Julián Álvarez + Erling Haaland: a nova dupla do Manchester City é mais um golpe de mestre de Pep Guardiola

Em 2022, o City realizou dois grandes feitos em transferências, um em cada janela. Em janeiro, eles contrataram Alvarez, que era praticamente desconhecido fora da América do Sul, do River Plate. Eles pagaram cerca de 15 milhões de libras por um jogador que, na época, tinha 21 anos e permitiram que ele permanecesse no clube até o verão. Alvarez havia sido o artilheiro da primeira divisão argentina e, em maio, pouco antes de se transferir para a Inglaterra, marcou seis gols em uma partida contra o Allianza Lima.

Mais tarde naquele ano, o City anunciou que havia concordado em contratar Haaland, que tinha uma média de um gol por jogo com o Borussia Dortmund e havia brilhado na Liga dos Campeões. Foi uma jogada sensacional para o City, especialmente por apenas 51 milhões de libras, mas significou más notícias para Alvarez, que agora estava competindo por um lugar no time com o atacante mais temido do mundo.

No entanto, o único jogo em que Alvarez começou ao lado de Haaland no início não poderia ter sido melhor, pois o argentino marcou dois gols e o norueguês fez três na goleada de 6 a 0 sobre o Nottingham Forest.

No entanto, Alvarez foi titular em apenas três jogos da Premier League antes da Copa do Mundo e teve que se contentar em aparecer como substituto, enquanto o norueguês teve um início de vida incrível no futebol inglês, quebrando quase todos os recordes de gols imagináveis.

A falta de minutos de Alvarez no City não afetou sua reputação com a Argentina e ele jogou todas as partidas da Copa do Mundo, marcando quatro gols. Agora que ele havia conquistado o mundo como parceiro de ataque de Lionel Messi, Guardiola estava sob mais pressão para encontrar uma maneira de encaixá-lo no time.

No entanto, ele ainda resistia a escalar ele e Haaland juntos na maioria dos jogos, acreditando que jogar com dois atacantes afetaria as chances da equipe de criar oportunidades de gol em geral. O técnico explicou em janeiro: "Isso pode acontecer (Haaland e Alvarez jogando juntos). A bola chega lá (na área) e você tem dois atacantes lá, então pode marcar um gol. Mas, para criar essas chances, temos que fazer o processo e, às vezes, para isso, você precisa de outros tipos de jogadores para criar essas chances."

Alvarez teve sua chance no final da última temporada da liga, começando com Haaland contra Fulham, West Ham, Leeds e Everton, embora tenha jogado mais como atacante de área do que como atacante central. Sua melhor atuação foi em Craven Cottage, quando marcou um gol sensacional de longa distância que acabou sendo o gol da vitória, além de ter sofrido um pênalti que Haaland converteu.

Desta vez, Guardiola falou muito sobre os benefícios de jogar com os dois atacantes, comentando: "Ter dois atacantes é uma arma incrível que nós temos." No entanto, Guardiola ainda usou essa "arma incrível" com moderação. Alvarez terminou a campanha jogando 31 jogos da Premier League, mas com apenas 13 partidas como titular. Apenas oito desses jogos foram ao lado de Haaland.

Ele não foi titular em nenhum dos jogos eliminatórios do City na Liga dos Campeões e não participou da final contra a Inter, nem da final da Copa da Inglaterra contra o Manchester United. Apesar do pouco tempo de jogo, ele acabou marcando 17 gols em todas as competições e acrescentou mais três troféus à sua medalha da Copa do Mundo.

Nesta temporada, no entanto, Alvarez começou - e terminou - todas as partidas até agora, liderando a equipe ao lado de Haaland. Na goleada de 5 a 1 sobre o Fulham antes do intervalo da data Fifa, Haaland marcou três gols e deu uma assistência, enquanto Alvarez fez um de cada.

