A única certeza para o Campeonato Brasileiro de 2024 é a indignação

Parte da realidade em ser um país de dimensões continentais, com grande número de clubes gigantes, é olhar mais para a camisa do que para a própria capacidade de investimento e do elenco. Como dizer às torcidas de alguns dos nossos maiores clubes que o seu time não pode sequer sonhar com o título do Brasileirão?

O dia em que uma torcida deixar de sonhar, deixará de ser torcida... e aí o futebol deixa de ser futebol. Mas um pouquinho de pés no chão não faz mal a ninguém. A medida do sonho não deveria ser igual à medida da frustração, que motiva muitas vezes reações desproporcionais, violentas e até criminosas em algumas ocasiões. É um roteiro que se repete ano após ano, década após década.

Seja em relação ao time que deslizou na briga pelo título ou por uma vaga direta na Libertadores de 2025, seja na tensa batalha contra o rebaixamento, teremos mais torcedores indignados do que felizes. O Brasileirão não é o melhor campeonato de futebol do mundo, mas com certeza é o que deixa mais torcedores de diferentes clubes em estado de revolta.

Outra exclusividade do Brasil é a situação que envolve os jogos de seleções. A paralização dos jogos entre clubes nas Datas Fifa, para amistosos ou Eliminatórias, é uma grande mentira, uma vez que as partidas do futebol brasileiro acontecem apenas poucos dias depois – às vezes poucas horas! -- da bateria de compromissos dos países.

Jogadores convocados retornam de suas seleções com enorme desgaste, após voos fretados e poucas horas de sono, já tendo que entrar em campo em alguma tarde/noite de Brasileirão. Vendo eventualmente seu time ser prejudicado com esta realidade, impossível não dar razão ao torcedor que se sente prejudicado. Uma convocação, que tradicionalmente sempre foi visto como motivo de orgulho, agora não deixa de ser também um temor.

Em 2024, a novidade é que os jogos do Brasileirão não serão paralisados durante a Copa América que será realizada nos Estados Unidos. Ou seja, no período de pouco mais de um mês, entre junho e julho, um time pode jogar algumas partidas bastante desfalcado. Estamos falando, eventualmente, de Palmeiras sem Gustavo Gómez, Flamengo sem os seus uruguaios e muito mais.

Mas a grande certeza é da indignação fruto dos enormes e constantes erros de arbitragem que acontecem no Brasileirão -- mais pela ausência de um critério unificado do que qualquer outra coisa, ao menos dentro do que é publicamente sabido. O prejudicado daqui será o beneficiado dali, em um ciclo vicioso que faz profissionais da bola e dirigentes destilarem acusações.

Em 2023, o auxiliar-técnico do Palmeiras, João Martins, afirmou em entrevista que havia um “sistema” trabalhando para impedir os alviverdes de serem campeões. Suas palavras foram validadas pela presidente Leila Pereira. John Textor, dono da SAF do Botafogo, vem insistindo até hoje que o futebol brasileiro está mergulhado em corrupção e afirmou ter provas de jogos manipulados – documentos que ainda não foram exibidos, se é que existem de fato.

O Brasileirão é uma delícia, claro, mas também é bom se preparar para a avalanche de motivos para ficar indignado: só um time será campeão, a maior parte dos outros gigantes vai ficar pelo caminho, seja por incapacidade própria, erros de arbitragem, desfalques por causa de jogos de seleções ou sei lá o que. Dirigentes e treinadores vão gritar e acusar, mas conseguirão provar? Que venha mais um Campeonato Brasileiro, com sua imprevisibilidade e os seus intermináveis dias da marmota.