Ilkay Gundogan é ótimo - mas não é dele que o Barcelona precisa para a temporada

Há muitas coisas boas sobre Gundogan, e qualquer equipe gostaria de tê-lo, independente de sua exata função em campo. E aos quase 33 anos, o jogador precisa ter a consciência e admitir que não poderá ser titular regular no Barça - pelo menos não com os jovens Gavi e Pedri dominando o meio de campo.

Mas o problema é que o clube espanhol está enfrentando grandes problemas financeiros mais uma vez. O presidente da La Liga, Javier Tebas, que não é exatamente conhecido por sua habilidade de se unir ao Barcelona, deixou claro que a equipe precisa reduzir quase €200 milhões (cerca de R$ 1 bilhão) antes mesmo de pensar em contratar novos jogadores.

E eles estão lidando com isso de várias maneiras. Alguns jogadores serão negociados, outros tiveram seus contratos renegociados. Até mesmo se livraram da própria emissora de TV interna para reduzir €8 milhões (R$ 41 milhões).

Se eles conseguirem atingir a quantia necessária, isso não significa que os gastos podem ser ilimitados. Depois de resolverem os novos acordos, o Barcelona irá atrás de novos jogadores, incluindo o caro Martin Zubimendi para preencher uma posição muito necessária no meio-campo defensivo. Eles também precisam de um novo lateral-direito e até mesmo de um reserva para a posição de centroavante. O adolescente brasileiro Vitor Roque parece estar a caminho por €35 milhões (R$ 182 milhões), com mais €10 milhões (R$ 52 milhões) em acréscimos. Todos esses são investimentos altos para um clube que aparentemente não tem muito dinheiro para gastar, ainda mais na posição de Gundogan, tendo atletas qualificados para ocupar a mesma.

O meio-campista, para ser justo, construiu sua carreira com base em sua versatilidade. Há várias razões pelas quais funcionou tão bem para o time de Pep Guardiola, sua habilidade de fazer um pouco de tudo é uma delas. Mas, ironicamente, para o Barcelona a posição mais fraca de Gundogan no meio-campo é aquela em que mais precisam de ajuda.

Sergio Busquets anunciou sua intenção de deixar o clube ao final da temporada, deixando o Barça com um vazio a ser preenchido na base do meio-campo. Frenkie de Jong poderia operar na posição, mas uma presença defensiava seja a chave para essa equipe. Não sendo uma especialidade de Gundogan.

Na derrota do Manchester City para o Chelsea na final da Champions League de 2021, a equipe de Thomas Tuchel foi excelente no dia, com o treinador alemão elaborando um excelente plano tático para anular o ataque do City. Mas foi um erro tático que condenou o City naquele dia, quando Guardiola escalou Gundogan como um único número 6, atuando na base de um meio-campo com três jogadores sem Rodri ao seu lado.

Isso se mostrou uma decisão custosa. Aos 42 minutos em Porto, Mason Mount passou a bola por um grande espaço onde Gundogan deveria estar protegendo. Kai Havertz avançou em direção ao gol e sacramentou a vitória.

A credibilidade de Gundogan como número 6 não deve ser arruinada por apenas um jogo. Ele foi confiado com esse tipo de função ao longo de sua carreira no City e teve ótimas atuações em vitórias importantes. Mas este não é um jogador que deve jogar na posição todas as semanas - literalmente o que o Barcelona precisa. Portanto, a adaptação é imperfeita e sem lógica.

Isso é um pouco lamentável, principalmente porque Gundogan é um excelente jogador de futebol. Mas, em certo sentido, o Barcelona já o tem. O clube tem buscado de forma desesperada um meio-campista criativo há algum tempo, especialmente porque Robert Lewandowski viu seus gols diminuírem na segunda metade da temporada. Isso foi relacionado às lesões de Pedri e Ousmane Dembele, as duas maiores forças criativas do Barcelona. É uma conclusão um tanto injusta, dado o fato que Lewandowski não conseguia colocar a bola na rede em determinados momentos.

Mas há também, uma dose de verdade sob o fato de que o time precisa de mais criatividade no meio do campo, e de um jogador que possa fazer o passe final. No entanto, Gundogan não é necessariamente esse jogador. Assim como muitos no sistema do City, ele é aquele que faz o passe antes da assistência. Ele joga as bolas diagonais para os jogadores laterais ou abertos, deslocando o jogo para as áreas certas. De forma mais precisa, encontrando espaços onde o City cria as maiores oportunidades.

Embora ele possa desmontar um bloqueio defensivo baixo ou passar a bola por um aglomerado impossível de jogadores, seria um equívoco pedir a ele que faça isso sozinho. Na verdade, nesse time do Barça, funcionaria de maneira semelhante ao Pedri. E por melhor que Gundogan seja, o jovem astro espanhol do Barcelona precisa estar em campo.

As estratégias de transferências do Barcelona são difíceis de prever, mas se os relatos forem verdadeiros, o clube de fato deseja um número 6. Eles já perderam Lionel Messi, que comprometeu seu futuro com o Inter Miami. O argentino não se encaixava desta vez, e ambos talvez tenham evitado uma crise iminente.

Em seu lugar, faz sentido a busca pelo meio de campo defensivo. Embora Ruben Neves tenha rejeitado qualquer interesse em favor de uma mudança para a Saudi Pro League, nomes como Zubimendi e Sofyan Amrabat têm sido mencionados como substitutos.

Há prioridades em outros setores também. Jules Kounde, embora excelente na defesa, tem sido imperfeito no apoio ofensivo como lateral-direito. Ele sempre aparantou ser uma adaptação tática complicada, pois, embora sua distribuição esteja cada vez melhor, ele não tem o instinto de ataque nem o cruzamento final de um lateral avançado que o Barcelona espera ter. Vários nomes surgiram como possíveis opções de cobertura ou mesmo opções mais permanentes nessa posição.

Se o dinheiro estiver apertado - e está - Gundogan é um luxo que o Barcelona não pode se dar.

Ainda assim, era algo que iria acontecer. O presidente do Barcelona, Joan Laporta, entrou em guerra com a La Liga nos últimos seis meses, prometendo um grande verão para os fãs e jogadores. E até agora, as coisas parecem ter dado certo. O Barça venceu a liga, enquanto federação teria cedido terreno em seu "plano de viabilidade" para liberar espaço para transferências - embora esse plano tenha sido elaborado com Messi em mente.

Mas Laporta não é o tipo de pessoa que pretende parar por aí. E como mostrou no verão passado com uma série de contratações, não terá problema gastar mais dinheiro. Embora Gundogan não exija um pagamento direto ao Manchester City, essa ainda não é uma contratação barata. Haverão taxas e um contrato alto.

Como jogador de elenco, Gundogan é uma excelente adição. O fato de ele ter jogado sob o comando de Guardiola por sete anos também é interessante. Afinal, o Barcelona se apega ao conceito imaterial de DNA do clube como poucas outras equipes no mundo. Infelizmente, isso não faz de cada jogador um discípulo do famoso treinador.

Mas o sucesso do Barcelona deve ser estendido para um conceito de longo prazo. Eles são uma equipe jovem, com um núcleo empolgante. Veteranos caros em posições erradas não são necessários - especialmente quando eles já podem estar procurando atrás do sofá para juntar as moedas para um meio-campista defensivo de alto valor.

O clube catalão não vai se arrepender de Gundogan imediatamente, desde que Xavi o utilize corretamente a curto prazo. Mas sua adaptação imperfeita pode se tornar um problema de longo prazo, especialmente para um clube consistentemente prejudicado por problemas financeiros.