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Ederson TraffordGetty/GOAL

James Trafford vs Ederson: quem deve ser o goleiro titular do Manchester City na temporada 2025/26?

Cole Palmer sabia. Dois anos antes de encarar Donald Trump com um olhar fixo durante a entrega do troféu do Mundial de Clubes do Chelsea, o atacante já havia viralizado por outra reação marcante nos instantes finais de uma grande decisão. Foi no último minuto da final da Eurocopa sub-21, entre Inglaterra e Espanha, quando ele, no banco de reservas ao lado de Emile Smith-Rowe, assistia a James Trafford se preparar para encarar Abel Ruiz na marca do pênalti.

Um gol de falta, desviado por Palmer, havia deixado a Inglaterra muito perto do título. Mas, nos acréscimos, o VAR assinalou um pênalti para a Espanha, dando aos adversários a chance de empatar e levar o jogo para a prorrogação. Palmer, porém, que cresceu ao lado de Trafford na base do Manchester City, parecia ter certeza do que iria acontecer.

"Aposto que ele vai pegar. Fica vendo. Esse é o meu cara, meu irmão", disse Palmer. E, logo depois, viu o goleiro defender a cobrança de Ruiz e, na sequência, bloquear o rebote de Aimar Oroz com os pés. Eufórico, Smith-Rowe correu até Palmer e lembrou:

"Cole! Você disse!"

"Você tem noção do quão bom esse cara é?", respondeu Palmer, repetindo em seguida: "Você sabe o quão bom ele é?"

Naquele momento, no entanto, o City ainda não parecia saber o quão bom Trafford seria. O clube havia acabado de aprovar sua transferência para o Burnley — ou, mais precisamente, ainda não via nele um goleiro pronto para o time principal. Mas, talvez por um pressentimento, fez questão de incluir uma cláusula que daria o direito de igualar qualquer proposta futura pelos Clarets.

Essa cláusula foi acionada recentemente, depois que o Newcastle apresentou uma oferta por Trafford. O City decidiu igualar os valores e trouxe de volta o goleiro que havia deixado o clube em 2023 sem estrear pela equipe principal. Agora, Pep Guardiola tem pela frente outra grande decisão: começar a temporada com Trafford ou seguir apostando em Ederson para a campanha 2025/26.

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  • James Trafford BurnleyGetty

    Padrão de quebra de recordes

    Trafford ingressou na base do Manchester City em 2015, aos 12 anos. Em 2021, começou a buscar espaço no futebol profissional longe de Manchester: primeiro, emprestado ao Accrington Stanley, na League One, e depois ao Bolton Wanderers, na mesma divisão, em janeiro seguinte. O empréstimo com o Bolton foi renovado por mais uma temporada antes de ele dar um salto de duas divisões para assinar com o Burnley, recém-promovido à Premier League sob o comando de Vincent Kompany, ex-capitão do City.

    A estreia de Trafford na Premier League aconteceu justamente contra o City, em uma derrota por 3 a 0 que marcaria o início de uma temporada difícil tanto para o Burnley quanto para o jovem goleiro. No fim da campanha, ele acabou perdendo a posição para Arijanet Muric. O ponto de ruptura para Kompany aconteceu após um passe errado de Trafford contra o Crystal Palace, que resultou na expulsão do companheiro Josh Brownhill. Rebaixado ao fim da temporada, o Burnley viu Muric se transferir para o recém-promovido Ipswich Town, enquanto Trafford permaneceu no clube para disputar o Championship.

    Foi na segunda divisão inglesa que Trafford reconstruiu sua reputação junto aos torcedores dos Clarets e conquistou status de ídolo. Em janeiro, defendeu dois pênaltis em um mesmo jogo contra o Sunderland. No mês seguinte, superou a marca de mil minutos sem sofrer gols. Em março, quebrou um recorde do Championship ao completar 12 partidas consecutivas sem ser vazado. Ao fim da temporada, o Burnley havia sofrido apenas 16 gols — superando o antigo recorde de 20 —, e Trafford esteve em campo em todos os jogos, exceto um.

