Lamine Yamal é o melhor adolescente do futebol no momento - mas o garoto do Barcelona já pode ser chamado de melhor do mundo?

O zagueiro da Inter de Milão e da seleção italiana, Alessandro Bastoni, foi questionado antes do jogo da semana passada na Catalunha sobre como sua equipe pretendia parar Lamine Yamal. “Eu não sei”, admitiu à Gazzetta dello Sport. “Porque da última vez, na Eurocopa, não deu muito certo.” Um eufemismo, claro.

Naquela ocasião, Bastoni e Federico Dimarco integraram uma defesa italiana que foi atormentada do início ao fim por Yamal e por seu companheiro de seleção, Nico Williams, em uma das derrotas por 1 a 0 mais dominantes que o futebol já viu.

Na última quarta-feira, o desafio foi ainda maior para a dupla da Inter. Embora a equipe italiana tenha garantido um empate merecido em Montjuïc, graças à atuação inspirada de Dumfries, a defesa voltou a sofrer com os estragos causados por Yamal — especialmente durante um primeiro tempo impressionante.

O jovem de 17 anos não só recolocou o Barça no jogo com um golaço em jogada individual, no melhor estilo Messi, como ainda acertou a trave após deixar mais defensores para trás.

“Não acho que já tenha visto 45 minutos assim de um único jogador na minha vida”, confessou o comentarista Ally McCoist, da TNT Sports. “É inacreditável.”

A influência de Yamal diminuiu um pouco no segundo tempo — mas apenas porque o técnico da Inter de Milão, Simone Inzaghi, sentiu que não tinha outra escolha senão triplicar a marcação sobre o jovem.

“Lamine é o tipo de talento que aparece a cada 50 anos, e vê-lo de perto realmente me impressionou”, disse Inzaghi à Amazon Prime Italia. “Ele nos causou enormes problemas. Tínhamos que dobrar a marcação a todo momento, e ainda assim não era suficiente. No fim, tivemos que colocar três jogadores em cima dele. Naturalmente, isso abriu espaços em outras áreas do campo e nos forçou a recuar mais.”

Mesmo com a marcação sufocante, Yamal terminou a partida com 102 toques na bola — mais do que qualquer outro jogador, exceto os meio-campistas do Barça, Pedri (107) e Frenkie de Jong (112). Ele também liderou o jogo em dribles completados (seis) e fez mais cruzamentos (10) do que toda a equipe da Inter somada (seis).

Marcus Thuram, autor de um belo gol de calcanhar que abriu o placar em Montjuïc, foi questionado após a partida se Lamine Yamal já poderia ser considerado o melhor jogador do mundo.

“Não”, respondeu o atacante em entrevista ao Canal Plus. “O melhor jogador do mundo é francês, e o segundo também! São Ousmane Dembélé e Kylian Mbappé. Depois dos dois, vem Lamine Yamal.”

A resposta de Thuram foi claramente bem-humorada — uma brincadeira patriótica mais do que uma análise séria —, mas é inegável que Yamal já tem argumentos concretos para entrar nessa conversa. Sua importância para o Barcelona é enorme — e não pode ser subestimada.

O elenco comandado por Hansi Flick está repleto de talentos de classe mundial. Raphinha, por exemplo, lidera a Champions League em participações em gols nesta temporada (20) e é um dos nomes fortes na disputa pela Bola de Ouro. Pedri, por sua vez, tem sido dominante no meio-campo e também merece estar na corrida.

Ainda assim, é evidente: o Barcelona não é o mesmo time quando Lamine Yamal não está entre os titulares.

Yamal desfalcou o Barcelona em três partidas da La Liga nesta temporada por conta de lesão — e o time catalão deixou pontos em todas elas: derrotas para a Real Sociedad, fora de casa, e para o Atlético de Madrid, em casa, além de um empate por 2 a 2 com o Celta de Vigo.