Dos 14 gols do City até agora, o argentino marcou dois e deu três assistências. O norueguês marcou sete gols e deu uma assistência para Alvarez. Ainda é cedo e nunca dá para subestimar a capacidade de Guardiola de revolucionar sua escalação favorita no meio da temporada, mas, por enquanto, parece ser a parceria ideal, pelo menos em termos de estatísticas.

Inovador e perfeccionista constante, Guardiola havia, nas temporadas anteriores, praticamente eliminado a ideia de um atacante central. Na final da Liga dos Campeões de 2021, ele começou com Kevin De Bruyne como um falso nove, usando Sergio Aguero e Gabriel Jesus apenas no final do jogo.

No Barcelona, ele se livrou de Samuel Eto'o após uma temporada e depois fez o mesmo com Zlatan Ibrahimovic, apesar de ter pago uma enorme quantia de dinheiro para contratar o sueco no ano anterior.

Na verdade, a contratação de Haaland pelo City foi vista como uma grande mudança para o técnico, um sinal de que ele estava sendo influenciado pelo futebol inglês e desejava um goleador. Com seu histórico, a ideia de jogar com dois atacantes, sendo que nenhum deles fez muito trabalho fora da área nesta temporada, é quase inacreditável.

O jornalista Guillem Balague, que escreveu "Another Way of Winning", um livro sobre o tempo de Guardiola no Barcelona, explicou como o catalão teve que repensar sua abordagem depois de uma primeira temporada sem títulos com o City.

"Ele teve de se adaptar ao novo ambiente e o futebol inglês o fez mudar alguns de seus pontos de vista. Ele chegou confiante em sua convicção de que era possível controlar um jogo e definir o ritmo da equipe com um meio-campista central que não fosse particularmente forte nem excessivamente físico. Mas ele descobriu rapidamente que essa abordagem não funciona na Premier League", escreveu Balague em uma coluna da BBC.

"Na Inglaterra, você precisa de um meio-campista central que seja poderoso em batalhas aéreas. Rodri é um bom exemplo do que ele acha que precisa. Além disso, ele espera que seus meio-campistas centrais atuem como zagueiros quando um zagueiro central avança, portanto, eles devem ter o físico necessário para lidar com essa posição.

"E há algo que preocupava Guardiola, mas que ele está percebendo gradualmente que precisa aceitar: o futebol inglês, cheio de emoções de alta intensidade que vêm das arquibancadas, muitas vezes é jogado em meio a uma falta geral de controle, não muito diferente de dois lutadores de boxe peso-pesado que se batem sabendo que alguém vai cair e que, na maioria das vezes, o que tiver mais qualidade prevalecerá."

Em termos de qualidade, é difícil pensar em uma parceria melhor no futebol moderno do que Alvarez e Haaland. Mas o fato de Guardiola parecer decidido a jogar com seus dois atacantes juntos, depois de resistir à tentação durante grande parte da última temporada, é fascinante. Isso ressalta sua constante busca por inovação em uma tentativa de ficar à frente de seus rivais, mesmo que isso signifique implantar uma formação que muitos pensavam pertencer ao passado.

Como Hoddle mencionou, o 4-4-2 há muito tempo é associado ao futebol antigo e à relutância da Inglaterra em acompanhar os tempos. A formação foi até usada como material de sátira no filme de 2001 "Mike Bassett: England Manager". Na cena mais memorável, o antiquado Bassett, depois de ser repreendido pela imprensa por seus métodos antiquados, decide dobrar suas ideias, dizendo a uma coletiva de imprensa atônita: "A Inglaterra jogará com quatro, quatro, dois!" Será que Guardiola, cujo mentor no futebol foi Johan Cruyff, está agora recebendo lições de uma caricatura cômica do futebol inglês?

O esquema 4-4-2 de Guardiola é muito mais avançado do que as edições anteriores implantadas ao longo da história do futebol inglês e seu estilo de jogo nunca pode ser classificado, já que ele está sempre misturando as coisas ao longo de uma temporada e durante as partidas. Mas sua nova tendência de ter dois especialistas na área no mesmo time é o próximo estágio de sua evolução. Será intrigante ver por quanto tempo ele persistirá com isso.