchester United chegou a demonstrar interesse, mas ele recusou. Alguns clubes da Serie A italiana também apareceram, mas Müller não se interessou. A MLS sempre pareceu o destino mais natural.

    Durante um tempo, o LAFC parecia uma opção forte e realista. A equipe precisava de uma estrela para formar dupla com Olivier Giroud ou até substituí-lo, e o gerente geral John Thorrington talvez desejasse ambos. No entanto, nada se concretizou, e Müller voltou seu foco para o Vancouver Whitecaps, que está perto do topo da Conferência Oeste. O acordo para um contrato de 18 meses estaria quase fechado.

    No campo, é difícil imaginar um encaixe melhor. Vancouver é uma equipe de alta qualidade e uma das surpresas da temporada na MLS. Apesar de ter demitido o treinador pouco antes do início do campeonato e perdido seu melhor jogador por uma grave lesão no joelho em abril, o time canadense se uniu sob o comando de Jasper Sorenson, contratado em janeiro.

    Brian White, antes uma aposta modesta na MLS, entrou na conversa para a seleção dos EUA após sua melhor temporada em gols na carreira. Sebastian Berhalter tem se destacado no meio-campo central. A defesa tem sido sólida, e os Whitecaps ocupam a segunda posição no Oeste, com um jogo a menos que o líder San Diego. O único ponto que falta ao time é um jogador central, um pilar que às vezes falta para equilibrar o ritmo intenso da equipe.

    O estilo de transição dos Whitecaps é empolgante, mas eles também se beneficiariam de alguém que traga mais controle, que organize o jogo e posicione o time tanto com quanto sem a bola.

    O que realmente precisam é de um jogador capaz de se movimentar dentro e fora dos espaços, ocupar os pequenos vazios em campo e, talvez o mais importante, exercer liderança dentro do gramado.

  • muller Getty Images

    O sonho de um hipster do futebol

    Müller não seria o único jogador desse perfil a fazer sucesso na MLS. Difícil encontrar muitos pontos de referência, afinal, não existem muitos atletas como ele. Talvez o mais próximo seja Sergio Busquets.

    O ex-volante do Barcelona é outra estrela europeia experiente que nunca precisou da velocidade para exercer sua magia em campo. Assim como Müller, Busquets não tinha uma posição fixa e não podia ser limitado a um único papel. Após um período de adaptação, ele também tem brilhado na MLS, mostrando que inteligência e visão de jogo podem se manter afiadas em qualquer idade.

    Outro ponto importante é que os Jogadores Designados da MLS — categoria na qual Müller entrará a partir do próximo ano — costumam desempenhar papéis semelhantes. Construindo um elenco sólido, os veteranos de alto custo acabam sendo verdadeiros “jogadores de luxo”: atletas que, pela qualidade individual, elevam o nível do time mesmo sem precisar jogar 100% das partidas.

    Tradicionalmente, esses jogadores são meio-campistas ofensivos que marcam gols, distribuem assistências e abrem espaços, embora exijam certo ajuste do elenco ao seu redor. Lionel Messi é o exemplo mais extremo, mas o sonho dos fãs do “número 10 envelhecido” ainda vive forte na Major League Soccer.

    Müller, porém, não é exatamente esse tipo de jogador. Seu volume de trabalho fora da bola segue excepcional, e seus números defensivos impressionam — especialmente para alguém com 35 anos. Além disso, ele possui aquele talento extra que exige adaptação. Em termos práticos, é bom o suficiente para não participar de todas as jogadas, e inteligente o bastante para saber exatamente quando entrar em ação.

  • Thomas Muller 2025Getty Images

    "Oi, Vó"

    Em 27 de junho de 2010, a Alemanha conquistou uma vitória histórica na Copa do Mundo ao derrotar a Inglaterra por 4 a 1, eliminando os Três Leões nas quartas de final. Müller brilhou, marcando o terceiro e o quarto gols para fechar com chave de ouro. Após o jogo, ele respondeu às perguntas habituais em uma entrevista televisiva e, com seu sorriso tímido, mandou um recado para a família:

    “Quero mandar um abraço para minhas duas avós e meu avô. Isso já está bem atrasado.”

    Essa não é a única história encantadora sobre Müller. Parece que todo mundo tem uma para contar. Ele adora coletivas de imprensa e suas piadas desajeitadas são famosas. Certa vez, chamou Robert Lewandowski de “Robert LewanGOALski” para uma sala cheia de jornalistas perplexos, aguardando em silêncio até que soltassem uma risada sarcástica coletiva.

    Ao se despedir do Bayern, Müller contou uma piada diante de uma Allianz Arena lotada:

    “O pai está morrendo em casa, rodeado pelos três filhos. De repente, o cheiro do seu bolo favorito invade a cozinha, onde a mãe está preparando. O pai diz: ‘Filho, por favor, me traga um último pedaço do meu bolo favorito, é meu último desejo.’ O filho volta da cozinha sem o bolo. O pai pergunta: ‘O que aconteceu?’ O filho responde: ‘A mãe disse que é para depois do funeral.’”

    Com uma risada, Müller deixou o campo. E talvez essa seja a melhor parte dele: é muito divertido, dá boas risadas e é um personagem cativante. Para alguém que joga o jogo de forma tão séria e é tão difícil de definir, ele é, sem dúvida, um dos mais encantadores do futebol.

  • Thomas Muller Bayern 2025Getty Images

    Não precisa ser uma estrela imediatamente

    Existe, é verdade, uma preocupação legítima em relação à idade de Müller. Com 35 anos, suas pernas podem não aguentar o ritmo intenso de uma temporada completa na MLS. Além disso, ele nunca jogou por outro clube que não fosse o Bayern de Munique. Apesar das várias mudanças de treinador na Baviera, Müller sempre foi um jogador semelhante dentro de um sistema similar.

    O choque cultural pode ser real, e o período de adaptação será inevitável — por mais versátil que ele tenha sido ao longo da carreira. Mas a boa notícia é que o Vancouver Whitecaps já é um time forte. Recentemente, chegaram à final da Champions League da CONCACAF e, depois de um pequeno tropeço, seguem como favoritos para conquistar a Conferência Oeste — com ou sem Müller. O time manteve a força, contrariando expectativas.

    Müller não precisa ser um salvador, nem começar jogando imediatamente. Pode ir se integrando ao grupo aos poucos. Ele é menos como Messi e mais parecido com Marco Reus, que chegou ao LA Galaxy na última temporada — um talento extra para um time que já tem condições de brigar pelo título.

    Se ele conseguirá se adaptar, resistir e seguir jogando por mais 18 meses ainda está por ser visto. Mas, uma coisa é certa: ele estará em campo, interpretando espaços e fazendo suas piadas nos intervalos.