O impacto de sua ausência não para por aí. O Barça venceu apenas dois dos quatro jogos em que Yamal começou no banco — e, mesmo nesses casos, a equipe estava em desvantagem até sua entrada em campo. Foi o que aconteceu no último sábado, por exemplo, contra o já rebaixado Real Valladolid.

Diante desse cenário, a pergunta já surgiu diversas vezes ao longo da temporada: o Barcelona está se tornando dependente demais de Yamal? Um debate que ecoa o antigo dilema da "Messidependencia" vivido durante a era de ouro do craque argentino.

É verdade que Yamal ainda não alcançou o patamar de liderança absoluta que Messi representava. Mas o simples fato de essa comparação já existir diz muito. Contra a Inter, por exemplo, ele se tornou o jogador mais jovem da história a marcar em uma semifinal de Champions League — aos 17 anos e 291 dias. Para efeito de comparação, Messi havia feito apenas uma aparição na competição com essa idade.

O grande desafio para Yamal agora é alcançar o nível de consistência impressionante que Lionel Messi sustentou ao longo de sua lendária carreira — afinal, foi essa excelência contínua que consolidou o argentino como o maior de todos os tempos.

“Messi manteve um nível inacreditável por 10, 12, 13 anos”, destacou o ex-jogador do Barça Ronald de Boer, em entrevista à talkSPORT. “A questão é: Yamal conseguirá fazer o mesmo? Ele vai manter a fome? Vai se manter saudável? Vai manter os pés no chão?

Para mim, Messi ainda é o melhor que já vi, mas Yamal é uma ameaça real em praticamente todos os jogos. E, nessa idade, ele está mais avançado do que Messi estava — que só começou a brilhar de verdade aos 21 anos.”

A dúvida que paira é se Yamal será capaz de evoluir como Messi evoluiu — de um ponta driblador a um falso 9 letal, tão criativo quanto finalizador.

Mas se depender do próprio Messi, o futuro do jovem está mais do que garantido. “Ele ainda tem só 17 anos, está em fase de crescimento, e vai continuar evoluindo, adicionando coisas ao seu jogo, como eu fiz”, afirmou o camisa 10 ao Simplemente Fútbol. “Ele tem qualidades incríveis e já é um dos melhores do mundo.”

Resta uma última pergunta: ele já é o melhor?

Yamal já soma impressionantes 35 participações em gols na temporada. Ainda assim, nove jogadores o superam nesse quesito — incluindo Mohamed Salah, do Liverpool, que lidera com 56, três a mais que Raphinha.

O jovem espanhol também ocupa o décimo lugar no ranking da Champions. Mas o que realmente chama atenção é o timing: metade de seus oito envolvimentos diretos em gols na competição aconteceu nas últimas quatro partidas do mata-mata — um indício claro de que ele está guardando o melhor para o final. E, se esse ritmo continuar, ele pode muito bem terminar a temporada como favorito ao Ballon d’Or.

Como Hansi Flick já afirmou mais de uma vez: quanto maior o palco, melhor Yamal joga. Os números provam isso. Ele teve participação direta em gols em todos os três Clássicos contra o Real Madrid nesta temporada — uma estatística que não deve passar despercebida à equipe merengue antes do confronto decisivo pelo título da La Liga, neste domingo (11), em Montjuïc.

E é essa característica que o torna tão especial: enquanto os adversários temem sua presença, ele não teme absolutamente nada. Como o próprio Yamal revelou, ele deixou o medo para trás há muito tempo — em um parque de Mataró, onde tudo começou.

Hoje, ele não sente pressão — apenas motivação. E ele estará mais motivado do que nunca para o jogo de volta da semifinal da Champions, nesta terça-feira (06), no San Siro. Um pensamento apavorante para Bastoni e companhia.

Pode até ser cedo para cravar que Lamine Yamal é o melhor jogador do mundo.

Mas uma coisa é certa: não há atacante mais temido.