As brigas e acusações entre John Textor e Leila Pereira em meio a emocionantes Botafogo x Palmeiras

Tudo começou antes mesmo do histórico 3x4 no Brasileirão de 2023. John Textor já vinha bastante insatisfeito com as arbitragens daquele campeonato nos jogos do então líder da competição.

“Estamos animados para o jogo (contra o Palmeiras). Os times estão jogando bem. Estão acontecendo algumas coisas bizarras pelo caminho, as pessoas falam como se fossem fatos isolados, mas sabemos que coisas estranhas estão acontecendo”, afirmou para a ESPN horas antes do apito inicial.

Após o término daquela partida, com uma virada histórica do Palmeiras, Textor entrou em campo e bradou contra a arbitragem, por causa da expulsão do zagueiro Adryelson antes da virada alviverde tomar forma. A menção ao Palmeiras, contudo, não foi acusatória naquele momento.

“O mundo todo viu, isso não é cartão vermelho. Ele (Adryelson) pegou a bola primeiro. Não tenho certeza nem se foi falta. Mas não é cartão vermelho, ele mudou o jogo. Isso é corrupção, isso é roubo. Por favor, me multa, Ednaldo, mas você precisa renunciar amanhã de manhã. É isso que precisa acontecer. Esse campeonato se tornou uma piada. Ninguém merece isso, esses jogadores do Palmeiras não querem ganhar desse jeito, nós não queremos perder desse jeito. São cinco jogos seguidos. Senhores, vocês jogaram um bom jogo, não é culpa de vocês, mas isso é corrupção”, afirmou Textor logo depois do 4 a 3.

Até então, a única reação extracampo às palavras de Textor veio através de um processo que o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, começou a mover contra o dirigente. A trocação de farpas com Leila aconteceu a partir da segunda semana de dezembro de 2023.

Em 6 de dezembro, Textor voltou. O Botafogo divulgou nota pedindo providências no STJD e ameaçando entrar na Justiça comum pelos rumos tomados naquele Brasileirão. Através de Textor, o clube entregou pela primeira vez o relatório feito pela Good Game!, mas a entidade deu de ombros. Naquele momento, a postura do Palmeiras era a de não ligar muito, de achar que o dono da SAF alvinegra estava “jogando para a torcida” apenas.

Dias após a entrega do relatório por John Textor, em entrevista Leila chamou o norte-americano de “desequilibrado”. Foi o start para a situação ficar, digamos, pessoal.

“Me causa estranheza porque eu acho que o proprietário está desequilibrado. O Botafogo liderando por tanto tempo o campeonato, dá todo esse problema, a turbulência e perder esse campeonato acho que o Textor ficou desequilibrado (...) Chega até a ser ridículo. Ele desprestigia, desvaloriza esse produto tão importante que é o futebol. Ele deveria ter mais serenidade. É uma parte de desequilíbrio do senhor John Textor.”, afirmou.

A resposta de Textor evitou ataques pessoais, mas lembrou das vezes em que o Palmeiras jogou aquele Brasileirão tendo vantagem numérica sobre adversários. Na mesma mensagem, contudo, o norte-americano afirmou que os alviverdes são costumeiramente “protegidos” pela arbitragem.

“Eu entendo que a Srª Pereira (Leila) ficaria chateada com nosso arquivamento com o judiciário. Ataques pessoais, porém, não ajudam ninguém, então eu não vou repetir essa ação (...) Eu nunca sugeri que ela, pessoalmente, é responsável pelas curiosas ações e forças externas que apoiam o sucesso da equipe dela”.

“Ironicamente, assim como ela sugere que eu sou um cara "desequilibrado’ por causa do estudo (o relatório da empresa Good Game!), eu queria lembrá-la que estamos buscando algo equilibrado para o benefício de todos os clubes, e benefício de todo o Brasil”.

“No tópico de equilíbrio, é preciso observar que o time dela vive em um mundo em que jogar 11 contra 10 representa equilíbrio. O Palmeiras se beneficiou da vantagem de 11 contra 10 onze vezes durante a temporada 2023, um ano que as equipes tiveram a média deste benefício em 3. Botafogo, que nesse ano teve agressiva competição (encarando também documentadas violentas ações) não se beneficiou disso em nenhum momento. A estatística, claro, não faz menção aos três cartões vermelhos óbvios que o Palmeiras deveria ter levado, no mínimo, assim como há documentações independentes na mão do STJD. É sabido que outros clubes se sentem da mesma forma, o Palmeiras se aproveita de proteção da arbitragem”.

Com a virada do ano, a impressão era de que as rusgas ficariam no passado. Quando o Palmeiras tentou a contratação do atacante Júnior Santos, do Botafogo, Textor chegou a ironizar, mas nada que viesse a se comparar com o que estava por vir.

Em março de 2024, John Textor voltou às manchetes ao falar sobre as arbitragens no Brasil. Afirmou ter provas de corrupção na arbitragem brasileira – na acusação que motivou o início da CPI sobre o tema, em Brasília. A respeito do Palmeiras, o norte-americano afirmou que os alviverdes não teriam participação direta, institucionalmente, no problema, mas que o clube estaria inserido no que seriam, segundo sua acusação, “jogos corrompidos”, citando a goleada de 4 a 0 sobre o Fortaleza pelo Brasileirão de 2022.

