Início de um sonho: começo no Barcelona parece tudo o que João Félix queria ter

Trazer Félix do Benfica, em 2019, por 126 milhões de euros (R$ 659,9 milhões, atualmente) fez pouco sentido. Não era um bom acerto, era mais o tipo de meia-atacante que Diego Simeone gostava de jogar contra do que necessariamente ter em seu time. Mas o Atleti estava bem financeiramente, logo depois de vender Griezmann ao Barcelona - o que se tornaria, ironicamente ou não, outro péssimo negócio.

Então, Félix acabou sendo uma 'compra em pânico' por um time que entendia precisar de mais talento no ataque. Claro, o português atraía bastante interesse e o próprio chegou a afirmar que entendia o Wanda Metropolitano como o lugar com "melhores condições para evoluir". Mas, desde o princípio, tratava-se de uma transferência questionável.

E assim foi. Félix registrou 34 gols e 16 assistências ao longo de quatro anos - ele era bom demais para não contribuir -, sem nunca ser um titular absoluto. Em várias oportunidades, foi banco em grandes jogos, levando-o a publicamente mostrar desentendimento com Simeone. Não levar bem críticas fez com que amargasse tempo no banco, enquanto outros jovens fossem ao gramado no seu lugar.

Logo na estreia, já estava claro que não ia dar certo no Chelsea. Contra o Fulham, o português acabou expulso, aos 12 do segundo tempo, sem sequer reclamar com a arbitragem após uma dura entrada no adversário.

E não saiu muito disso. Foram quatro gols e algumas boas performances, mas nada que pudesse elevar o patamar de um péssimo Chelsea. Assim, nem mesmo o Chelsea, que acabara de gastar rios de dinheiro na janela de janeiro, entendeu como uma boa ideia pagar os 100 milhões de euros (R$ 524,5 milhões, hoje) para manter Félix permanentemente.

Mas o que aconteceu em seguida, mudou as coisas: o atacante concedeu entrevista ao jornalista Fabrizio Romano e publicou seu desejo de jogar pelo Barcelona: "Sempre foi minha primeira escolha, eu amaria jogar pelo Barça a partir de agora".

É claro, funcionou. Um enraivado Simeone não poupou críticas ao atleta durante uma entrevista, e ali ficava claro que era uma questão simples do Barça se planejar financeiramente para acertar um empréstimo. Nas últimas horas da janela, foi o que aconteceu.

No mínimo, seria interessante ver, taticamente, como Félix encaixaria no time de Xavi, muito reconhecido por sua ótima defesa - e nem tanto pelo ataque. Faria sentido trazer um jogador criativo para equilibrar as coisas. A lógica é que atuaria no meio de campo, lutando duramente por espaço contra Gavi, Pedri e Gündogan, que sempre pareceram melhores opções.

Ainda assim, os 'rabiscos' de Félix no último terço fazem a diferença. É algo que falta a Lewandowski, que chegou a dizer, na estreia do Espanhol, que "às vezes, não jogamos com atacantes o bastante. Não tenho suporte".

E era isso mesmo. Félix é capaz de se aproximar do polonês, oferecer auxílio a um time que não possui atacantes com hábitos de atuar como atacantes. Seu principal problema é que sua posição, de segundo atacante, está em extinção no futebol europeu. Ele pode atuar aberto ou até como camisa 10, mas sem muita familiaridade.

Crédito, portanto, a Xavi, que encontrou um papel ao português. No domingo, raramente se distanciava de Lewandowski, atuando perto do atacante durante praticamente todo o jogo. Suas combinações lá na frente foram cruciais para o segundo gol da equipe, por exemplo, com passe de Félix para o camisa 9.

Na Champions, a mesma coisa. Félix encontrou novamente Lewandowski correndo pelo corredor esquerdo e tabelando com o centroavante. E isso pode ser apenas um gostinho do que ainda há por vir - é o que Xavi espera, pelo menos.

Talvez, aos 23 anos, enfim Félix possa decolar. Talvez, esse papel diferenciado seja capaz de fazer o português entender seu potencial. Há poucos jogadores tecnicamente melhores que ele. E o Barcelona é o clube que faz habilidade se tornar vídeos compilados no YouTube.

Mas há complicações. O atacante tem ido bem na La Liga, contra defesas mais passivas. Mas e na Champions League? Ou em grandes jogos no Espanhol? Esses são os tipos de confrontos que exigem que o Barça defenda com 11 a fim de evitar muita exposição. O time precisará ser melhor defensivamente, e Félix estará sob os holofotes.

E há também as questões financeiras na Catalunha. O Barça precisou se revirar internamente para acertar parte das contas, tendo gastado muito pouco nesta janela. Ainda assim, é improvável que consigam chegar ao alto pedido do Atlético para acertar definitivamente com o jogador. O clube não quis colocar uma cláusula de compra no contrato, mas há reportagens que as partes já discutem uma compra para o ano que vem. Pode ser que ele não seja um jogador de 100 milhões de euros, mas ainda assim é um brinquedinho muito caro para o Barça.

E esse, afinal, é o grande problema de Xavi. Félix pode exercer impacto para o Blaugrana, ser crucial para manter a coroa na La Liga e, enfim, ir fundo no mata-mata da Champions. Mas, mesmo que tudo isso aconteça, há um temor de que seja apenas uma solução momentânea.

É melhor, então, o Barça aproveitar enquanto tem chance.