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  • Ederson Man CityGetty

    Baixa de quinze anos

    Enquanto Trafford brilhava no Burnley, seu antigo clube enfrentava sérios problemas no gol. O Manchester City sofreu 44 gols na Premier League — o maior número dos últimos 15 anos —, e Ederson acabou sendo apontado como um dos principais responsáveis. O goleiro brasileiro chegou a ser afastado por três semanas após uma atuação desastrosa contra o Feyenoord, em novembro, quando foi culpado em todos os gols do surpreendente empate por 3 a 3. No seu retorno, diante da Juventus, voltou a ter uma exibição para esquecer.

    A situação de Ederson era amenizada pelo fato de que seu reserva, Stefan Ortega, também não conseguiu dar segurança. O alemão sofreu 17 gols em uma sequência de 10 partidas na liga, período em que o City venceu apenas três vezes. Em uma dessas rodadas, Guardiola o criticou publicamente após dois gols sofridos nos minutos finais contra o Brentford — tropeço que antecedeu uma goleada por 5 a 0 sofrida para o Arsenal. Para completar, Ortega encerrou a temporada com mais um golpe: foi titular na derrota para o Crystal Palace na final da Copa da Inglaterra, sem ter culpa no único gol do jogo.

    Com a chegada de Trafford, Ortega deve deixar o clube, deixando Ederson como o principal concorrente do jovem inglês pela posição de titular. Ainda assim, o futuro do brasileiro segue em pauta. Desde o verão europeu de 2024, quando recebeu uma oferta milionária da Arábia Saudita, ele manifesta o desejo de sair. Na época, Guardiola conseguiu convencê-lo a ficar, mas as especulações voltaram com o interesse recente de Napoli e Galatasaray. Segundo apuração da GOAL, nenhuma proposta oficial chegou à mesa, e o próprio Ederson, durante o Mundial de Clubes, classificou os rumores sobre sua saída como “fake news”.

  • Ederson GuardiolaGetty

    A situação convém a todos

    As especulações sobre o futuro de Ederson devem continuar enquanto ele entra no último ano de contrato com o City. O goleiro completará 32 anos no dia seguinte à estreia da equipe na temporada, contra o Wolves. Diferente de Ortega, que era um reserva experiente, Ederson agora disputa posição com um concorrente nove anos mais jovem e que está apenas começando a entrar em seu auge.

    De certa forma, o cenário atual pode ser visto como positivo para todos os lados. Ederson deve iniciar a temporada como titular, mas terá Trafford pressionando por seu lugar, pronto para assumir caso o brasileiro acumule erros. Caso clube e jogador não cheguem a um acordo para renovação, Ederson ficará livre para escolher um novo destino ao fim da temporada — momento em que Trafford já estará mais preparado para assumir de vez a camisa 1.

    Trafford, no entanto, não voltou ao City para ficar na reserva, mesmo que por um período de transição. Extremamente confiante, ele acredita que já tem nível para ser titular agora. Em entrevista à ITV, após uma vitória do Burnley sobre o Watford na temporada passada, chegou a afirmar: “Sei que sou de classe mundial”.

    E, nos últimos 12 meses, ele deu motivos para que essa confiança não parecesse exagero. Mesmo atuando em uma divisão inferior, seu desempenho foi, em muitos momentos, muito superior ao de Ederson.

  • Burnley FC v Sunderland AFC - Sky Bet ChampionshipGetty Images Sport

    Poder de defesas

    O impressionante número de jogos sem sofrer gols de Trafford não se explica apenas pela solidez defensiva do Burnley — embora ela tenha ajudado. Na última temporada, ele enfrentou 103 finalizações no alvo e defendeu 85 delas, alcançando um aproveitamento de 85%. Ederson, em comparação, encarou 78 chutes e conseguiu evitar 53 gols (69,2%).

    Trafford também superou o brasileiro em métricas mais avançadas. Um dos indicadores usados pela Opta é o “gols esperados pós-chute menos gols sofridos”, que mostra quantos gols um goleiro efetivamente evita em relação à qualidade dos arremates que enfrenta. Nesse índice, Trafford terminou a temporada com 11,8, contra 5 de Ederson. Os números — mesmo considerando as diferenças de nível entre a Premier League e o Championship — sugerem que o jovem inglês foi um goleiro mais eficiente na defesa de finalizações do que o titular do City.