Os ataques principais, contudo, seguiram direcionados ao presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues.

“Pode me multar, Ednaldo, mas você precisa renunciar amanhã de manhã. Este campeonato virou uma piada. Ninguém merece isso. Os jogadores do Palmeiras não querem ganhar assim, nós não queremos perder assim. Senhores, vocês jogaram um belo jogo, mas isso é uma p... de uma corrupção. Isso tem que mudar. E você precisa renunciar pelo bem do jogo”.

Logo após Textor fazer a sua grande acusação, o Palmeiras emitiu nota dizendo que iria acionar Textor judicialmente pelas suas acusações de corrupção no futebol brasileiro.

“A Sociedade Esportiva Palmeiras informa que tomará todas as medidas legais cabíveis contra o dono da SAF do Botafogo, John Textor, para que ele responda pelas declarações irresponsáveis e levianas que, recorrentemente, têm envolvido o nome do atual bicampeão brasileiro”, diz trecho da nota publicada em 11 de março.

Como Textor não acusou o Palmeiras de manipulação, o norte-americano optou por ignorar a nota do clube alviverde. Mas a história não acabaria por ali.

No início de abril, John Textor disse, em live no Canal do Medeiros, que tinha “provas pesadas, 100% confirmadas de que o Palmeiras vem sendo beneficiado por manipulação de resultados por pelo menos duas temporadas”, tais provas, contudo, não foram apresentadas publicamente pelo dirigente. E se foram, no máximo seriam mais indícios baseados nos relatórios da Good Game! que tinha em mãos.

O clube paulista rebateu em nota oficial: “O Palmeiras vem adotando todas as medidas jurídicas cabíveis contra o dono da SAF do Botafogo, John Textor, e não pretende se manifestar novamente sobre a bizarra tentativa do caricato cartola de justificar a perda do título brasileiro de 2023. Confiamos que as autoridades competentes tomarão as providências necessárias com a urgência que o tema exige”, respondeu o Alviverde, que também entrou com representação no STJD contra o norte-americano.

Dizendo que sua batalha principal era contra o STJD e a CBF, John Textor tentou um discurso apaziguador ainda em abril, mas sem deixar de manter o tom em relação às acusações que disse ter em mãos.

“Não fiz nenhuma acusação contra Palmeiras ou São Paulo. O que fiz foi entregar evidências de manipulação de jogadores envolvidos em manipulação de jogos. Não sei quem fez essas pessoas se envolverem nisso. Não sei se é alguém é particular, não é meu trabalho (...) Leila, abaixe suas armas, você não conhece as evidências que eu entreguei. Julio [Casares], do São Paulo… Cara, você é meu amigo. Não pude falar com você ainda sobre isso por causa da natureza das evidências que eu tenho”.

Dias após o “Leila, abaixe suas armas” a dirigente palmeirense fez o contrário e subiu o tom contra o norte-americano: “O John Textor hoje é a grande vergonha do futebol brasileiro. É uma irresponsabilidade ímpar uma pessoa ficar fomentando mentiras (...) Esse senhor é um fanfarrão. Se não for comprovado, ele tem que ser punido de forma exemplar. Esse homem deveria ser banido do futebol brasileiro. Fala tanto de inteligência artificial, deveria dar menos valor à inteligência artificial e mais à inteligência emocional, que ele não tem absolutamente nenhuma. Quem tem que tomar providências agora são as autoridades”, disse.

No meio do mês de abril, enquanto Leila Pereira fazia o papel de chefe de delegação da seleção brasileira, em amistosos na Inglaterra e na Espanha, situação na qual apareceu ao lado do presidente da CBF assinando documento de acordo com o ICSS (Centro Internacional de Segurança Esportiva) no combate à manipulação de resultados e fraudes no futebol, Textor voltou a alfinetar a dirigente.

“Obviamente não estou feliz com a situação do Palmeiras. Leila diz que não há manipulação de resultado, mas celebra o papel na comissão para investigar manipulação de resultados. O gringo é suspenso e a Leila ganha um aperto de mão do presidente da CBF no estádio de Wembley. Eu ainda não encontrei com o presidente da CBF em dois anos que estou aqui”, afirmou Textor para o GE.

Depois que Textor prestou depoimento na CPI criada para investigar acusações de corrupção no futebol brasileiro, Leila Pereira voltou a atacar publicamente o dono da SAF do Botafogo.

"Não adianta você ficar pensando o que se passa na cabeça dele, eu sei o que se passa na cabeça dele. Esse senhor, desculpa a expressão, é um idiota. O que esse John Textor está achando é que o Brasil é uma bagunça, que as autoridades não tomam providência nenhuma. Para coibir isso, esse homem tem que ser banido do futebol brasileiro", afirmou em participação no programa Roda Viva.

Em resposta feita através da Botafogo TV, Textor respondeu o seguinte após ter sido chamado de “idiota”: “Ela diz que sou louco que não produzi provas. Isso é mentira. Ela está mentindo. É desinformação. Sempre que ela entra no ar e diz ‘ele faz essas alegações sem provas’, ela mente intencionalmente. Ela sabe exatamente o que fiz no STJD. Ela coloca uma tremenda pressão sobre eles. Não sei dizer por que ela é tão contrária a isso”.

“Há outros clubes que podem estar envolvidos em manipulação de resultados, e os presidentes responderam de uma maneira completamente diferente. Eles disseram ‘se algum dos meus jogadores fez algo errado, se aconteceu algo com o adversário onde eles fizeram algo errado, eu quero saber. E, John, eu estou com você’. Eu estou recebendo esse apoio silencioso de outros presidentes de clube que estão em situação semelhante à dela. Eu acho que minha mensagem para ela seria: ‘Se você não é culpada, pare de agir como culpada. Porque você certamente não está agindo como alguém que quer chegar à verdade’”, disse. Textor também iniciou um processo contra a dirigente, por “difamação” e danos morais. Leila, contudo, afirmou não ter sido notificada.

Durante sua participação na CPI da Manipulação de Jogos, a presidente do Palmeiras voltou a citar nominalmente o dono da SAF botafoguense: “A gente não pode deixar que uma pessoa sente aqui e fala para o mundo que há manipulação sem absolutamente nada. Inclusive, eu vi na imprensa que ele entrou com um processo contra mim e não fui citada ainda. Não é processo que vai fazer eu deixar de pensar o que eu penso dele. Ele é um grande mal. As atitudes dele são um grande mal para o futebol brasileiro”, disse.

Após Hulk, do Atlético-MG, ser expulso de forma polêmica em duelo contra o Palmeiras, pelo Brasileirão 2024, Textor não deixou de ironizar o lance em seu Instagram: “Dois cartões vermelhos em nove jogos; você precisa acelerar o ritmo para acompanhar o ano passado”, escreveu.

Em julho de 2024, o STJD julgou as provas entregues por Textor como “imprestáveis” e concluiu que as ações do dirigente configuram ilícitos desportivos contra a honra de sete entidades desportivas, nove atletas e nove árbitros. Ao comentar a decisão do STJD, Leila disse o seguinte: “O relatório reforça o que temos falado nos últimos meses sobre o sr. John Textor. Trata-se de um irresponsável que precisa ser punido exemplarmente pelos crimes que tem cometido contra pessoas, clubes e entidades”.

Textor, contudo, lembrou que o relatório foi escrito por um procurador, Mauro Marcelo, conhecido por comemorar os feitos do Palmeiras em suas redes sociais, posando em fotos ao lado do ônibus do time e do técnico Abel Ferreira, além de ter utilizado de palavras de baixo calão contra torcedores do Botafogo através de seu Instagram pessoal.

“Auditor ou perseguidor? Mauro Marcelo parece que vive intensamente a paixão pelo Palmeiras”, escreveu Textor, mostrando as fotos do relator em momentos de maior carinho com o clube palestrino.

“Sérias perguntas devem ser feitas sobre o Auditor do STJD, Sr. Mauro Marcelo de Lima e Silva, que parece estar agindo de acordo com a agenda de outra pessoa. Além das penalidades desproporcionais recentemente sugeridas em seu relatório, fico consternado pelo fato de que a minha procura, de boa-fé, pela elucidação de fatos e elementos de manipulações de partidas tenham motivado acusações graves contra mim”, também afirmou.

Em meio a toda esta guerra de acusações mútuas, John Textor contratou o advogado Paul Tuchmann para processar Leila nos Estados Unidos. Tuchman atuou diretamente no Fifagate, a maior investigação sobre corrupção da história do futebol e que resultou na prisão de diversos dirigentes, inclusive um ex-presidente da CBF, José Maria Marin.

“Ela cruzou a linha. Eu vou atrás dela. Eu contratei Paul Tuchmann, que teve papel determinante na queda de dirigentes da Fifa. Ele agora está no setor privado, é advogado. Eu vou olhar de forma responsável o que pode ser feito. Estou obviamente sendo atacado”, afirmou Textor ao GE.

Antes do encontro entre os times em duelo pelo Campeonato Brasileiro, Leila Pereira anunciou que não iria comparecer ao Estádio Nilton Santos. A sua decisão gerou repercussões emocionadas e ajudou a apimentar o duelo, vencido por 1 a 0 pelo Botafogo.

Antes daquele jogo, bonecos alusivos a Leila e a Ednaldo Rodrigues, presidentes da CBF, foram vistos pendurados em uma avenida do Rio de Janeiro. Foi onde Textor desenhou a linha vermelha e afirmou que aquilo ali não representava a torcida do Botafogo. Textor pediu desculpas pessoais a Leila e a Ednaldo, e o Botafogo emitiu nota de repúdio condenando o episódio.

Antes do encontro pelo jogo de ida das oitavas de final da Libertadores, Leila também não foi ao Nilton Santos. A presidente quer evitar um encontro com John Textor. Uma história repleta de episódios e frases, e que infelizmente parece estar muito longe de um final.