    Na saída pelo alto, ambos tiveram desempenho semelhante no sucesso ao interceptar cruzamentos. Mas, em um aspecto que ainda é considerado uma das especialidades de Ederson, o brasileiro levou vantagem: fez em média 1,90 ações defensivas fora da área por jogo; já Trafford registrou 1,11 ações.

  • Manchester City FC v AFC Bournemouth - Premier LeagueGetty Images Sport

    Separados na distribuição de jogadas

    Se há um aspecto em que Ederson ainda leva clara vantagem, é na distribuição de bola. Além de saber manter a posse desde a defesa, o brasileiro se destaca pela capacidade de iniciar ataques com lançamentos rápidos e precisos.

    O lendário Peter Schmeichel explicou isso no ano passado:

    "Do jeito que o Manchester City joga, quando eles enfrentam times corajosos que avançam para pressionar, Ederson é letal. Ele tem um passe que pode desmontar uma equipe inteira. Não estou falando necessariamente de um lançamento, mas de um passe pelo meio. Com um único toque, ele ultrapassa quatro ou cinco jogadores. Nunca vi ninguém fazer isso."

    Essa visão se reflete nos números: na última temporada da Premier League, Ederson criou quatro gols diretamente com seus passes, chegando a sete assistências na carreira — um recorde entre goleiros na liga. Nos lançamentos longos, ele teve aproveitamento de 46%. Embora essa tenha sido sua taxa mais baixa desde 2021, ainda é muito superior aos 25,8% alcançados por Trafford.

    Por outro lado, Trafford aposta muito mais nos lançamentos longos do que o brasileiro. Na temporada passada, 27,1% de seus passes foram desse tipo, contra apenas 17,5% de Ederson. Nas reposições de meta, o contraste é ainda maior: 68,7% das cobranças de Trafford foram para frente, enquanto Ederson optou por esse recurso em apenas 23,4% das vezes.

    Nos passes curtos e médios, os dois têm índices quase perfeitos. Ederson acertou 100% das tentativas curtas e 98,3% das intermediárias, enquanto Trafford registrou 99,6% e 98,7%, respectivamente. A grande diferença aparece nos passes longos ou mais: Ederson tem 65,3% de acerto, contra 41,2% do inglês — e em sua única temporada na Premier League, esse número foi ainda menor, apenas 32%.

  • James Trafford BurnleyGetty

    Em ascensão

    Trafford precisará de algum tempo para se readaptar ao estilo de jogo do Manchester City. Embora Vincent Kompany já privilegiasse a posse de bola em seu Burnley, em um modelo bastante parecido com o de Guardiola, o sucessor Scott Parker reduziu essa ênfase na construção paciente. Ainda assim, como Trafford passou toda a sua formação na base do City — onde a filosofia de jogo é ensinada desde a base até o time principal —, a expectativa é de que ele retome rapidamente esses conceitos.

    É improvável que o jovem alcance o mesmo nível técnico de Ederson com a bola nos pés — afinal, o brasileiro é visto como um caso único —, e ninguém espera encontrar um substituto idêntico. Mas cresce entre os torcedores uma frustração com os erros frequentes e as falhas defensivas de Ederson, algo que ficou ainda mais evidente no último Mundial de Clubes: sua má saída de bola resultou em um gol sofrido contra a Juventus, e ele também teve atuação insegura na surpreendente derrota por 4 a 3 para o Al Hilal.

    Na última temporada, a sensação era de que as dificuldades de Ederson para evitar gols estavam pesando mais do que sua habilidade para distribuir a bola. Enquanto isso, Trafford retorna ao clube em que cresceu como uma promessa em ascensão, reconhecido principalmente por sua capacidade de fazer defesas decisivas — especialmente em cobranças de pênalti. Foi essa qualidade que Cole Palmer tinha em mente quando fez, na Geórgia, aquela ousada previsão há dois anos. Agora, Trafford terá a oportunidade de mostrar que seu antigo companheiro estava certo e provar, no mais alto nível, o quanto ele é bom.